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Nossa indústria tem futuro?

O economista Daniel Duque analisa os problemas estruturais que têm dificultado o crescimento da indústria brasileira
Por  Equipe InfoMoney
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

por Daniel Duque*

Após a farra dos subsídios dos governos do PT, as distorções com as micro-intervenções do governo Dilma e o sofrimento da longa e intensa crise, o setor industrial parecia prometer liderar a recuperação econômica a partir de 2017.

No entanto, desde a greve dos caminhoneiros, entre maio e junho de 2018, a indústria não conseguiu emplacar um mês de crescimento, como mostra o gráfico abaixo, frustrando as expectativas dos agentes econômicos e do próprio governo.

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Fonte: IBGE

A história é ainda mais trágica quando, em vez de olharmos para o indicador de produção, olhamos os empregos no setor. Como se vê pelo gráfico abaixo, desde a queda gigantesca nos empregos industriais, não houve ainda nem um ano completo de geração acumulada de vagas, e o resultado dos últimos meses é só de piora. Se antes havia o temor de estarmos nos desindustrializando, hoje há a certeza.

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Fonte: Caged

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O que está acontecendo com a indústria brasileira? Afinal, os salários estão crescendo a taxas baixas, e sua produtividade já é significativamente maior do que no início da crise, segundo um estudo dos economistas Fernando Veloso e Paulo Peruchetti. O que está fazendo, portanto, com que esse setor não volte a crescer?

Em primeiro lugar, há uma conjuntura desfavorável, comumente denominada “efeito-Argentina”. Após o fracasso do gradualismo das políticas adotadas pelo presidente Macri, nossos hermanos se encontram em uma crise que já dura seis meses, fazendo com que nosso maior mercado importador de veículos produzidos aqui esteja passando por sucessivas altas dos preços e da taxa de câmbio, limitando a capacidade exportadora da nossa indústria.

Há, no entanto, uma questão estrutural, que ainda não foi endereçada, e pode ser responsável pelo baixo fôlego de nossos setores industriais já desde antes da crise. Como é amplamente divulgado, o mundo tem devotado cada vez mais atenção para as inovações tecnológicas no âmbito da inteligência artificial e da robótica. Mas será que o Brasil tem avançado na utilização dessas novas tecnologias?

Os dados da International Federation of Robotics, organizados em estudo pelo economista Bruno Ottoni, ajudam a ilustrar como temos evoluído (ou não) na proporção de robôs industriais. Infelizmente, tal levantamento mostra que não apenas o Brasil está muito atrás dos cinco países mais automatizados em densidade de robôs por cada milhão de trabalhadores (menos de 200 em terras tupiniquins contra 6 mil nos cinco maiores), como estamos também bastante atrás da média do resto do mundo (cerca de 400). Como se fosse possível piorar ainda mais, estamos ficando para trás, crescendo linearmente, enquanto todos os outros países crescem exponencialmente.

Portanto, enquanto no mundo inteiro há cada vez mais robôs realizando muitas tarefas que atualmente são desempenhadas por humanos de forma mais rápida e eficiente, no Brasil somam-se razões pelas quais nossas indústrias não incorporam na mesma velocidade tecnologias que as beneficiariam, de modo a perderem competitividade mundial. Nossa situação não tende a ser melhor: nas palavras do economista Naércio de Menezes Filho, “no nosso capitalismo patrimonialista, governos, empresas e trabalhadores se unirão para impedir a entrada dessas inovações disruptivas. (…) Assim, dificilmente os robôs e máquinas inteligentes entrarão em massa no nosso país. A tendência é que fiquemos cada vez mais para trás”.

Não esperem grande retomada da indústria nos próximos meses. Nem nas próximas décadas.

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*Daniel Duque é mestre em economia pela UFRJ, pesquisador do FGV/IBRE na área de Mercado de Trabalho e colaborador acadêmico do Livres

O Livres é um movimento liberal suprapartidário criado em 2016 para desenvolver lideranças, políticas públicas e projetos de impacto social. O objetivo é renovar a política e construir um Brasil mais livre junto com as pessoas que mais precisam. Do seu conselho acadêmico, fazem parte os economistas Elena Landau, Leandro Piquet, Persio Arida, Ricardo Paes de Barros, Samuel Pessôa e Sandra Rios. Você também participar tornando-se um associado.

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