“Guerra das maquininhas” cobra preço alto e ações da Cielo não param de cair

Analistas estão revisando suas projeções para a Cielo para baixo - e não veem alívio no curto prazo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Com mais uma batalha da “guerra das maquininhas” deflagrada e novas sinalizações sobre os próximos passos da disputa sangrenta no setor, as ações da Cielo (CIEL3) sentem o baque e registram mais um dia de baixa após ter registrado a pior semana desde o IPO (Initial Public Offering), em 2009. Assim, em cinco pregões, os ativos registram expressiva baixa de 23%. 

Se antes ela era vista como um porto seguro na Bolsa e dominava o mercado de poucos players com relativa facilidade, a chegada de novos entrantes fez com que ela revisse a sua estratégia – e os analistas passassem, consequentemente, a mudar a sua visão. 

Com a chegada de Paulo Caffarelli na presidência da credenciadora, a estratégia da Cielo de disputar o mercado com as novas concorrentes “custando o que custar” no curto prazo ganhou ainda mais força. Ao mesmo tempo, ganhou ímpeto as revisões feitas pelo mercado com relação aos números da companhia. 

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No começo da semana, ganhou destaque um relatório do Bradesco BBI apontando que, mesmo não sendo novidade o recuo nos yields de receita, pela primeira vez a Cielo atribuiu a questão principalmente aos menores preços (resultado de maior competição), de forma a manter-se líder em todos os segmentos. E a própria companhia deixou claro: isso se intensificará nos próximos trimestres. 

Com a pressão sobre a receita e o menor spread de pré-pagamentos, que já está em tendência acelerada de recuo, que devem ser os maiores impactos negativos para o resultado, o lucro da empresa deve cair cerca de 13% em 2019, aponta o Bradesco BBI, versus estimativa anterior de estabilidade. 

“Esperamos que haja uma recuperação do resultado apenas no quarto trimestre de 2019 por melhores comparações (já que a joint venture Cateno já estará totalmente impactada por menores taxas de cartões de débito) e melhores volumes de pré-pagamento”, afirmam os analistas do Bradesco BBI.

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Além disso, a saída da empresa do SCG (Sistema de Controle de Garantias), que ocorrerá efetivamente no primeiro trimestre, deve contribuir para um maior volume de pré-pagamento. Contudo, afirmam os analistas, a maior questão é quão material será o impacto.

Nesse caso, entra a Stone: os analistas estimam que a concorrente da Cielo tenha alcançado um volume de pré-pagamentos de 32% do volume de cartões de crédito no segundo trimestre de 2018. “Se a Cielo conseguir o mesmo, poderia apresentar um upside de 19% no resultado de 2019”, afirmam. 

Por enquanto, a Cielo vem enfrentando fortes dificuldades com relação à concorrência. Um dos diversos fatores para a queda da companhia veio com as notícias de que a GetNet, do Santander, estaria próxima de atingir a sua meta para 2019. Ela também apontou tendência de crescimento com rentabilidade, algo que a Cielo está abrindo mão para conseguir voltar a crescer. 

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Tantos desafios levaram a uma sequência de revisões para baixo para os papéis da companhia. O JPMorgan cortou o preço-alvo da ação de R$ 14 para R$ 13 em 8 de novembro e reduziu as estimativas para receita, Ebitda e lucro líquido para 2019 e 2020.

Já nesta segunda-feira, o BTG Pactual destacou que está revisando oficialmente as suas projeções para baixo, após confirmar que o discurso mais agressivo da companhia está de fato sendo colocado em prática.

As projeções de lucro para 2019 e 2020 foram cortadas em 25%, com a estimativa de que o lucro estimado seja 17% em 2018 e deve acelerar a queda para 26% no ano seguinte. 

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E os analistas são ainda mais conservadores sobre a recuperação da companhia. “A visibilidade não é boa, mas por conta do carrego negativo dos cortes de preço ao longo do ano, o crescimento de lucro em 2020 também não deve ser muito forte (somente a partir de 2021)”, avaliam.

Assim, o preço-alvo foi cortado de R$ 15,50 para R$ 11, com a recomendação se mantendo neutra. “No curto prazo, o papel deve seguir pressionado com onda de revisão de lucros”, avalia o BTG.  

Em comentário para a Bloomberg, a Cielo corroborou a sua estratégia: “o mercado está em plena transformação e exige da companhia uma atuação agressiva para manter a liderança que já conquistou e capturar o crescimento que está surgindo em novos segmentos”. A expectativa é de que a Cielo volte a registrar força – mas, no curto prazo, a atuação para isso cobrará o seu preço. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.