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Atlas Lithium acelera projeto para produzir lítio no fim de 2024

Do investimento de R$ 1 bi previsto, R$ 200 milhões já foram alocados nas fases de pesquisa e sondagens das reservas

Ivo Ribeiro

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O avanço da produção de carros elétricos na China, Europa e Estados Unidos acelera a expansão de uma indústria nova no mundo, a de mineração e industrialização do mineral de lítio para fabricação de baterias elétricas –  o “motor” dessa nova geração de carros. O Brasil entrou nessa corrida e já tem uma empresa produzindo lítio para bateria no Vale do Jequitinhonha, na região noroeste de Minas Gerais. O novo player planeja pôr em operação seu projeto e iniciar produção no quarto trimestre de 2024. 

A americana Atlas Lithium, criada e controlada pelo empresário brasileiro Marc Fogassa, dividiu seu projeto em duas fases, cada uma produzindo 150 mil toneladas de concentrado de lítio, tipo espodumênio, grau bateria. O plano prevê  investimento de US$ 49,5 milhões na montagem dessa primeira etapa. As atividades de mineração e de produção do concentrado de lítio ficam no município de Araçuaí, dentro da região que abriga vastas reservas de lítio no país, onde a Sigma Lithium já produz desde abril. 

O equipamento principal de processamento do lítio, com tecnologia conhecida como DMS, já foi encomendado e se encontra em fabricação no exterior, informou Fogassa ao IM Business. As demais instalações da planta industrial serão fornecidas por empresas brasileiras. “Nosso projeto completo prevê investimento de R$ 1 bilhão no Brasil; desse valor, cerca de R$ 200 milhões já colocamos nas fases de pesquisa e sondagens das reservas”, afirmou. 

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Marc Fogassa, da Atlas Lithium

Para dar suporte ao investimento da fase 1, no início de dezembro a Atlas assinou um acordo estratégico de US$ 50 milhões com dois grupos chineses refinadores de concentrados de lítio. Pelo contrato, Chengxin Lithium Group e Yahua Industrial Group se tornam acionistas da Atlas e garantem compra antecipada de grande parte da produção na fase 1. Ambos os grupos são fornecedores de hidróxido de lítio para Tesla, BYD, CATL, LG Chemical e LG Energy Solutions, entre outros consumidores da matéria-prima para baterias elétricas. O banco Goldman Sachs atuou como assessor financeiro da Atlas na transação.

Do valor envolvido no acordo, 20% serão convertidos em equity (subscrição de ações da Atlas, a US$ 29,77) e 80% como pré-venda de concentrado de lítio (total de120 mil toneladas anuais). O contrato tem validade de cinco anos e pode ser renovado, destacou Fogassa. “Dessa forma, a Atlas já se insere na cadeia global de suprimento de lítio aos grandes fabricantes de baterias e de carros elétricos”, afirma o empresário.

“São dois players produtores de alta qualidade que quiseram se associar a nós; por isso tivemos de dividir o negócio. Cada um terá direito de levar 60 mil toneladas de concentrado”, disse Fogassa. Ele destaca que a China está bem avançada no processamento de lítio, com domínio de mais de 90% da propriedade intelectual para se obter hidróxido e carbonato de lítio, dois elementos cruciais na fabricação de baterias. 

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A Chengxin, fundada em 2001 e sediada em Chengdu, está avaliada em Bolsa em torno de US$ 2,8 bilhões. O principal negócio da empresa é a produção e venda de materiais para baterias de lítio, como concentrado, carbonato, hidróxido, cloreto e lítio metálico. Atualmente, sua fábrica tem uma capacidade de processar 72 mil toneladas de produtos químicos de lítio por ano. A empresa está montando uma nova unidade, de 60 mil toneladas, na Indonésia, prevista para operar no primeiro semestre de 2024.

Também sediada em Chengdu, a Yahua  existe desde 1952 e tem ações na Bolsa de Shenzhen, avaliada em cerca de US$ 2,2 bilhões. É uma companhia diversificada no ramo químico com produtos de lítio, entre outros. A Yahua tem uma capacidade anual superior a 70 mil toneladas, incluindo carbonato de lítio industrial e de bateria e hidróxido de lítio, segundo informações da Atlas. A  empresa tem um projeto para ir a mais de 100 mil toneladas até 2025.

Segundo o controlador da Atlas, as condições de preço acertadas com as parceiras chinesas foram “muito interessantes e competitivas”, e vão garantir geração de caixa para a empresa. “O acordo tem a grande vantagem de ser uma venda direta ao processador (refinadoras de lítio), sem intermediário na cadeia de suprimento”, afirmou. O acordo tem uma cláusula que não impede uma potencial venda da companhia, lembra o empresário.  

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Fogassa tem entre seus sócios na Atlas os fundos BlackRock, Waratah, Fidelity, Invesco, Thomist Capital, Polar, dentre outros investidores institucionais. A Atlas é listada na bolsa americana Nasdaq desde janeiro de 2023 e atingiu, na quinta-feira (28), valor de mercado de US$ 371 milhões. Com sede em Boca Raton, Estado da Flórida, e escritório em Belo Horizonte, a companhia é dona de reservas de lítio requeridas e adquiridas em Araçuaí, Itinga e outros municípios da região conhecida como Vale do Lítio de Minas. Atualmente, são 54 direitos minerários espalhados em uma área de 240 quilômetros quadrados. 

O projeto completo da Altas Lithium está desenhado para 300 mil toneladas de concentrado de espodumênio ao ano, com investimento total de US$ 200 milhões. A instalação da fase 2 está planejada para até meados de 2025, devendo operar à plena capacidade em 2026. O CEO e chairman da empresa informa que, com reservas de lítio (pegmatitos) das áreas Anitta 2 e 3 já delineadas e resultados de testes metalúrgicos positivos, decidiu-se por agilizar o cronograma do Projeto Neves.

Para antecipação de metade do projeto, a empresa optou pela encomenda de uma planta modular da tecnologia DMS – que não necessita elementos químicos no processo de beneficiamento do lítio.  Bem mais compacta que as existentes, é inédita no Brasil, segundo Fogassa. A previsão é que a instalação seja despachada ao Brasil por volta de abril.  Segundo o empresário, a empresa vai utilizar energia renovável no projeto, sem uso de produtos químicos perigosos (por meio da tecnologia DMS), estocagem de rejeito pelo método de empilhamento a seco (sem barragens) e utilização de água reciclada.

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A estimativa é gerar de 400 a 500 empregos diretos e 1,5 mil indiretos no empreendimento, com treinamento de pessoas (mulheres e homes) da região para trabalhar na empresas como técnicos. As licenças prévias e de instalação já foram pedidas desde setembro ao órgão ambiental de Minas Gerais. “O minério da área Anitta 2, onde começaremos a extração de lítio, fica embaixo de áreas degradadas de pastagens, quase aflorado, entre 3 e 9 metros de profundidade”, informa.

Segundo Fogassa, a decisão de acelerar o projeto foi para “não perder tempo” e aproveitar o consumo crescente no mercado por lítio grau bateria. Segundo dados de consultorias especializadas, até 2033 a demanda atingirá 3,5 milhões de toneladas de LCE (carbonato de lítio equivalente). A previsão para 2023 era de menos de 1 milhão de toneladas. Os preços atuais, diz Fogassa, ainda são considerados bons para produtores de baixo custo – entre US$ 1,6 mil e US$ 1,7 mil a tonelada de concentrado. Ele disse que o custo cash da Atlas está estimado na faixa de US$ 400 a tonelada. “É bem competitivo”, afirma.     

A Atlas informa que continua com sua campanha de perfuração exploratória, buscando novos depósitos de lítio nas suas áreas de concessões. A empresa tem como meta divulgar uma estimativa de recursos minerais até final do primeiro trimestre, juntamente com a avaliação econômica preliminar, conforme comunicado a investidores. O plano é emitir um Estudo de Viabilidade Definitivo no segundo trimestre, abrangendo a meta de produção total de 300 mil toneladas do projeto.