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Bancos Votorantim e Daycoval aderem ao plano de recuperação judicial da Americanas

Varejista propôs aos credores 'conduzir transações' com a AME Digital e toda a sua operação on-line. Mas quer que parte das vendas entrem em seu caixa

Lucas Sampaio

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A Americanas afirmou na noite desta terça-feira (12) que os bancos Votorantim (BV) e Daycoval aderiram ao seu plano de Recuperação Judicial (PSA) e que, agora, a proposta passou a contar com o apoio de credores quirografários titulares de mais de 38,5% da dívida da companhia (excluindo os créditos intercompany).

Até então, os quatro maiores credores da companhia já haviam aceitado os termos: Bradesco (R$ 4,13 bilhões), Santander (R$ 3,57 bilhões), BTG Pactual (R$ 3,52 bilhões) e Itaú (R$ 2,74 bilhões). O Safra, que tem o quinto maior saldo a receber (R$ 2,53 bilhões), ficou de fora e tenta impedir na Justiça a votação do plano — a Assembleia Geral de Credores (AGC) está marcada para a próxima terça-feira (19).

O BV tem R$ 305,6 milhões em créditos e o Daycoval, cerca de R$ 500 milhões.

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A empresa informou ainda, em comunicado ao mercado, que os titulares de 85,42% das debêntures da 17ª emissão também aprovaram a adesão à proposta. A diretora financeira e de relações com investidores, Camille Loyo Faria, afirmou no documento que “a companhia manterá seus acionistas e o mercado em geral atualizados acerca de novas adesões ao PSA e demais assuntos relacionados”.

O comunicado é divulgado no mesmo dia em que a empresa apresentou aos seus credores uma versão atualizada do seu plano de Recuperação Judicial (PSA). O documento aponta que a dívida total da companhia é de R$ 50,1 bilhões, dos quais R$ 42,5 bilhões são créditos a serem reestruturados e os outros R$ 7,6 bilhões, créditos intercompany (que terão um deságio de 80% e serão pagos em parcela única em 2044).

A apresentação diz também que a fraude total detectada foi de R$ 25,2 bilhões e que o seu volume e a sua duração foram “viabilizados por robusta geração de caixa resultante das operações de financiamento deliberadamente ocultadas na conta de fornecedores”.

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AME Digital e operação on-line

Nele, a Americanas propôs não só vender o Hortifruti Natural da Terra (HNT) e a Uni.co, empresa de franquias que detém marcas como Imaginarium e Puket, mas também “conduzir transações” que envolvam a AME Digital e toda a sua operação de varejo on-line, incluindo o marketplace (3P) e até sua operação de revenda digital (1P on-line).

A AME Digital é uma IP (Instituição de Pagamento) autorizada pelo Banco Central e responsável pelos serviços de wallet (carteira digital) da varejista, além de um meio de pagamento e um programa de fidelidade que concede cashback (dinheiro de volta ao consumidor).

Já a operação on-line engloba toda a operação de varejo digital da empresa, inclusive a plataforma de venda comissionada de produtos e serviços de terceiros (marketplace ou 3P) e “os ativos necessários para a prestação deste serviço”.

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A Americanas diz ainda, no documento apresentado aos credores, que uma possível transação envolvendo a operação on-line pode incluir “a operação de revenda digital (1P) e o acesso a rede de lojas físicas, com integração para viabilizar a operação de O2O (on-line to off-line) e/ou marcas vinculadas ao varejo digital”.

Parte do dinheiro no caixa

A proposta da Americanas é que as quatro áreas (HNT, Uni.co, operação on-line e AME) sejam transformadas em UPIs (Unidades Produtivas Isoladas), ou “agrupamento de ativos (…) que podem ser alienados durante o processo de Recuperação Judicial“. E que parte do dinheiro arrecadado com os negócios possa entrar no seu caixa, até o limite de R$ 1 bilhão.

Segundo a varejista, a operação on-line e a AME podem trazer “flexibilidade para a companhia conduzir transações que agreguem valor à sua estratégia”. Sobre o Natural da Terra e a Uni.co, a empresa afirma que terá a “obrigação de promover processos organizados de alienação”.

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Ambos os ativos já estavam à venda. A companhia chegou a engatar negociações exclusivas para alienar o HNT, mas desistiu no começo de novembro. Um mês antes, a varejista feito o mesmo com a Uni.co, por considerar que as ofertas recebidas “não refletiam o real valor do ativo”.

Segundo a proposta, o que for arrecadado até R$ 1 bilhão irá diretamente para o pagamento antecipado das debêntures. Já o que exceder R$ 1 bilhão e chegar até 2 bilhões ficaria para a companhia. Se os negócios superarem
os R$ 2 bilhões, o restante irá também para o pagamentos antecipado das debêntures.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.