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Um Lincoln K, de 1938, que serviu de carro oficial para chefes de estado em visita ao Brasil, como a rainha Elizabeth II e o papa João Paulo II. Um Aston Martin DB5, produzido em 1964, o mesmo modelo dirigido por James Bond em “007 contra Goldfinger”. Uma limousine fabricada em 1927, única no mundo e que jamais passou por algum tipo de restauração – foi encontrada perdida em um celeiro na França. Cada veículo em exibição no Carde, museu que abrirá as portas ao público no próximo dia 28 de novembro, tem uma história para contar. E são centenas delas, já que o acervo conta com mais de 500 automóveis raros no total.
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As coleções estão abrigadas em um prédio de seis mil metros quadrados, erguido em plena Serra da Mantiqueira. O Carde fica em Campos do Jordão, a 170 km de São Paulo.
Apesar de parecer uma iniciativa voltada para apaixonados por “antigomobilismo”, a proposta é atingir um público muito mais amplo. Carde, é a junção de quatro palavras: carro, arte, design e educação. Os veículos são, certamente, a principal atração do museu, mas quem chega lá mergulha no contexto histórico de cada peça em exibição. A experiência imersiva com painéis de LED em cada uma das galerias, revisita o século XX, década por década, relembrando os principais movimentos políticos, sociais e culturais.
“É a estratégia da arapuca. O visitante entra aqui atraído pelos carros e a gente bota ele para pensar”, diz Heloisa Murgel Starling, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), responsável pela equipe de historiadores que fez a pesquisa para a contextualização histórica da exibição.
Luxo e reparação
Logo na entrada, o visitante se depara com um carro no topo de uma árvore de crochê. O veículo, no caso, é um modelo nacional: o Uirapuru, da Brasinca. O esportivo que fez sucesso na década de 1960 foi estilizado com pintura indígena. O crochê que sustenta o carro, e se espalha pelas paredes do hall, principal foi “tecido” por mulheres de um projeto social da capital federal.
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Há um tom de reparação social em meio à exuberância de veículos que trocaram de mãos entre as elites ao longo dos anos. Em uma das salas, descansa um Isotta Fraschini, um dos carros mais luxuosos na década de 1920, importado da Europa pelo magnata industrial Henrique Lage. Um “presentinho” para a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni, com quem o empresário se casou e a quem dedicou o palacete no parque que leva o seu sobrenome, no Rio de Janeiro. Quando Lage morreu, Gabriela não pôde ficar com o carro, pois não teve filhos com o marido – eram as leis da época.
A experiência (quase real) de dirigir uma Ferrari
Para quem gosta de velocidade, uma sala abriga dois carros originais da equipe Willys, soberana do automobilismo na década de 1960. No pavimento superior, o visitante poderá contemplar um McLaren Senna exclusivo, Lamborghinis e Ferraris.
Aliás, o autor desta reportagem já pode dizer que dirigiu uma. Não na estrada, como gostaria, mas no simulador com uma tela imersiva de nove metros de largura. O modelo em questão é uma Ferrari Testarossa que foi totalmente restaurada para uma experiência bem realista para os visitantes.
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Quem é Lia Maria Aguiar, herdeira do Bradesco
Por trás do Carde, está o nome de Lia Maria Aguiar, herdeira de Amador Aguiar, fundador do Bradesco. O museu surge dentro da fundação, criada por ela e que leva o seu nome. Lia tem 86 anos e já apareceu nas listas das mulheres mais ricas do país.
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Os recursos da Fundação Lia Maria Aguiar estão em um fundo patrimonial criado, inicialmente, com ações do Bradesco. O endowment é administrado pela Meraki, uma gestora independente de recursos, cujo CEO é Luiz Goshima, idealizador e diretor-executivo do Carde.
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“Todos os projetos sociais da fundação são mantidos pelos dividendos gerados por esse fundo”, explicou Goshima, ao InfoMoney. A Fundação Lia Maria Aguiar toca projetos de capacitação e cultura com crianças e jovens de Campos do Jordão e também é mantenedora de um núcleo de saúde na cidade.
O pai de Goshima, que também se chamava Luiz, era conselheiro da fundação e amigo próximo de Lia. A relação de amizade com a herdeira passou de pai para filho – assim como a paixão por carros.
O diretor do Carde faz questão de explicar que o acervo do museu não foi comprado com dinheiro da fundação. São automóveis da coleção particular do executivo e, principalmente, da de “dona” Lia. Isso inclui veículos que a herdeira do Bradesco adquiriu de Og Pozzoli, um dos maiores colecionadores de carros do mundo, já falecido.
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Apenas uma parte do acervo, cerca de 100 carros, fica em exibição no museu. Os demais estão armazenados em um hangar, no município de São Roque, à disposição do Carde: a exposição é rotativa. O valor dessa coleção? “É imensurável. Primeiro porque tem muito valor afetivo nos carros e as cotações são voláteis, muito pautadas em leilões”, explica Goshima.
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Fato é que o acervo do museu só tende a aumentar. O Carde, inclusive, abriu empresa nos Estados Unidos para participar de leilões – e já tem novas relíquias em vista.
*A reportagem viajou para Campos do Jordão a convite do Carde