15% de jovens entre 15 e 29 anos são ‘nem-nem-nem’, aponta Dieese

Motivos e a quantidade de jovens nesta situação variam conforme a renda familiar

Equipe InfoMoney

Cerca de 15% dos jovens de 15 a 29 anos — o equivalente a 7,6 milhões de brasileiros — eram “nem-nem-nem” em 2021 (não frequentavam escola formal, não trabalhavam e não estavam procurando emprego), aponta estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O Dieese excluiu da conta os jovens que não estavam estudando nem trabalhando, mas procuravam emprego, senão a conta seria ainda maior: cerca de 12,7 milhões de brasileiros (26% do total de jovens entre 15 e 29 anos).

Ou seja: dos 12,7 milhões de “nem-nem” (jovens que nem estudam nem trabalham), parcela relevante estava em busca de trabalho: 5,1 milhões de pessoas, o equivalente a 40% dos “nem-nem” e 10% de todos os jovens entre 15 e 29 anos.

O órgão diz também, com base no levantamento feito com dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) de 2021, que os motivos e a quantidade de jovens que eram “nem-nem-nem” variam conforme a renda familiar:

Termo ‘nem-nem’ é inapropriado?

“Além dos jovens que não estudam e não trabalham, há aqueles que procuram trabalho. Essa ressalva evidencia que o termo ‘nem-nem’ é inapropriado e insuficiente para analisar a situação desse grupo de pessoas”, afirma o Dieese no estudo.

O órgão destaca também que o número de jovens que não estudam muda de acordo com a faixa etária (entre os que têm entre 15 e 18 anos, por exemplo, a maior parte frequenta a escola de ensino regular, principalmente o ensino médio). “Depois, a situação predominante é a participação no mercado de trabalho, com uma ocupação efetiva ou à procura de uma”.

Baixa renda

Cerca de 19,9 milhões de jovens eram de famílias de baixa renda (com rendimento domiciliar por pessoa de até meio salário mínimo) em 2021. Deste grupo, 24% eram “nem-nem-nem” (não frequentavam a escola, não trabalhavam e não estavam em busca de trabalho), sobretudo a partir dos 20 anos de idade (o equivalente a 4,8 milhões de jovens).

Essa proporção era praticamente a mesma daqueles jovens de baixa renda que não frequentavam a escola, mas estavam trabalhando (23%). Outro dado relevante é que 16% do grupo não estudavam nem trabalhavam, mas estavam procurando trabalho.

Alta renda

A pesquisa mostra também que os jovens de famílias de alta renda tinham menos dificuldade de inserção no mercado de trabalho. A maioria trabalhava em 2021 e uma parcela ínfima buscava trabalho. Além disso, cerca de 23% conseguiam frequentar a escola e trabalhar ou fazer estágio de ensino superior.

O percentual de jovens de alta renda “nem-nem-nem” era bem pequena, exceto na faixa entre 18 e 19 anos. O Dieese diz que os dados sugerem que essa parcela não estava frequentando ensino regular (a categoria pesquisada na PNAD), mas outros cursos, como os pré-vestibulares.

“Ao contrário da juventude de baixa renda — que tem uma parcela relativamente estável, em termos percentuais, sem frequentar escola ou se inserir no mercado de trabalho a partir dos 20 anos de idade —, entre os jovens de alta renda, boa parte consegue cursar o ensino superior e, simultaneamente, realizar estágios para o desenvolvimento profissional em ambiente de trabalho”, destaca o Dieese.

Diferenças de classe

Entre os “nem-nem-nem”, os principais motivos alegados para não procurar trabalho eram:

Mas há diferenças em relação à renda (e ao sexo): 40% dos jovens de baixa renda afirmam ter a necessidade de cuidar dos afazeres domésticos, do(s) filho(s) ou de outro(s) parente(s). O Dieese destaca que “essa tarefa, em geral, é realizada principalmente pelas mulheres, o que confere à questão não só recorte socioeconômico, mas também de gênero”. Já entre os jovens de alta renda, a principal resposta para não procurar trabalho foi o fato de estarem estudando (55%).

“Há enorme disparidade nas situações da juventude que não frequenta escola, não trabalha e não busca trabalho, quando se leva em conta a renda familiar. Enquanto os mais ricos se preparavam para ingressar no ensino superior, em momento etário bem específico, entre os mais pobres, uma proporção menor tinha essa perspectiva, com um grupo relevante, formado principalmente por mulheres, obrigado a cuidar dos afazeres domésticos e de pessoas da família”, afirma o Dieese no estudo.