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Care Plus mira novas aquisições – e tem um cheque de mais de R$ 500 milhões

Operadora de saúde premium ficou de fora dos M&As do setor nos últimos anos por considerar os valuations negociados 'fora de qualquer contexto'

Lucas Sampaio

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A Care Plus esperou por anos para fazer aquisições no Brasil, mas finalmente chegou a hora de ir às comprase tem um cheque de mais de R$ 500 milhões para isso. Uma das principais operadoras de saúde premium do Brasil, a empresa diz que não estava disposta a pagar os valuations de algumas transações que aconteceram nos últimos anos, quando grandes companhias disputaram ativos em verdadeiros leilões, pagando caro por eles, e acompanhou de fora a forte consolidação do setor de saúde.

Mas agora o cenário mudou. A grande maioria das operadoras está sofrendo com a alta sinistralidade, devido a uma mistura de fatores que envolve tratamentos represados na pandemia, maior preocupação dos beneficiários com a saúde e um crescimento exponencial de fraudes. Além disso, as taxas de juros continuam em patamares restritivos e os grandes players do mercado, incluindo redes de hospitais e de laboratórios, estão endividados e/ou digerindo M&As recentes.

“Os múltiplos que eram pagos na área de saúde no Brasil não foram vistos em nenhum lugar do mundo. E para ativos não tão atraentes assim. Eram múltiplos fora de qualquer contexto”, afirmou Luiz Camargo, CEO da Care Plus, ao IM Business. “Somos extremamente disciplinados e agora que os preços estão mais razoáveis estamos mais ativos. Devemos anunciar mais um M&A até o fim do ano”.

A empresa comprou recentemente o Inpao Dental, uma operadora de planos de saúde odontológicos que quadruplicou o número de vidas da empresa no segmento, e a aquisição ainda em 2023 deve ser um laboratório de análises premium, complementar ao seu core business em planos de saúde. Além disso, está em conversas com escritórios especializados em M&As, como o Fortezza Partners e o JK Capital, para fazer mais transações.

Luiz Camargo, CEO da Care Plus (Foto: Divulgação)

O CFO Manny Roman diz que a empresa tem mais de R$ 500 milhões para gastar e busca ativos “interessantes”, que tenham sinergias com a sua operação. A estratégia não é necessariamente verticalizá-la, como outros players fizeram, mas sim comprar negócios de qualidade e bem administrados, com uma cultura forte. “Não vamos fazer aquisições que não façam sentido. Boa parte [dos negócios] nós olhamos lá atrás, mas concluímos que não valiam a pena”.

Ativos “estressados” ou que precisem de melhorias financeiras ou operacionais estão fora de cogitação. O foco são empresas bem geridas e saudáveis, e a Care Plus não se importa se tiver de pagar a mais por isso. “Queremos ativos interessantes, negócios que já tenham margem e crescimento. Não compramos empresas para fazer turnaround”, afirma o CEO. “Algumas operações não são sustentáveis”.

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Fundada em 1992 em São Paulo, a Care Plus foi comprada em 2016 pelo grupo inglês Bupa, que tem mais de 37 milhões de beneficiários e atua em mais de 190 países. No Brasil, a Care Plus atende ca erca de 1,6 mil empresas e a mais de 600 mil beneficiários atualmente, somando as vidas do Inpao. E, mesmo com um crescimento na sinistralidade, de 72% em 2021 para 77% em 2022, a empresa aumentou seu faturamento em 30% no ano passado, para R$ 1,7 bilhão, e o seu lucro líquido em 35%, para R$ 110 milhões.

A ideia da Bupa era, desde o início, crescer de forma inorgânica no Brasil. Mas os preços congelaram a estratégia, e o foco foi elevar a receita organicamente até o mercado ficar mais racional. Os múltiplos de venda, que chegaram a 23-25x Ebitda no passado recente, hoje estão na casa de 9-11x e há até oportunidades na casa dos 5-7x, segundo os executivos. Mas eles afirmam que a filosofia da Care Plus não é forçar a negociação para comprar a múltiplos mais baratos. “Somos um bom comprador e queremos pagar um preço justo. Se a operação for boa e agregar valor para nós, vamos equalizar a expectativa do vendedor com a nossa capacidade de pagamento”, afirma o CFO.

Roman, que trabalhava na Bupa em 2016 e foi o responsável pelo due dilligence na Care Plus, hoje é o responsável por analisar as potenciais aquisições no Brasil. Ele demonstra especial interesse em planos odontológicos, cujo espaço para crescimento no Brasil é muito grande — a taxa de cobertura atual é de 16% ante quase 80% nos Estados Unidos. Ele vê nesta área também uma regulação mais favorável e uma sinistralidade menor do que nos planos de saúde, e exatamente pela questão da regulação, o executivo descarta outros players que tenham planos individuais na carteira – um caminho que a empresa pensou em trilhar no passado.

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Manny Roman, CFO da Care Plus (Foto: Divulgação)

Concorrência menor

A compra do Inpao caiu como uma luva nos pré-requisitos da Care Plus. Luis Mazzarella Martins, sócio da JK Capital que participou do negócio e assessorou a ponta vendedora, diz que a empresa estava conversando com outros players, mas a cultura e a postura da Care Plus foram essenciais para os donos da empresa selarem o acordo. “O que os sócios valorizaram muito no negócio foi o feat de cultura, de política interna. É um ponto que pouca gente valoriza, mas é importante essa combinação entre as empresas”.

Martins afirma que uma das vantagens de negociar com a empresa é que ela tem visão de longo prazo e não é listada, pois companhia de capital aberto tem a pressão do resultado trimestral e o mercado tem uma visão que penaliza quem paga “caro” por um negócio, mas também quem não compra. “É uma visão mais imediatista do mercado. Com um plano de dez anos, de entender o potencial do negócio, fica muito mais fácil tomar essas decisões”.

Harold Takahashi, sócio do escritório Fortezza Partners, diz que o momento atual favorece quem está indo às compras, como a Care Plus. “Em saúde, os principais compradores estão digerindo as aquisições feitas recentemente ou digerindo o seu endividamento, então é difícil que os múltiplos pagos nos últimos anos se repitam no curto prazo”, afirma Takahashi. “Com muita frequência, Dasa, Rede D’or, Fleury e Hapvida fizeram compras ‘caras’, de muitas vezes o Ebitda anual. Não vejo esse cenário se repetindo no curto prazo”.

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Foram centenas de deals nos últimos anos, de hospitais e rede de laboratórios locais a grandes fusões. Só para ficar nos maiores negócios – e em empresas listadas –, a Rede D’Or comprou a SulAmérica, a Hapvida se juntou à NotreDame Intermédica e o Fleury incorporou o Hermes Pardini.

Takahashi trabalhou por 15 anos no Fleury e participou de mais de 30 fusões, liderando mais de 20 delas. Foi assim que conheceu a Fortezza, que surgiu de um spin off operacional da divisão do CSHG (Credit Suisse Hedging-Griffo) que focava em fusões e aquisições no middle-market. Recentemente, o escritório participou da venda do Boris Berenstein, uma clínica de diagnóstico por imagens de Recife, para a Dasa. Ele diz que a área de diagnósticos ainda é muito segmentada e que as oportunidades atuais estão principalmente nas especialidades médicas, como oftalmologia, ortopedia e serviços ambulatoriais, como clínicas e hospitais dia, e até mesmo em serviços estéticos.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.