Bônus Demográfico (2)

Daquela época até hoje, alguns indicadores ficaram mais consolidados e as divergências de interpretação por parte dos especialistas em demografia acabaram por se reduzir e se tornaram mais convergentes. Ao mesmo tempo, algumas tendências do mercado imobiliário nacional resultaram mais nítidas e perceptíveis.

Rubens Menin

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Publicidade

Sob esse mesmo título, em agosto do ano passado, abordei neste blog a relação entre o fenômeno demográfico e a demanda nacional por construção de novas moradias. Daquela época até hoje, alguns indicadores ficaram mais consolidados e as divergências de interpretação por parte dos especialistas em demografia acabaram por se reduzir e se tornaram mais convergentes. Ao mesmo tempo, algumas tendências do mercado imobiliário nacional resultaram mais nítidas e perceptíveis.

Com a queda de fecundidade da população brasileira, que já se situa no patamar de 1,9 filho por mulher, aceleramos o processo usualmente denominado de “bônus demográfico”, que descreve a situação em que a população economicamente ativa, ou seja, aquela em idade de trabalhar e produzir, fica muito superior ao número de dependentes (crianças, idosos, incapazes e mulheres excluídas do mercado formal de trabalho). Mantidas as tendências atuais, a nossa população total não ultrapassará 220 milhões de pessoas, máximo que será alcançado por volta do ano de 2038, e a partir do qual iniciaremos uma fase de persistente redução no número de habitantes, até voltarmos a contar, ao final do século, com cerca de 175 milhões de brasileiros. Nessas circunstâncias, o prêmio do “bônus demográfico” estará terminado por volta do ano de 2030, já que, a partir de então, o número de idosos, incapazes e outros excluídos do mercado de trabalho, além da fração reduzida de jovens, passará a superar, novamente, o da população economicamente ativa.
Até lá, ou seja, até 2030, o número de famílias brasileiras aumentará em mais de 35 milhões, alcançando o máximo de 95,5 milhões de unidades familiares. A cada ano, um grande contingente de jovens passará a formar novas famílias e demandará moradias na mesma proporção. Grosso modo, considerando as sucessões no aproveitamento do mesmo domicílio, as substituições por obsolescência e outros fenômenos intervenientes, podemos considerar a existência de novas demandas no período como algo que crescerá de 1,5 milhão até 2,1 milhões de moradias por ano. Parte desse avantajado número, não atendida pelas novas moradias construídas anualmente no país, irá se somar ao nosso escandaloso déficit habitacional, estimado em 7,9 milhões de moradias, segundo o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Só para situar o tamanho desse desafio, vale registrar que o volume total de construção de moradias em todo o país não vem conseguindo superar a marca de 500 mil unidades nos anos mais favoráveis. Ainda em termos simplificados: se nada mudar, estaremos condenando, a cada ano, até 2030, de um milhão a um milhão e meio de famílias a engrossarem o contingente das favelas e outras formas de sub-habitação.
 
Aqueles que vêm acompanhando as publicações deste blog conhecem a minha opinião sobre a existência de capacidade nacional mobilizável para atender uma demanda anual da ordem de 1,5 milhão de novas moradias, que poderia ser alcançada em prazo não muito longo. Desde que, evidentemente, isso viesse a ser convertido num esforço nacional explícito, para que pudessem ser removidos os empecilhos atuais, incluindo a infernal burocracia que faz com que a aprovação de novos empreendimentos imobiliários ultrapasse três anos de penosos e repetidos procedimentos administrativos. 

Tópicos relacionados