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CCR mira eficiência energética e reforça seletividade em novas concessões

Empresa tem como meta chegar ao fim de 2025 com 100% de energia limpa em sua operação e estuda o uso de hidrogênio verde em trens

Rikardy Tooge Vera Brandimarte

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Há pouco mais de quatro meses no comando da CCR (CCRO3), Miguel Setas se prepara para o primeiro contato público com o mercado. No investor day da empresa, marcado para o fim deste mês, deverá sinalizar prioridades de sua gestão, que buscará entregar uma empresa mais simples, previsível e focada em gerar valor. “O nosso acionista não quer crescer a qualquer custo e, portanto, temos que ser seletivos nos nossos investimentos”, reforça o executivo, em conversa com o IM Business.

Econômico ao falar dos planos da empresa, que reserva para contar no investor day, ele se sente mais à vontade para discorrer sobre como tem, em paralelo à revisão do programa de investimentos, concentrado esforços em acelerar a agenda ESG do grupo. Uma das prioridades é que a empresa tenha energia limpa em 100% de suas operações até o fim de 2025. Contratos com fornecedores de energias renováveis e autogeração – a companhia já faz geração própria de 3 megawatts – estão na mesa e a tendência é que a CCR faça um mix dessas ofertas. “Temos que achar um modelo que nos traga eficiência de custo e que possa ser uma fonte de negócios”, explica. A questão está longe de ser trivial para a CCR. O gasto por volta de R$ 400 milhões em energia elétrica por ano e faz dela uma das maiores consumidoras do país, especialmente pela sua vertical de transporte público.

Um dos planos de Setas é implementar trens movidos a hidrogênio verde, tecnologia que ganhou tração nos últimos anos na China, França e Alemanha. Atualmente, existem apenas fornecedores estrangeiros para o produto: a francesa Alstom e a sul-coreana Hyundai Rotem – esta última já fornece trens para a CCR nos metrôs de São Paulo e Salvador. Quanto ao produtor do hidrogênio verde, o executivo diz que vem conversando com o mercado e um acordo firme de abastecimento poderia ser uma possibilidade, com vistas a dar capacidade de investimento a esse fornecedor. O negócio de hidrogênio verde ainda está começando no Brasil e empresas como Unigel, Braskem e EDP têm dado seus primeiros passos na produção do combustível no país.

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Ainda no tema ESG, mas no quesito da governança, o CEO da CCR destacou que a empresa passou por transformações profundas nos últimos cinco anos após ter ex-executivos ligados a denúncias de corrupção no governo de São Paulo e no âmbito da Operação Lava Jato, em que profissionais fizeram acordo de delação premiada. Miguel Setas afirma que a empresa aprimorou seu compliance. Ele cita a entrada de Itaúsa e Votorantim na CCR – cada uma possui 10,33% do capital da empresa – há quase dois anos para reforçar seu argumento de que esta é uma questão superada na organização. “Investidores desse porte não entrariam no negócio sem fazer uma diligência robusta.”

Miguel Setas, CEO da CCR: executivo português assumiu a empresa em abril (Divulgação)

A partir da entrada dos Setúbal e Ermínio de Moraes na CCR, a gestão de custos, eficiência e a busca por retorno dos investimentos ganharam ainda mais atenção, diz o CEO. Sintomático, o primeiro movimento de Setas ao assumir a empresa, em meados de abril deste ano, foi o de mexer no C-level. Ele diminuiu de 11 diretores estatutários para sete vice-presidentes, em um modelo que traz maior agilidade à tomada de decisões.

O executivo diz ainda que, diante de um pipeline de R$ 220 bilhões em concessões de rodovias e de R$ 20 bilhões em transporte de passageiros nos próximos anos no país, é natural que a empresa olhe muito mais para essas iniciativas que, por exemplo, para aeroportos, em que não há tantos ativos em jogo. “É nossa obrigação avaliar todos os editais de concessão, mas isso não significa, necessariamente, que temos que entrar em todos eles.”. A CCR não disputou, por exemplo, o leilão do primeiro lote de concessão de rodovias do Paraná, no mês passado, porque não viu ali perspectiva de taxa de retorno que justificasse o investimento. “A avaliação de risco e retorno é o que vai prevalecer”, reforça. “Não vai faltar dinheiro para projetos bons”, acrescenta. Ele não considera um aumento de capital neste momento.

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No entanto, a empresa deverá encontrar espaço em seu balanço para movimentos mais agressivos. Com um endividamento líquido de R$ 23,2 bilhões, a CCR conseguiu reduzir sua alavancagem (que considera a dívida líquida pelo Ebtida) de 3,2 vezes no segundo trimestre de 2022 para 2,9 vezes no mesmo período deste ano. A despeito da melhora, as dívidas de curto prazo cresceram de R$ 3,9 bilhões para R$ 8,8 bilhões no comparativo.

Com cerca de R$ 35 bilhões contratados para obras em aeroportos, rodovias e transporte público pelo país, a CCR mantém seu foco em mobilidade urbana e em ativos dentro do Brasil, onde 85% da população mora em grandes centros urbanos, de acordo com o último Censo. “Somos especialistas em gerenciar grandes complexidades”, afirma Setas, ao lembrar que a CCR Mobilidade Urbana transporta 3 milhões de passageiros por dia, por meio do Metrô, trens e VLTs em grandes capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.

A CCR encerrou o primeiro trimestre do ano com lucro líquido ajustado, em que desconsidera efeitos não-recorrentes, como reequilíbrios contratuais, de R$ 520,2 milhões, alta de 88% em relação a igual período do ano passado. A receita líquida cresceu 8,1%, para R$ 6,33 bilhões. No ano, as ações da CCR sobem cerca de 15% na B3.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br