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Startup de crédito de carbono quer ser remédio ao efeito adverso da IA

Empresa embolsa mais de US$ 100 milhões com reflorestamento de áreas amazônicas degradadas

Iuri Santos

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Os compromissos e pressões globais pela redução na emissão de carbono ganharam uma nova camada com o surgimento da IA generativa. Apesar das promessas sobre melhoria na produtividade e incrementos trilionários à economia mundial, a demanda por processamento crescente gera um problema para as big techs: como reduzir suas emissões com cada vez maior custo energético? A Mombak, startup especializada em crédito de carbono, espera ser uma das respostas.

Em dezembro do ano passado, a empresa anunciou ter fechado o maior contrato único de créditos de carbono da história da Microsoft, com compromisso de capturar 1,5 milhões de toneladas do gás por meio de reflorestamento na Amazônia. A empresa não abre valores, mas diz que os cheques nesse tipo de venda costumam ser gordos — os negócios mais importante fechados até hoje superaram US$ 100 milhões, diz ao IM Business o CEO Peter Fernandez.

“A Microsoft, sozinha, precisa [capturar] mais de 5 milhões de toneladas de carbono por ano. Agora mais, porque o uso de eletricidade deles vai explodir com IA. Isso é o que o mercado inteiro produz”, explica o executivo. O consumo de energia por data centers, IA generativa e criptoativos podem dobrar até 2026, diz uma pesquisa da Agência Internacional de Energia (IAE, na sigla em inglês). De acordo com a pesquisa, esse grupo já foi responsável por 2% de todo consumo energético em 2022.

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“As empresas que usam muita IA têm que buscar diminuir as emissões de CO2 para criar aquela eletricidade. Se ela usa energia renovável, tudo bem. Não há emissão e o uso pode crescer”, aponta Fernandez. “Mas nem sempre isso é possível para muitas delas. Para se tornarem carbono-neutras, elas vão precisar fazer remoção de carbono.”

Por regra, os contratos de crédito de carbono com base em reflorestamento de áreas degradadas tendem a ser mais altos. Há pouca oferta nesse segmento, que permite mais acurácia quanto à medição do valor real capturado. “Simplesmente evitar emissões, dizer ‘eu protegi, e por isso não houve desmatamento’, é muito hipotético. Ninguém garante que aquele lugar seria desmatado. A remoção é muito mais valorizada no mercado, é algo prático, visto cientificamente como mais defensivo”. Além do mais, o custo de capital envolvido em replantar uma mata devastada é de duas a três ordens de grandeza superior à preservação de uma floresta.

Em cada novo empreendimento, a Mombak compra uma fazenda — normalmente um antigo pasto — e planta as mudas com espécies nativas da região. Desde o primeiro momento, a muda já está capturando carbono por meio da fotossíntese. No entanto, toma de dois a três anos para que a árvore atinja o potencial máximo de remoção de carbono, período em que há remoção de alta velocidade.

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É por esse momento que as companhias contratantes pagam. E é aí que se estrutura todo o negócio da Mombak. A companhia abriu um fundo para sustentar suas empreitadas, com investidores como Accent e o fudno de pensão do governo canadense. A captação desse fundo serve para basear o elevado capex das áreas de reflorestamento. Com tudo isso pronto, companhias como Microsoft e McLaren fecham um contrato garantindo que a terão acesso ao período de melhor eficiência da captura (aquele de dois a três anos). Com os ganhos, há retorno aos investidores do fundo.

Peter Fernandez, ex-CEO da 99 e sócio da startup junto ao ex-CFO do Nubank, Gabriel Silva, acredita que a companhia esteja jogando praticamente sozinha na quadra dos créditos de carbono por meio de reflorestamento na Amazônia. Apenas com a primeira fazenda, localizada em Mãe do Rio, a 4 horas de Belém, o projeto já é o maior do tipo no mundo, dizem. A expectativa da companhia é retirar, todos anos, 20 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera a partir de 2035.