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Frigoríficos começam a sentir os efeitos da guerra no Oriente Médio

Aumento dos fretes e ameaça de falta de contêineres entram no radar das empresas exportadoras

Alexandre Inacio

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Os conflitos no Oriente Médio e no norte da África começam a afetar os exportadores do agro brasileiro. Aumento no valor dos fretes marítimos, imposição de taxas de risco, atrasos nas entregas e a possibilidade de falta de contêineres são alguns dos fatores que passaram a ser contabilizados pelas empresas.

Por enquanto, os exportadores consideram a situação “administrável”, porém a luz amarela foi acesa. No curto prazo, a maior preocupação é com a disponibilidade de contêineres, que poderá limitar os embarques de produtos como carnes, café e açúcar.

Para minimizar os riscos, as companhias de transporte marítimo estão buscando rotas mais longas e mais caras para cumprir as entregas. Contudo, os pedidos estão chegando com atraso de 15 e 20 dias. Os atrasos nas entregas percorrem toda a cadeia e podem criar gargalos nos portos brasileiros.

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Isso porque os atrasos nas entregas vão retardar também o retorno dos contêineres ao Brasil para novos carregamentos. Com a produção em andamento, não está descartada a possibilidade de os produtores ficarem parados nos portos aguardando a disponibilidade do equipamento para novos embarques.

Segundo fontes do setor, a situação é mais crítica para os produtos perecíveis, que têm menor prazo de validade, mas já interfere nos planos dos exportadores de carne bovina, aves e suínos. As indústrias ainda não reportaram pedidos de renegociação de preços, mas temem que sua competitividade seja prejudicada.

No setor de aves, deixando de fora a China, Ásia e Oriente Médio respondem por metade das exportações brasileiras. No caso da carne bovina e suína, a China é o principal destino, com mais de 40% dos embarques. Contudo, os contêineres enviados da China para a Europa, passam exatamente pela rota crítica da navegação.

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Custos como frete, taxas de risco e seguros, entre outros, são tradicionalmente assumidos pelos importadores. Diante do contexto atual, alguns já sinalizam estar buscando alternativas de abastecimento a preços mais atrativos.

Para cargas secas, os impactos acabam sendo minimizados. No caso do café, 70% das exportações têm como destino Estados Unidos e Europa, rotas que não passam pelo Mar Vermelho e Canal de Suez

O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) informou estar acompanhando de perto a situação e avaliando os impactos que podem surgir, com a elevação dos custos dos fretes marítimos para as exportações que precisam passar pela região.

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“Temos mercados importantes na Ásia e na Oceania que podem ser impactados com a elevação no valor do frete, principalmente para China, Japão, Coreia do Sul, Austrália e países árabes”, disse a entidade.

Contêineres empilhados em cima de um navio de carga navegando no Canal de Suez, Mar Vermelho, Egito (Camille Delbos/Art In All of Us/Corbis via Getty Images)
Contêineres empilhados em cima de um navio de carga navegando no Canal de Suez, Mar Vermelho, no Egito (Camille Delbos/Getty Images)

No Mar Vermelho, rebeldes houthis no Iêmen têm realizado ataques a navios mercantes na passagem pelo Canal de Suez. A passagem liga o mar Mediterrâneo ao Oceano Índico e é fundamental no abastecimento do sul da Europa, norte da África e boa parte do Oriente Médio.

A rota pelo Golfo Pérsico também se tornou um problema. Há cerca de duas semanas, Irã e Paquistão realizaram ataques mútuos, em uma escalada considerada sem precedentes entre os vizinhos.

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Os portos da região abastecem Irã, Iraque, Emirados Árabes e alguns países asiáticos. A situação é mais preocupante no porto de Bandar Abbas, no sul do Irã.

Existe tensão também no norte da África, entre os vizinhos Argélia e Marrocos. A instabilidade na região vem de longa data. Segundo um importador de carne que atua na região, não é incomum que o governo argelino não aceite nos portos de Algiers e D’oran cargas que tenham feito transbordo no porto marroquino de Tanger.

Nesses momentos, o transbordo precisa ser feito em Algeciras, na Espanha, do outro lado do estreito de Gibraltar. “É como se o taxímetro estivesse rodando e encarecendo o frete. A variável de custo hoje em dia é o mundo”, diz o importador.