BR Foods, Pão de Açúcar, Ponto Frio… Hewitt revela segredo do sucesso de fusões

"Atenção ao capital humano é fundamental e o principal obstáculo para o sucesso", revela diretor da Hewitt

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – No ano passado, 53 fusões e aquisições marcaram o cenário econômico do País, movimentando R$ 24,4 bilhões, de acordo com dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento). Em 2009, o movimento continua, com a união de Perdigão e Sadia, que originou a BR Foods, e a incorporação do Ponto Frio pelo Pão de Açúcar.

Mas o que garante o sucesso de uma fusão ou aquisição? De acordo com o diretor-geral da Hewitt Associates no Brasil, Emerson Soma, o foco no capital humano.

“Para evitar que se repita o índice de quase 80% das empresas que não atingiram ou não ultrapassaram todas as metas estabelecidas nas últimas operações de M&A (mergers and acquisitions, ou fusões e aquisições), a atenção ao capital humano é fundamental e o principal obstáculo para que a nova empresa atinja o sucesso. São dificuldades, por exemplo, de integrar culturas e de selecionar líderes. Muitas empresas perderam líderes fundamentais ao seu desenvolvimento e crescimento, porque se descuidaram nos cem primeiros dias”, alerta Soma.

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Assim, a base do sucesso de cada operação são os relacionamentos a serem formados, visando à integração de grupos distintos, à cooperação e à comunicação eficaz com os líderes, os talentos-chave e os demais colaboradores.

Crise e operações de M&A

De acordo com a Hewitt Associates no Brasil, a crise financeira acarretou o aumento de operações desse tipo. Hoje, empresas com dificuldades financeiras estão enfrentando sérios riscos de serem adquiridas. E aquelas entre os mais fortes e afortunados encontram agora o momento ideal de ir às compras.

Um estudo da Hewitt Associates mostra que a maioria das aquisições entre empresas brasileiras, no ano passado, ocorreu nos segmentos financeiro, de energia, metalurgia e siderurgia, e a tendência é o crescimento da concentração de mercado nessas áreas.

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Já com relação às fusões entre empreendimentos nacionais, elas somaram apenas duas, mas movimentaram nada menos que R$ 41,4 bilhões. Somente a união entre a BM&F e a Bovespa representou R$ 34,6 bilhões. A outra operação resultou no nascimento da Quattor.

Menos grupos estrangeiros

Há dois anos, os grupos estrangeiros eram os maiores investidores em empresas brasileiras, mas o número de negócios sofreu queda de 9% em 2008, ao passo que os valores negociados tiveram redução de 3,5%, de acordo com pesquisa da Anbid. Os europeus são os mais interessados em empreendimentos brasileiros bem-sucedidos. No ano passado, dos R$ 65,7 bilhões investidos, 70,4% vieram do velho continente. Os Estados Unidos, por sua vez, contribuíram com 10% do total.

Tendência

Para Emerson Soma, da Hewitt Associates, a tendência de as empresas se unirem ou serem compradas irá continuar, porque muitas organizações buscam crescimento das receitas e expansão de seus mercados, inclusive fora do País. Ele também crê que as maiores companhias irão se envolver em uma concorrência acirrada para a aquisição de empresas. A boa notícia é que elas entendem o valor do capital humano e do relacionamento com os novos parceiros de negócios e colaboradores, para a integração.

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Insegurança aos funcionários

Ninguém duvida que fusões causem insegurança nos profissionais envolvidos. Em primeiro lugar, porque mudam os objetivos empresariais, as metas de cada um, a rotina de trabalho e os processos. Em segundo lugar, por conta do risco de demissões.

A questão é que, em termos de desligamentos, não há nada na lei que proteja o funcionário, segundo a advogada especialista em Direito do Trabalho e sócia do escritório Benhame Sociedade de Advogados, Maria Lúcia Benhame. De qualquer forma, salários e benefícios não podem ser reduzidos. Pelo contrário, aos olhos da Justiça, eles devem ser nivelados por cima.

“Quando ocorre uma fusão ou uma aquisição, ainda que parcial, não podem ser reduzidos os salários e os benefícios dos trabalhadores afetados, bem como a jornada de trabalho não pode ser aumentada”, explica a advogada.

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É verdade que o fato de a empresa não poder diminuir salários e benefícios pode ser negativo, por não deixar às empresas outra alternativa senão demitir aqueles que recebem mais ou que possuem os benefícios mais altos. Infelizmente, “a conta tem de fechar”, explica Maria Lúcia. “As demissões acontecem, muitas vezes, devido à necessidade de se manter a organização funcionando, ou seja, para evitar sua falência”. Daí o desafio de gerir o capital humano diante de situações como essas.