Em carta polêmica, Empiricus oficializa vota em Aécio – e explica o por quê

Decisão não é exatamente uma novidade em meio a alguns imbróglios que e a casa e o PT estiveram desde julho, mas decisão foi inédita entre casas de análise
Por  Lara Rizério
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SÃO PAULO – Pelo movimento dos mercados em meio às pesquisas de intenção de voto, pode-se perceber que há uma certa preferência por uma candidatura à presidência em relação à outra. Isso se dá em meio às expectativas frente à política econômica em um eventual governo Aécio Neves (PSDB) e em uma possível maior intervenção nas empresas e políticas mais frouxas em caso de reeleição de Dilma Rousseff (PT). 

Entre os diversos bancos e casas de análise que fazem a cabeça do mercado financeiro, não há quem divulgue explicitamente o apoio a um outro candidato. Isto mudou nesta quinta-feira quando, em editorial enviado para clientes, a casa de research independente Empiricus se posicionou explicitamente sobre quem eles irão votar neste segundo turno: Aécio Neves.

Não é necessariamente uma novidade já que, neste ano, a Empiricus e o PT protagonizaram uma disputa. No final de julho, o PT fez um pedido para a Justiça Eleitoral pedindo que o Google retirasse do ar todas as peças publicitárias da empresa de análise de ações “Empiricus Research”, que, segundo o PT, faziam “terrorismo econômico”.

A campanha de Dilma também fez representação contra Aécio Neves e pedia aplicação de multa ao tucano, sua coligação e à Empiricus no valor de R$ 30 mil. Além disso, o PT manifestou-se contra a divulgação do “O Fim do Brasil”, teoria feita pelo sócio-fundador da casa Felipe Miranda.

Em carta, o próprio sócio-fundador destacou porque vai votar em Aécio. “Votaremos em Aécio Neves. Dadas as críticas públicas já proferidas contra o atual governo, talvez não seja novidade. Não importa. Dadas as circunstâncias, a formalização nos parece necessária”, iniciou o seu texto. 

Os motivos
Ele fundamentou a escolha em dois elementos, de raízes distintas: “a primeira, muito menos relevante, ligada a uma espécie de dever fiduciário; a segunda, cívica”.

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Pelo primeiro motivo, a Empiricus destacou que é “uma consultoria de investimentos, cujo foco das recomendações está em ativos brasileiros”, afirmando que um aumento de chances de eleição de Dilma está se traduzindo em perda de valor para os ativos brasileiros e vice-versa. 

“De forma óbvia, a maior parte de nossos clientes detém fatia relevante (em muitas vezes, a totalidade) de seu patrimônio em ativos domésticos. Portanto, se é da obrigação de uma firma qualquer atuar no interesse de seus clientes, a Empiricus precisa manifestar-se em favor daquele candidato capaz de valorizar os investimentos no Brasil. Essa é a retribuição mínima que temos com nossos assinantes”.

Porém, Miranda afirmou que se trata de “algo secundário”. O segundo motivo, mais importante segundo eles, é achar que a candidatura de Aécio Neves “seria capaz de conferir um futuro melhor ao País, na comparação com o prognóstico oferecido pela recandidatura da atual presidente”.

O sócio-fundador da Empiricus afirma que isso se dá pela interpretação de que a nova matriz econômica. A nova matriz econômica foi um nome dado à série de medidas adotadas em resposta à crise de 2008 e é baseada em medidas como aumento dos gastos públicos, maior intervenção estatal da economia, menor preocupação com o combate à inflação, aumento da participação do BNDES [Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social], controle de preços, entre tantos outros. Para Miranda, estas medidas representam uma “inadequação à política econômica brasileira”.

Miranda ressalta que a ortodoxia foi abandonada, “com o clássico tripé macroeconômico sendo vilipendiado em prol da tal nova matriz. As medidas heterodoxas têm suas consequências devidamente catalogadas: desemprego e inflação, com direito a risco de crise cambial”.

E, para ele, os preceitos da economia têm que ser eficiência, equidade e liberdade, o que não ocorreria no governo Dilma e foi contestado por cada um deles.

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A Empiricus contesta o crescimento econômico no governo Dilma, o segundo pior resultado de toda a República, à frente apenas do percentual obtido por Floriano Peixoto, de 1891 a 1894, com o “País basicamente em guerra. O discurso oficial é que o baixo crescimento decorre dos efeitos da crise internacional. Mentira. A desonestidade intelectual tem sido marca da administração Dilma – e essa afirmação é exemplo canônico”, destacou.

Para eles, há algum efeito dos problemas externos, mas a desaceleração brasileira é a principal culpada. “Em reforço, nos governos FHC e Lula, o crescimento econômico brasileiro fora semelhante ao da América Latina. Agora, estamos cerca de dois pontos percentuais abaixo”.

Raízes ideológicas
A Empiricus também critica o cerceamento da liberdade de expressão: “aqui, citamos três movimentações fortes no sentido de calar vozes dissonantes: i) a publicação no site oficial do PT de uma lista negra de jornalistas a serem perseguidos; ii) o pedido de demissão de funcionária do Santander que relacionou queda dos ativos brasileiros ao eventual ganho de espaço de Dilma Rousseff nas pesquisas; e iii) a acusação à Empiricus de fazermos terrorismo eleitoral, com direito a reclamação – negada por um placar bastante eloquente de 5 x 2 – sobre nossas campanhas no Google”, ressaltou.

Além disso, a consultoria destaca que uma das bandeiras do governo, o aumento da igualdade, arrefeceu. “Estudos mais recentes indicam que, depois de 10 anos consecutivos em queda, a desigualdade de renda no Brasil parou de cair de forma estatisticamente significativa em 2012″.

“O importante aqui é mencionar que a melhora na distribuição de renda não é exclusividade do PT. Ela começa no Governo Fernando Henrique, conforme supracitado. Os gastos sociais aumentam sistematicamente como proporção do PIB desde FHC, sem pestanejar. Mais do que isso, o maior programa social já feito na história deste país se chama Plano Real – registre-se: rejeitado, à época, pelo Partido dos Trabalhadores”.

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Por fim, Miranda também cita a raiz ideológica, também dividido em dois subpontos: a crença de que “um pouquinho de inflação tudo bem pois gera mais emprego”, a visão de que o Estado é melhor do que o mercado para resolver os problemas da Economia, desafiando o Primeiro Teorema do Bem-estar da Microeconomia. “Sem um bom diagnóstico, distorcido por uma ideologia atrasada, não há como haver um bom prognóstico”, afirma.

“Assim, depois de tantas ameaças e tentativas de censura, declaramos nosso único, e exclusivo, vínculo com a candidatura de Aécio Neves: o voto”, conclui.

Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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