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Uma armadilha chamada “é do jogo”

Cabe rejeitar estratégias avessas aos valores democráticos, como o estelionato ocorrido na última eleição
Por  Mario Vitor Rodrigues
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

É tão real quanto sintomático que os políticos, conscientes de que a sociedade se vê refém do voto útil e desinteressada em mudar esse cenário, não se preocupem em ponderar sobre estratégias questionáveis do ponto de vista moral se essas forem capazes de viabilizar os seus objetivos eleitorais. No fim das contas, tudo pode. E o que não pode, ou pelo menos não deveria poder, acaba ganhando um selo falsamente pragmático como justificativa: “é do jogo”.

Vale lembrar que, nem tanto tempo atrás assim, há quatro anos, Dilma Rousseff afirmou com todas as letras ser natural “fazer o diabo” em época de eleição. Dito e feito, sua campanha ficou marcada como a mais vil de que se tem memória, pois usou de todos os subterfúgios e mentiras para abafar o crescimento de Marina Silva. E, como se sabe, teve sucesso.

Diga-se, o selo “é do jogo” transcende estratégias partidárias. Também não faltam cientistas políticos e palpiteiros incensados, sabidamente comprometidos com agendas ideológicas, mais dispostos a torcer os fatos do que a promover o debate. Virou até senso comum se falar em narrativas, como se o próprio termo não fosse autoexplicativo. Nesse sentido, perder o controle da narrativa é algo a se lamentar publicamente e sem medo de causar questionamento. Confunde-se pragmatismo com o endosso de retóricas desenhadas para corromper os processos, as escolhas e a própria democracia.

A armadilha do “é do jogo”, por fim, também acaba sendo abraçada pelos próprios candidatos. E nem precisamos recorrer aos vídeos já considerados clássicos, em que Fernando Collor de Mello, Lula, Brizola e Maluf, apenas para citar alguns, interpretavam verdadeiros personagens na tentativa de seduzir um eleitor irremediavelmente constrangido a tomar uma decisão. Hoje mesmo, se olharmos para Ciro Gomes falando em retirar dezenas de milhões de brasileiros do Serviço de Proteção ao Crédito e na fabricação de um Jair Bolsonaro liberal na economia, fica clara a absoluta falta de escrúpulos na luta pelo poder.

Não restam dúvidas de que o brasileiro precisa encarar a cena política e a disputa eleitoral com a devida seriedade. A infantilização da realidade, no fim das contas, serve apenas para empanar a troca de ideias sobre agendas importantes para o país.

Contudo, também é preciso confrontar e possivelmente rejeitar estratégias absolutamente avessas aos valores democráticos, uma vez que são desenhadas para enganar o eleitor por meio de estelionatos eleitorais, como o que o correu na última eleição.

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Na prática, se algum comportamento acaba por se classificar como sendo do jogo, é porque não deveria sê-lo.  

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