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Grindr trabalha para firmar um relacionamento sério com o Brasil

Desde 2020, empresa viu pressão do governo americano afastar investidor chinês levar a IPO e novo CEO

Iuri Santos

George Arison, CEO do Grindr (Foto: Divulgação/Web Summit Rio)

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Não foi à toa que o CEO do Grindr, aplicativo de relacionamentos destinado no público LGBTQ+, George Arison, escolheu o Rio de Janeiro como palco para a sua primeira viagem internacional após assumir o cargo. A América Latina tornou-se central para a estratégia de expansão da empresa e a capital fluminense foi palco para o anúncio do novo recurso que permite aos usuários “migrarem” seus perfis temporariamente para o local de uma viagem futura, a fim de antecipar conexões à sua chegada.

“Há um movimento de aumento da tolerância com a comunidade gay em quase todos os lugares da América Latina, algo que aconteceu nos Estados Unidos e na Europa há 20 anos atrás”, diz o executivo em entrevista ao IM Business. “Isso representa um enorme crescimento para nós. As pessoas se sentem mais confortáveis e conseguimos capturar esses usuários. Já temos muitos, mas esse número pode crescer ainda mais. Como o maior país da região, o Brasil é parte importante nisso.”

Por muito tempo, a empresa teve grande foco nos mercados norte-americanos e europeu. O Brasil, no entanto, já é um dos 10 maiores usuários do aplicativo globalmente, muito em função do tamanho da sua comunidade LGBTQ+, a maior do mundo segundo a pesquisa LGBTQ+ Pride 2023, da Ipson. De outro lado da conta, avanços nos direitos civis, como a legalização do casamento gay ao redor do mundo, tem estimulado a empresa a diversificar mercados. Além da América Latina, a região Ásia-Pacífico também faz parte da estratégia de expansão.

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Embora esse esforço esteja em curso, países latinos ainda não fazem parte do processo de teste do novo recurso, restrito à Austrália, Canadá e Reino Unido, apresentado pela empresa no Web Summit Rio. “É comum que os testes ocorram nesses três países, porque testamos em locais que falam inglês, mas não são os Estados Unidos”, conta Arison. A nova aplicação, batizada Roam, é parte da missão da empresa de se tornar uma “gayborhood” (um trocadilho para “vizinhança gay”, em tradução livre), pela qual a comunidade poderá se conectar para recomendações, informações e criar um senso de conexão. 

O Grindr não abre informações específicas sobre sua operação no Brasil, mas registrou uma receita de US$ 253 milhões em 2023, primeiro ano completo com capital aberto na NYSE, bolsa de valores de Nova York.

Grindr viveu caso similar ao TikTok

A companhia é caso paradigmático da pressão dos Estados Unidos contra redes sociais e empresas de tecnologia mantidas por investidores chineses. Em 2020, foi vendida pela Beijing Kunlun Tech por cerca de US$ 600 milhões após o governo americano expressar preocupações relacionadas à segurança nacional — similar ao que ocorre hoje com a rede social de aplicativos TikTok. 

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A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou, em março deste ano, um projeto de lei que promete remover o TikTok do país. O texto, chamado de Lei de Proteção aos Americanos contra Aplicações Controladas de Adversários Estrangeiros, exige que a ByteDance, empresa chinesa que é dona da rede social, saia dos EUA.

Em sua palestra no Web Summit, Arison elege o Grindr como um caso bem-sucedido de desinvestimento dentro desse contexto. “Pudemos trocar nosso foco para a privacidade e garantir que a experiência do usuário está funcionando bem”, disse. “O meu palpite é que mudar o TikTok, com um negócio, para os Estados Unidos, e listá-lo na Bolsa, pode funcionar tão bem quanto funcionou para o Grindr.”