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“Chefe, meu telefone voltou a tocar pra valer”. O relato, de um vendedor de uma das concessionárias da Vamos (VAMO3), é compartilhado pelo CEO da companhia, Gustavo Couto, como um bom indicador do que o grupo espera para os próximos meses. A queda dos juros, já antecipada pelas taxas de longo prazo, e a perspectiva de retomada da atividade econômica compõem o cenário para o qual a empresa líder no setor de locação de caminhões, máquinas e equipamentos do Brasil já começou a se preparar.
Nos últimos meses, a empresa lidou com alguns revezes. Além do nível da taxa de juros, que impacta o custo da dívida da empresa e adia as decisões de investimento dos clientes, o mercado de compra e locação de caminhões e equipamentos foi afetado pelo atraso na divulgação do Plano Safra pelo governo e pelo encarecimento dos veículos. A postura da companhia foi olhar para o longo prazo e se capitalizar por meio de um follow-on.
“Quando eu vejo a sinalização de queda de juros e a retomada de atividade, sei que as decisões de compra ou locação vão voltar”, explica Couto. “Muita gente adiou a compra para evitar o aumento de preço, mas essas decisões não podem ser adiadas para sempre.”
Em entrevista ao IM Business, Couto diz que o preço do caminhão subiu muito nos últimos três anos por diversos fatores: a inflação global, a taxa de juros e o efeito da pandemia sobre o fornecimento de componentes. E, em 2022, as montadoras anunciaram um reajuste, em cima de valores já mais elevados, de 20% a 25% para o modelo Euro 6 — sistema segue um conjunto de normas que regulamentam a emissão de poluentes para motores a diesel.

O sinal de preços mais altos provocou uma corrida no ano passado pelo modelo Euro 5 – que também obedece a um sistema de redução de poluentes, mas com eficiência um pouco menor do que o Euro 6. Dinâmica ainda percebida no início deste ano, quando os emplacamentos de caminhões cresceram 3%. Essa antecipação explica a forte queda de demanda por caminhões no segundo trimestre. Somente em abril, as vendas caíram 22,31% em relação a março, segundo dados da Anfavea. Já a produção recuou 44% na mesma base de comparação.
“Agora é natural que haja uma acomodação”, afirma. Esse arrefecimento da demanda pode, inclusive, inviabilizar um reajuste desta proporção, na visão do executivo. “Acho que esse aumento não vai pegar. Com a queda de juros, do câmbio e do aço, acredito que o aumento será menor, entre 5% e 10%.”
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A Vamos tem atualmente 45 mil ativos (35,5 mil caminhões e 9,5 mil máquinas e equipamentos), o equivalente a uma participação de 23% da frota dos 4,5 mil clientes. No ano passado, comprou entre 8% a 9% da produção nacional de caminhões em 2022, boa parte no fim do ano para iniciar 2023 com a frota atualizada no sistema Euro 5. A expectativa, segundo Couto, é que essa frota esteja toda alugada até o terceiro trimestre. E, a partir daí, a companhia começará a planejar as compras do Euro 6 – hoje, a empresa já tem algumas unidades desse modelo -, processo que deve ser concluído entre o fim do ano e o começo de 2024. “Foi para isso que fizemos o follow-on, para dar continuidade ao ciclo de crescimento mirando 2024”, explica o executivo.
Na oferta subsequente de ações, concluída em junho, a companhia levantou R$ 1,3 bilhão. O preço por ação saiu a R$ 11,00, com um desconto de 5,5% em relação ao fechamento da bolsa na véspera da operação. Couto reconhece que este não teria sido o preço ideal, mas o desconto refletiu as condições do mercado naquele momento. “Quando o mercado abre uma janela, a gente tem que aproveitar. Não sei se foi janela ou escotilha, mas entre limitar o crescimento da companhia ou aproveitar oportunidade, decidimos fazer a operação”, afirma.
Couto vê ainda outros ganhos por meio da operação: permitiu um aumento da liquidez do papel, sem provocar uma diluição grande do acionista; e manteve a ampla presença de investidores estrangeiros na companhia. “Hoje, 60% a 70% da nossa base são estrangeiros, investidores menos sujeitos à volatilidade, que olham com perspectiva de longo prazo”, afirma Couto. “Desde a abertura de capital, em janeiro de 2021, até janeiro de 2023, entregamos aos investidores uma taxa de retorno total (Total Shareholder Return) de 117%. E acho que estamos só no começo”, afirma Couto.
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Os ventos favoráveis trazidos pela aposta em corte de juros têm efeito expressivo para uma empresa de capital intensivo como é a Vamos. A queda da Selic reduz a despesa financeira, causa menos pressão sobre o balanço e melhora a taxa de retorno. Couto diz que uma boa forma de enxergar esse efeito é por meio da relação entre a taxa de retorno sobre capital investido (ROIC) e o custo efetivo da dívida, que, segundo ele, tende a melhorar ainda mais. No primeiro trimestre esse ‘spread’ estava em 8,5%.
A visão é corroborada pelo mercado. Em relatório, o Itaú BBA afirma que a empresa tem as condições perfeitas para se beneficiar da queda dos juros. Isso porque o modelo de negócios consiste em receitas atreladas a contratos prefixados de longo prazo, enquanto a dívida é pós-fixada.
Ao mesmo tempo, juros mais baixos estimulam a demanda pelos veículos. “O empresário olha para o custo de capital para tomar uma decisão de abrir uma nova loja, de investir”, afirma. “E aí ele não tem mais o dilema que ele tinha sobre onde colocar o dinheiro, se na construção de um linha de produção ou na logística de distribuição: agora pode fazer os dois.”
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Programa Renovar
A Vamos é uma entusiasta do programa de renovação da frota nacional, criado pelo governo federal para melhorar os níveis de emissão de poluentes e as condições de transporte nas rodovias. A ideia é que proprietários de caminhões com mais de 20 anos de fabricação substituam o veículo por um zero quilômetro. Esse caminhoneiro entrega o veículo usado para ser sucateado e recebe um certificado para realizar a compra. Até junho, no entanto, apenas 14% dos recursos destinados ao programa haviam sido utilizados.
Para Couto, há dois ajustes possíveis nesse programa. O primeiro é a possibilidade de que o dono do caminhão substitua o veículo por um usado mais novo, mais acessível do que o zero. “A compra do zero vai acontecer naturalmente, mas primeiro é preciso promover uma. renovação em cadeia”, diz.
O segundo seria permitir a anistia das dívidas com impostos e multas do caminhão que, muitas vezes, têm valor até maior do que o do veículo. “Deveria haver um processo simplificado de baixa do ativo, senão dificilmente você consegue promover essa renovação em larga escala”, justifica.
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As sugestões vêm da própria experiência da companhia. Há dois anos, a Vamos abriu um programa semelhante, de cunho social, mas também de aprendizado sobre o mercado. Iniciativa que começa a ser retomada ainda de forma embrionária este ano. A empresa comprou 50 caminhões muito velhos para serem sucateados. Ao mesmo tempo, deu orientação financeira a esses caminhoneiros, para ajudar na decisão de como utilizar os recursos. “Alguns compraram um caminhão mais novo, e oferecemos crédito para isso. Mas teve gente que quis abrir outro negócio”, conta o executivo.
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