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A nova droga da Apsen para portadores de TDAH

Com faturamento de R$ 1,3 bi em 2023, indústria começou a produzir o Atentah, primeiro medicamento não-estimulante para portadores do transtorno

Lucinda Pinto

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Em 2022, cerca de 11 milhões de brasileiros tinham um diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), segundo dados do IBGE. A incidência era maior na população com idades entre 6 e 17 anos, de 7,6%. Mas também expressiva no grupo entre 18 e 44 anos (5,2%) e entre pessoas com mais de 44 anos (6,1%). O aumento desses casos tem gerado um intenso debate entre especialistas sobre o que pode ser uma “epidemia de diagnósticos”.

Independentemente do ponto de vista nessa discussão, os números deixam claro que há uma crescente demanda por algum tipo de acompanhamento e, em muitos casos, de medicação para quem tem os sintomas de um dos transtornos mais conhecidos nesta década.

Sob este cenário que a Apsen Farmacêutica viu espaço para lançar o Atentah, medicamento que vai competir com os conhecidos Ritalina (fabricado pela Novartis) e Venvanse (da indústria Takeda).

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Segundo dados da Close-up, empresa de conteúdo e serviços para a indústria farmacêutica, o mercado de medicamentos para TDAH cresceu de 30,9% a 43,6% em 2023 em relação ao ano passado, aproximando-se de um faturamento na marca de R$ 1 bilhão. Com o Atentah, a Apsen espera não só abocanhar uma fatia desse mercado como também contribuir para que o bolo cresça. Isso porque a nova droga, a primeira não-estimulante a chegar ao Brasil, deve atender a um grupo de pessoas que hoje não se adaptam aos medicamentos disponíveis. “São cerca de 11 milhões diagnosticadas com TDAH, mas sabemos que somente uma parte dessa população tem tratamento hoje”, diz Márcio Castanha, vice-presidente comercial da Apsen.

Além da falta de informação, contribui para que muitos portadores desse transtorno não utilizem medicamentos devido a ausência dessa alternativa no mercado. De forma resumida, a diferença é que as drogas estimulantes – que agem no núcleo accumbens (Acc), uma interface neural entre a motivação e ação motor – têm efeito rápido, de 30 a 60 minutos. Mas, após o pico desse efeito, o usuário experimenta um “vale”, reação à qual uma parte das pessoas não se adapta. Já a atomoxetina, molécula do Atentah que age no córtex pré-frontal – área do cérebro mais ligada à organização e planejamento – leva mais tempo para agir, de duas a quatro semanas, mas tem um efeito mais linear. Essa característica torna o medicamento mais adequado para um quadro crônico, na visão de Castanha. E, segundo o executivo, com a vantagem de chegar ao consumidor com um custo competitivo: a menor dosagem do Atentah, de 10 mg, teve seu preço aprovado em R$ 29,57.

Márcio Castanha, vice-presidente comercial da Apsen (Divulgação)

O lançamento do Atentah ilustra bem a estratégia adotada pela Apsen para crescer. Fundada em 1969, a empresa passou nas últimas duas décadas a buscar nichos específicos, que não são atendidos pela indústria local ou que são dominados pelas grandes multinacionais por meio da oferta de produtos mais caros. “A gente acabou entrando em especialidades que tinham necessidades médicas antes não atendidas. E isso faz com que a gente seja uma empresa prioritariamente de prescrição médica: 95% dos nossos produtos são vendidos porque um médico recomendou para o paciente”, explica. Além de medicamentos, a Apsen tem uma linha de suplementos alimentares- que inclui um psicobiótico -, que podem ser comprados livremente no balcão da farmácia, mas todos se enquadram na categoria de recomendação médica.

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A Apsen registrou em 2023 uma receita líquida de R$ 1,3 bilhão, um crescimento de 10% em relação ao ano anterior. O desempenho ficou abaixo da média dos últimos cinco anos, de 16,1%, período no qual a receita líquida saiu de R$ 650 milhões para R$ 1,3 bilhão. “Foi um ano bastante complexo para todo o mercado farmacêutico. Quando você tem menos pessoas com convênio de saúde, a indústria sofre um impacto”, afirma. O que garante um resultado expressivo, mesmo com os desafios do setor, é a ampliação do portfólio, diz o executivo. “Cerca de 35% da nossa receita hoje vem dos lançamentos que fizemos nos últimos cinco anos”, diz.

Para entender onde estão as brechas no tratamento — dosagens mais eficientes, alternativas de princípios ativos ou até mesmo preço mais acessível — e assim definir em que produtos mirar, a Apsen mantém um relacionamento estreito com uma rede de médicos. São eles que dão à empresa a noção de onde há necessidade de caminhos alternativos aos já oferecidos pela indústria.

Nesse mapeamento, a Apsen passou a atuar em 10 especialidades, sendo que os três principais são os segmentos de urologia, sistema nervoso central – que inclui uma droga para pacientes com Alzheimer – e doenças músculo-esqueléticas. Em todos os casos, a empresa passou a produzir medicamentos totalmente inovadores ou então mais acessíveis, por meio de parcerias com grandes centros de desenvolvimento. “Em alguns casos, nossos produtos são voltados para mercados que não são gigantes e, portanto, nem todo mundo tem interesse. Então, a gente acaba conseguindo ajudar o médico de uma maneira que ele vê muito valor”, diz Castanha.

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Ao mesmo tempo, a empresa realiza pesquisas junto aos pacientes para levantar informações como quais são as especialidades médicas mais procuradas e de que forma eles compram e consomem os medicamentos. “Precisamos entender qual é a dinâmica do paciente, saber se ele toma o medicamento corretamente, inclusive para poder ajudar o médico”, explica.

Lucinda Pinto

Editora-assistente do Broadcast, da Agência Estado por 11 anos. Em 2010, foi para o Valor Econômico, onde ocupou as funções de editora assistente de Finanças, editora do Valor PRO e repórter especial.