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Samba, mulata, futebol… e péssimos eleitores

A decisão tomada no último domingo foi surpreendente. É como se, cansado de apenas votar mal, o eleitor desistisse de vez do próprio estado
Por  Mario Vitor Rodrigues
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As rodas do avião apinhado de gente mal haviam tocado a pista molhada em Congonhas e logo corri para o celular. Lembro bem da cena porque era fim da tarde do último dia 7, quando aconteceu o primeiro turno da eleição. E a primeira mensagem que apareceu na tela me deixou com um péssimo pressentimento: “o que aconteceu no Rio?”. Preciso admitir, até aquele momento, eu nem sequer desconfiava da existência do juiz Wilson Witzel.

A sequência de prefeitos e governadores eleitos por cariocas e fluminenses não é bonita de se ver. Há um pouco de tudo: Garotinhos, Rosinhas, Beneditas e Cabrais. Para não falar, é claro, em Leonel Brizola, precursor de toda essa catástrofe.

Ainda assim, a decisão tomada no último domingo foi surpreendente. É como se, cansado de apenas votar mal, o eleitor desistisse de vez do próprio estado. Como se, inconscientemente, justificasse sua própria ignorância política ao optar por um salto no escuro. Trocando em miúdos, o puro suco do efeito manada.

Sou capaz de compreender quem lá pelas tantas estabeleceu uma linha de corte definitiva com políticos envolvidos em casos de corrupção. No caso do embate entre Eduardo Paes e Witzel, porém, a motivação foi menos nobre.

Houve certa repulsa pelo fato de o ex-prefeito jamais ter nutrido escrúpulos na hora de se relacionar com outros políticos, é verdade, mas também uma leitura fácil: se Witzel estava com Bolsonaro, só poderia ser coisa boa.

Pois não parece ser esse o caso.

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Além da falta de experiência e de uma constrangedora dificuldade de se comunicar, Witzel foi flagrado ensinando juízes a usar o sistema para levar vantagens financeiras. Vantagens legais, não resta dúvida, mas repulsivas do ponto de vista ético e especialmente se levarmos em conta a grave crise que milhões de pessoas enfrentam no Rio.

Do ponto de vista humanista, então, o cenário consegue piorar. Witzel não se apertou na hora de usar a imagem do próprio filho, que é trans, para angariar votos. E nem tampouco deixou de sugerir com todas as letras a tresloucada medida de navios-presídios, embora tenha se esquivado ao máximo da denúncia de estreita amizade com o advogado do traficante Nem.

A maioria escolheu Witzel para substituir Pezão e não há mais nada a fazer. É da democracia. Contudo, é desolador constatar que uma das cidades mais lindas do planeta, ícone e referência do Brasil no exterior, esteja caminhando a passos largos para se transformar em algo ainda mais obscuro do que a realidade já escancara.
E o pior de tudo: pela vontade de seus próprios habitantes.

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