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Câmbio e interesse do investidor estrangeiro movimentam mercado da arte

Setor vive bom momento: feiras de arte lotadas de gringos e artistas brasileiros buscando internacionalização

Mariana Amaro

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Enquanto a popularidade das NFTs (token não fungíveis) despenca com uma queda de quase 50% em negociação entre 2021 e 2022, o mundo da arte mais tradicional vive um momento de retomada – e o Brasil, segundo especialistas, pode ser muito beneficiado com isso por duas principais razões: o câmbio favorável e o crescente interesse por produtos brasileiros nesse setor.

Essas são as conclusões de Tamara Brandt, diretora de novos negócios da SP-Arte, produtora cultural que promove duas importantes feiras de arte no Brasil: SP–Arte e SP–Arte Rotas Brasileiras. A mais recente, que aconteceu em setembro, em São Paulo, contou com quase o dobro de expositores da edição anterior do mesmo evento, reuniu 15.000 participantes e deixou galeristas sorrindo com as vendas.

Nesta edição, foram expostos itens de R$ 50 a R$ 10 milhões. A empresa não abre os números, mas afirma que as vendas superaram as do ano passado e que mais de uma galeria esgotou seu estoque. “O público deste ano estava interessado em comprar. Isso tem relação com o fortalecimento da arte local, mas foi muito favorecido pelo público internacional, que veio atraído pelo câmbio”, diz. Mais de 35 instituições internacionais, o Museu Thyssen-Bornemisza, de Madri, e o New Museum, de Nova York, entre eles, vieram comprar para suas coleções.

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Evento SP-Arte Rotas Brasileiras, que aconteceu em setembro, contou com maior presença de estrangeiros interessados em comprar (Foto: Divulgação/ SP-Arte)

O Brasil está na moda?

A 35ª Bienal de Arte, que começou em setembro e vai até meados de dezembro, contará com dois dos quatro curadores brasileiros e a Bienal de Veneza, que acontece no ano que vem, terá curadoria do brasileiro Adriano Pedrosa, a primeira pessoa do hemisfério sul a alcançar o posto.

Segundo os especialistas, esse ‘momentum’ deve continuar. “Não é uma agenda e não vai sumir: os museus pelo mundo estão revendo seus acervos, buscando riquezas e diversidades e o Brasil tem estrutura para oferecer isso”, afirma Brandt. Nos últimos anos, o setor também tem se profissionalizado e saído do eixo Rio-São Paulo, com nascimento de polos em outras regiões, como Goiás e Pernambuco.

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Mercado fechado

O mercado da arte, como outros, tem uma opacidade: muitas das obras são negociadas a portas fechadas, valores mudam de acordo com critérios subjetivos e nem sempre é possível rastrear as origens. Há ainda os entraves burocráticos e tradicionais. “Importar uma obra de arte pode custar 50% a mais em tributos. Isso é muito ruim para galeristas internacionais que querem entrar ou permanecer no Brasil, mas acaba ‘protegendo’ de certa forma o mercado nacional”, afirma Brandt. Isso, garante, não é positivo. “Até artistas brasileiros, que produziram fora, não conseguem trazer as obras”, afirma.

Segundo o estudo da feira Art Basel com o banco UBS, a venda de obras no mundo no ano passado somou R$ 70 bilhões – um aumento de 3% na comparação com o ano anterior e superior ao nível pré-pandemia. O Brasil representaria uma pequena fatia, de 0,5%. Os números, contudo, são desacreditados por pessoas do setor. “Há muito mais dinheiro circulando em acordos fechados”, diz uma fonte.

E mais: segundo galeristas ouvidos pela reportagem, esse percentual poderia ser bem maior se houvesse segurança [já que o custo com seguro é alto] e uma revisão de custos para importação de obras. “Se houvesse mais obras entrando no país, a arrecadação também aumentaria. Mas, hoje, as taxas inviabilizam”, diz um dos especialistas que pediu anonimato. A entrada maior de obras também ajudaria o setor a ter mais liquidez e poderia atrair novos colecionadores. “Se um investidor tem R$ 1 milhão e quer investir em arte, pode ter dificuldade de liquidez caso precise resgatar o investimento”, afirma um galerista que atende investidores interessados.
O interesse do investidor nacional também tem crescido. Embora ainda de forma muito tímida, brasileiros têm procurado investir mais em arte. Desde 2019, e numa tendência de alta, galeristas e a própria SP-Arte têm sido procurados por gestores patrimoniais e de family offices com uma demanda: seus clientes querem comprar e investir em arte. “Existe um interesse crescente e uma busca por orientação, como fazer um due diligence em uma obra”, afirma Brandt, que tem sido procurada por bancos e privates para auxiliar em avaliações.

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Da porta para fora

Além de movimentar o mercado interno, o setor também tem acompanhado oportunidades fora do país. Uma das participantes da SP-Arte, por exemplo, a Oficina Francisco Brennand, de Recife, que produz utilitários e peças decorativas pela equipe de oleiros e decoradores do artista, precisou buscar uma quantidade extra de peças para atender consumidores que procuravam pelo ovo de cerâmica, de R$ 420 reais, ou um dos pratos decorativos, por cerca de R$ 1.300.

Com a alta da demanda, a Oficina precisou ampliar a sua produção e adquiriu um novo forno. “É notório esse movimento de aquecimento do setor. A realização de feiras, por exemplo, é um momento em que o mercado se anima, as galerias podem mostrar para todos seus acervos. Esse movimento, naturalmente, aguça o desejo dos consumidores de arte”, diz Marcos Baptista, presidente da instituição,. “Não realizamos exportações regulares, apenas por demanda. Inglaterra e Estados Unidos são exemplos de destinos recentes da nossa produção. Mas o mercado internacional é um objetivo”, diz. Enquanto não vai para fora do país, a Oficina terá uma pop-store no shopping Iguatemi. “Planejamos ampliar a nossa presença em todo o país”, afirma Baptista.

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Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.