Profissionais especialistas devem perder emprego para robôs, diz professor do MIT

Em entrevistas exclusivas ao InfoMoney, Gary Gensler e Gijs Van Delft compartilharam dicas e como enxergam essa nova era do mercado de trabalho

Giovanna Sutto

Humanos têm muitas chances de não ficarem para trás na corrida por um emprego contra robôs, mas é preciso se preparar
Humanos têm muitas chances de não ficarem para trás na corrida por um emprego contra robôs, mas é preciso se preparar

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SÃO PAULO – O ritmo em que a tecnologia impacta a vida dos profissionais vai só aumentar daqui para frente – e estar preparado para esse processo é crucial para não ficar sem emprego.  

Após participar de evento do MIT Sloan School of Management, escola de negócios do MIT, que aconteceu na última quinta-feira (29) em São Paulo, Gary Gensler, professor de Administração e Economia Global Prática do MIT Sloan, afirmou, em entrevista ao InfoMoneyque, com a transformação digital, os profissionais devem cada vez mais pensar em ser generalistas e não especialistas.  

“Em linhas gerais é sempre preciso ser um especialista para ser notado. Ser muito bom em algo faz com que o próximo chefe encontre o profissional. É importante, mas era ainda mais antes. A partir de agora, o profissional deve se tornar um generalista: ser expert em pelos menos três coisas porque uma delas deve ser automatizada”, afirma.  

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Segundo ele, esse é o segredo para sobreviver e ter mais oportunidades na transformação que o mercado de trabalho enfrenta.  

“As oportunidades vão aparecer se o profissional começar com uma especialidade, ser muito bom nela e depois engatar uma segunda, terceira… A pessoa se torna mais valiosa na nova era do mercado de trabalho ao apresentar múltiplas expertises”, diz.    

Gijs Van Delft, diretor do PageGroup, empresa especializada em recrutamento, diz que hoje é muito difícil “prever como vai ser lá na frente”, mas também concorda que profissionais generalistas terão mais espaço.  

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“Sempre digofaça cursos completamente fora da sua zona de conforto. Se a pessoa está em contabilidade, deve fazer um curso em RH, por exemplo, ou um profissional de marketing deve fazer um curso de programaçãoDaqui pra frente essa transição de carreira vai ser mais fácil e mais comum justamente pela chegada da tecnologia”, afirmou.  

Dentro desse contexto, o executivo afirma que, além de procurar novas capacidades por conta, o funcionário pode pedir para conhecer outras áreas dentro da empresa em que já trabalha. “Muitas empresas estão abertas a issomas as pessoas têm medo de falarNa avaliação anual, o profissional deve comentar sobre os interesses em fazer coisas novas”, diz.  

Assim, se capacitar em mais áreas é o segredo do sucesso: “é ser oportunista porque será reconhecido e também é uma forma de defesa já que a automação é realidade e o profissional pode perder uma das suas especializações para máquina”, complementa Gensler.  

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Habilidades técnicas x interpessoais

Em meio ao processo de automatização das funções, muito se fala sobre desenvolver mais as habilidades interpessoais do que as técnicas e que isso pode ser um diferencial. Van Delft afirma que o profissional generalista faz toda a diferença para uma empresa justamente pelas habilidades interpessoais. 

“A capacidade de resolver problemas, ter inteligência corporativa e mindset criativo são cruciais. Isso porque os problemas surgem cada vez mais rápido e diferentes do que o profissional já vivenciou”, diz. Mas o professor do MIT acredita que esse tópico não seja a principal discussão nesse processo. 

“Uma transição assim já aconteceu antes: da manufatura para serviços. Não é um fenômeno novo. Em toda era sempre teve uma parte da economia relacionada à parte técnica e outra à parte interpessoal. Seja dirigindo trator, plantando o milho ou trabalhar na linha de produção da fábrica. Ao mesmo tempo, sempre tivemos que lidar com pessoas. Temos que continuar a desenvolver ambos os lados”, afirma Gensler. 

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Segundo ele, o que muda agora é que o profissional precisa trabalhar mais na habilidade que já tem, mas sabendo que provavelmente a capacidade técnica corre o risco de ser substituída por automação ou um robô.  

“Os profissionais devem pensar: eu posso usar minha habilidade principal em outras organizações e de outras formas? Se não, é preciso aprender novas habilidades para não ficar de fora do mercado de trabalho”, disse. 

Profissionais pula pula  

Van Delft afirma que a ideia de ficar pouco tempo em uma empresa é ruim, não passa de um mito hoje em dia. “Hoje nos EUA, por exemplo, alguns CEOs ficam em média 18 meses na empresa. Se colocarmos isso em níveis gerenciais e administrativos a rotatividade é ainda maiorAs empresas precisam se preparar para que esse período seja produtivo para ela e para o funcionário“, diz.  

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As companhias ainda precisam se adaptar a um estilo mais flexível. “As empresas olhavam com maus olhos profissionais chamados “pula pulacom pouco tempo de empresa em cada passagem. Mas hoje isso é muito menos questionado e é uma tendência continuar assim”, afirma o especialista em recrutamento.  

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.