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De Plano Real a Escola sem Partido: FHC e Goldemberg debatem o Brasil

Em debate ao lado do presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, José Goldemberg, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso compara os desafios da atualidade com os de seu período no Palácio do Planalto e defende investimento em educação básica
Por  Um Brasil
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Além dos problemas fiscais da atual conjuntura econômica, o Brasil, por ser um país fechado para o comércio internacional, está condenado a utilizar tecnologias ultrapassadas e conviver com baixa produtividade. Para mudar esse cenário, o governo deve liderar uma agenda de desenvolvimento e saber comunicá-la à população.

Em debate promovido pelo UM BRASIL, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e o presidente do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), José Goldemberg, analisam como superar os desafios econômicos e pôr o País em uma rota de desenvolvimento sustentável.

De acordo com o ex-presidente da República, a adoção de uma política nacional que saneie as contas públicas ou que abra a economia requer “estratégia e persistência”. Ele avalia que o método para encarar os desafios atuais é semelhante ao de combate à inflação promovido pelo Plano Real, em 1994, quando ainda era ministro da Fazenda no governo Itamar Franco.

“Eu não sou economista, conheço alguma coisa sobre o assunto. Então, a primeira coisa para resolver um problema é juntar gente que entenda disso. O ministro, por exemplo, lidera, não é ele quem faz. Ele tem de ter capacidade de liderar, juntar, entender, perguntar. Foi o que eu tentei fazer”, comenta Fernando Henrique. “Depois, se for uma política de mudança na sociedade, não adianta ter razão. Você tem de fazer com que os outros acreditem que aquele é o caminho”, completa, reforçando que é importante o governo saber comunicar à população problemas complexos.

O ex-presidente avalia que, apesar de ter vencido a inflação, o Plano Real poderia ter avançado mais, inclusive ter contribuído para minimizar um dos problemas da atualidade. Ele lembra que seu governo conseguiu renegociar as dívidas de Estados e municípios, mas perdeu, por um voto, a chance de estabelecer uma idade mínima para a aposentadoria.

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“Nesse sentido, acho que o Plano Real foi positivo, porque controlou uma hiperinflação sem fazer truques, como controlar ou congelar preços, mas não conseguimos completamente organizar as finanças públicas”, analisa. “O governo, seja ele qual for, vai ter que enfrentar essas questões para poder ter uma estabilidade de longo prazo.”

Educação

Fernando Henrique Cardoso também salienta que uma política de desenvolvimento não pode negligenciar o papel da educação. Para ele, a precarização do ensino básico faz com que o estudante chegue à universidade em um nível inferior ao exigido pelo ensino superior. Além disso, o Brasil passou por um processo de proliferação de universidades que não gastam em pesquisa, o que também compromete a formação dos universitários.

“O importante é voltar a focar no ensino fundamental, treinar os professores e pagar salários razoáveis”, afirma Fernando Henrique. “Quanto à universidade, ela se caracteriza pela formação criativa. Então, tem de ter pesquisa. Não é só dar aula. Fazer faculdade sem pesquisa, sem que o professor seja produtor de cultura, não funciona”, completa.

Com experiências como ministro da Educação e secretário das pastas de Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente, Goldemberg complementa citando que a importância dada ao ensino superior em detrimento do ensino fundamental traz distorções para a sociedade e que a educação básica tem condições de resolver questões sociais pendentes. “Prestigiar o ensino fundamental seria uma maneira de resolver o problema de cotas. A escola fundamental tem uma grande característica: não tem cotas, é democrática. À medida que os alunos se formam bem, terão acesso às universidades. A questão de preservar cotas nas universidades é artificialismo. O problema que tem de ser resolvido é a educação de base”, reforça.

Ainda sobre educação, no que diz respeito à proposta que visa a implantar a Escola sem Partido, Fernando Henrique comenta que o professor “não pode impor a sua visão ao aluno como se fosse ciência”. “Todos nós temos opiniões, mas você não tem o direito, sendo professor, de dogmatizar, quero dizer, transformar a sua crença em um cânon da ciência. Tem que mostrar os vários lados.”

Tecnologia

No debate, os acadêmicos também enfatizam a importância da tecnologia para o desenvolvimento do País, política que costuma ficar comprometida em função do protecionismo brasileiro no setor comercial. José Goldemberg ressalta que os “países campeões do desenvolvimento” são os que conseguiram “saltar na frente” no advento de tecnologias. Esse impulso, segundo ele, deve-se à integração de suas economias com o mundo e a investimentos em pesquisa.

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“Precisamos criar pessoas suficientemente preparadas para entender a tecnologia de hoje e pensar o futuro”, afirma Goldemberg. “A visão que eu tenho é que, com essas tecnologias que existem e as que estão se desenvolvendo, vamos proporcionar os elementos para que os governos consigam estruturar a política de desenvolvimento.”

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