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Especialistas veem cenário mais favorável aos Fiagros em 2024

Emissões caíram em 2023, mas expectativa é de forte aumento no ano que vem

Fernando Lopes

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Turbulências no mercado de capitais envolvendo empresas como Lojas Americanas e Light, juros básicos da economia ainda elevados e queda de margens em cadeias agrícolas como a da soja, limitaram as emissões de Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagro) no país em 2023. Foram cerca de R$ 8 bilhões até novembro, ante R$ 7,3 bilhões em todo o ano passado, mas as expectativas iniciais eram de um avanço maior. Nem de longe isso significa que o instrumento, protagonista em um setor que demanda cada vez mais crédito privado, perdeu o brilho. Ao contrário. Houve avanço em um ano difícil, e a expectativa nesse mercado é que o montante registre incremento expressivo em 2024, com aumento do número de IPOs e follow-ons.

“Antes, o setor ficava refém de empresas que acessavam diretamente o mercado de capitais. A situação mudou com o Fiagro, que ampliou a ponte entre o campo e a Faria Lima”, afirmou Pedro Freitas, sócio e responsável por agro e consumo no Investment Banking da XP, ao IM Business. O banco tem participações de 55% na distribuição de Fiagros e de 35% no caso dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), principais ativos dos fundos, que já fazem parte das carteiras de centenas de milhares de investidores pessoas-física no Brasil. Há registrados na B3 mais de 30 Fiagros, com patrimônio líquido total que supera R$ 10 bilhões, e a maior parte superou o CDI em 2023. No total, são cerca de 80 fundos, com patrimônio que já se aproxima de R$ 20 bilhões.

Embora os problemas provocados pelo El Niño para a produção de grãos no país nesta safra 2023/24 ainda possam crescer e gerar prejuízos expressivos aos produtores rurais, no momento as perspectivas para os Fiagros no ano que vem são positivas. Freitas acredita que o ritmo de emissões poderá ser similar ao do ano passado, ou até melhor. Ele prevê águas mais tranquilas para o agro no mercado de capitais, e vislumbra inclusive a retomada da abertura de capital de empresas ligadas ao setor na bolsa, também incentivada pela queda da taxa Selic. Novas emissões de debêntures também estão no radar.

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Com dois Fiagros sob gestão, um lançado em 2022 (R$ 240 milhões) e outro em 2023 (R$ 550 milhões), a AZ Quest Investimentos prevê melhora do ambiente para novas emissões em 2024, sobretudo no segundo semestre. “Nos nossos dois fundos, procuramos inbubar teses capazes de gerar novos produtos, como créditos de carbono, biogás, fertilizantes especiais e processamento. No segundo semestre de 2023, a originação foi muito difícil, por causa das adversidades causadas pelo clima. Os Fiagros vieram para ficar e estão potencializando as emissões de CRAs, num processo que tem levado a uma flagrante melhora na governança de empresas do agro”, disse Maria Tereza Vendramini, sócia e head comercial da estratégia agro da AZ Quest.

Nesse caminho, as emissões de CRAs, embora tenham diminuído em 2023 para cerca de R$ 20 bilhões, ante R$ 34 bilhões em 2022, não só estão como uma alternativa para alongamento de dívidas, reforço de caixa ou investimentos por parte de produtores e agroindústrias, mas também estão “democratizando” ao crédito privado e abrindo espaço para a chegada de novos players ao mercado. A asset Bloxs Capital Partners, por exemplo, quase dobrou a originação em 2023, para R$ 2,4 bilhões, com CRAs de ticket médio de R$ 27 milhões. “Entre nossos parceiros estão produtores, revendas de insumos, laticínios, cooperativas e indústrias de rações e de vacinas. Nossa expectativa é triplicar os volumes em 2024”, afirmou Guilherme Danelli, sócio e diretor de investment banking da Bloxs.

Com um Fiagro de R$ 50 milhões sob gestão e carteira com R$ 200 milhões em CRAs, a Sparta Fundos de Investimento vê pela frente uma tendência também de pulverização dos Fiagros, que além dos CRAs podem ter como lastro Cédulas do Produto Rural (CPRs) ou debêntures, entre outros ativos. “Os Fiagros têm se mostrado um ótimo produto para o varejo”, disse Márcio Takaya, sócio da Sparta, cujo foco está em crédito “high grade”. “Mesmo sendo o gestor de crédito um pessimista por natureza”, brinca Takaya, “o agro vai continuar e os Fiagros vão se consolidar como a alternativa importante que é”.

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É claro que haverá sempre pedras no caminho dos CRAs e dos Fiagros, como houve em 2023 com a debacle da cooperativa gaúcha Languiru e os problemas observados no segmento de revendas de insumos, players importantes no mercado de crédito rural privado. Mas o otimismo prevalece e os planos de novas emissões amadurecem. Um deles é da EQI Asset, que pretende lançar seu primeiro Fiagro no primeiro semestre do ano que vem. O IPO deverá alcançar entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões, mas a expectativa de Eça Correia, co-head da EQI, é ampliar rapidamente esse valor com follow-ons.

“Ainda teremos engasgos no campo em 2024, já que produtores médios e grandes podem ter problemas em razão de altas alavancagens. Mas as margens de lucro tendem a ser melhores em algumas cadeias importantes e o ano que vem tende a ser melhor que 2023”, afirmou Correia. “No agro, o crédito é uma esteira que está em evolução. O Fiagro é o instrumento que faltava, e está apenas começando. As perspectivas são muito boas”, disse Renato Buranello, advogado especialista em agronegócios e sócio do escritório VBSO.

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