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A biblioteca da OpenAI que está no coração do avanço da IA

Prédio que já abrigou uma fábrica de maionese tem a aparência de um típico escritório de tecnologia

Cade Metz The New York Times

A biblioteca dentro do escritório da OpenAI em São Francisco, em 4 de abril de 2024. Construída a pedido do executivo-chefe Sam Altman e abastecida com títulos sugeridos por sua equipe, a biblioteca OpenAI é uma metáfora adequada para a empresa de tecnologia mais quente do mundo, cujo sucesso foi impulsionado por idioma – muitos e muitos idiomas. (Crédito: Christie Hemm Klok/The New York Times)

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A biblioteca de dois andares é decorada com tapetes orientais, abajures distribuídos pelas mesas e fileiras de livros de capa dura nas paredes. Ela é o elemento arquitetônico central dos escritórios da OpenAI, a startup cujo chatbot online conhecido como ChatGPT demonstrou ao mundo que máquinas conseguem criar instantaneamente sua própria poesia e prosa.

O prédio, que já abrigou uma fábrica de maionese, tem a aparência de um típico escritório de tecnologia, com seus espaços de trabalho compartilhados, micro cozinhas bem abastecidas e salas de descanso privativas distribuídas por três andares no Mission District de São Francisco.

Mas daí há aquela biblioteca, com o ambiente de uma sala de leitura da Era Vitoriana. Suas prateleiras oferecem de tudo, desde “A Ilíada”, de Homero, até “O Início do infinito”, de David Deutsch, um dos favoritos de Sam Altman, CEO da OpenAI.

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Construída a pedido de Altman e repleta de títulos sugeridos por sua equipe, a biblioteca OpenAI é uma metáfora apropriada para a empresa de tecnologia mais promissora do mundo, cujo sucesso foi impulsionado pela linguagem – muita, muita linguagem. O chatbot da OpenAI não foi desenvolvido como um aplicativo qualquer de Internet: o ChatGPT aprendeu suas habilidades analisando grandes quantidades de texto escrito, editado e curado por humanos, incluindo artigos de enciclopédias, notícias, poesia e, sim, livros.

A biblioteca dentro do escritório da OpenAI em São Francisco, em 4 de abril de 2024. Construída a pedido do executivo-chefe Sam Altman e abastecida com títulos sugeridos por sua equipe, a biblioteca OpenAI é uma metáfora adequada para a empresa de tecnologia mais quente do mundo, cujo sucesso foi impulsionado por idioma – muitos e muitos idiomas. (Crédito: Christie Hemm Klok/The New York Times)


A biblioteca também representa o paradoxo que está no cerne da tecnologia da OpenAI. Autores e editores, dentre os quais o The New York Times, estão processando a OpenAI, alegando que a empresa utilizou ilegalmente seu conteúdo protegido por direitos autorais para construir seus sistemas de IA. Muitos autores estão preocupados que eventualmente a tecnologia venha a tirar seu sustento.

Muitos colaboradores da OpenAI, por outro lado, acreditam que a empresa está usando a criatividade humana para alimentar mais criatividade humana. Eles acreditam que o uso que fazem de obras protegidas por direitos autorais é “uso justo” perante a lei, porque estão transformando essas obras em algo novo.

“Dizer que este é um debate público neste momento é um eufemismo”, disse Shannon Gaffney, cofundadora e sócia-administradora da SkB Architects, empresa de arquitetura que reformou a sede da OpenAI e projetou sua biblioteca. “Embora possa parecer que as coisas estejam rumando a direções diferentes, a biblioteca funciona como lembrete constante da criatividade humana.”

Quando, em 2019, a OpenAI contratou a empresa de Gaffney para reformar o prédio, Altman disse que queria nele uma biblioteca com aura acadêmica.

Ele queria que a biblioteca se assemelhasse à Biblioteca Verde, uma biblioteca românica da Universidade de Stanford, onde estudou por dois anos antes de abandonar os estudos para criar um aplicativo de mídia social; à Rose Reading Room, uma sala de estudos Beaux-Arts localizada no último andar da Biblioteca Pública de Nova York, no centro de Manhattan; e ao bar com atmosfera de biblioteca que ficava dentro do extinto Nomad Hotel, a 15 quarteirões ao sul da Rose.

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A biblioteca dentro do escritório da OpenAI em São Francisco, em 4 de abril de 2024. Construída a pedido do executivo-chefe Sam Altman e abastecida com títulos sugeridos por sua equipe, a biblioteca OpenAI é uma metáfora adequada para a empresa de tecnologia mais quente do mundo, cujo sucesso foi impulsionado por idioma – muitos e muitos idiomas. (Crédito: Christie Hemm Klok/The New York Times)



“Minhas salas de jantar e de estar em casa ficam dentro de uma biblioteca – livros do chão ao teto por toda parte”, disse Altman em uma entrevista. “Existe algo de interessante em estar no meio do conhecimento, cercado por prateleiras enormes repletas de livros.”

Muitos títulos, como “Obras-primas inglesas, 700-1900” e “Ideias e imagens na arte mundial”, parecem com os pesados livros de capa dura que decoradores profissionais posicionam estrategicamente nos lobbies dos hotéis porque têm aparência adequada para isso. Ainda assim, a biblioteca é um reflexo da organização que a construiu.

Em uma tarde recente, dois livros de bolso estavam dispostos lado a lado, à altura dos olhos: “Birds of Lake Merritt” (um guia de campo das aves encontradas em um refúgio de vida silvestre em Oakland, Califórnia) e “Fake Birds of Lake Merritt” (uma paródia escrita pelo GPT-3, uma versão inicial da tecnologia que impulsiona o ChatGPT) .

Alguns colaboradores consideram a biblioteca um local mais tranquilo para trabalhar. Long Ouyang, um pesquisador de IA, mantém uma mesa com rodinhas encostada na parede. Outros a veem como uma sala de descanso extraordinariamente elegante. Nos finais de semana, Ryan Greene, outro pesquisador, transmite sua música digital pelos alto-falantes colocados entre os livros de capa dura.

Já para outros colaboradores, ela é um lugar muito mais inspirador para trabalhar do que um cubículo. “É por isso que tantas pessoas optam por trabalhar na biblioteca”, explicou Staudacher.

Recentemente, Greene começou a inserir listas de seus livros favoritos no ChatGPT e a pedir novas recomendações. A certa altura, o chatbot recomendou “O livro do desassossego”, uma autobiografia do escritor português Fernando Pessoa publicada postumamente. Um amigo que conhecia bem os seus gostos recomendou a ele que lesse esse exato livro.

“Dadas as tendências e padrões de coisas que aconteceram no passado, a tecnologia pode sugerir coisas para o futuro”, disse Greene.

Gaffney argumentou que esta mistura entre humano e máquina continuará. Então ela fez uma pausa, antes de concluir que “isso, pelo menos, é o que espero e sinto”.

NYT: ©.2024 The New York Times Company