Fechar Ads

Imposto Único Federal: uma versão piorada da extinta CPMF

As primeiras ideias divulgadas sobre esse novo imposto federal são tão ousadas, quanto irreais: na essência, recriar a extinta CPMF, que teve como última alíquota 0,38% sobre as movimentações financeiras, sendo que o Imposto Federal novo teria a alíquota de 2,29%. Esse imposto, por outro lado, substituiria todos os tributos federais "arrecadatórios", tendo sido citados o IRPF, IRPJ, CSLL, IPI, Cofins, contribuições previdenciárias patronais, IOF, ITR "e outros".
Por  Alexandre Pacheco
info_outline

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Hoje será instalada no Congresso Nacional a “Frente Parlamentar Mista do Imposto Único Federal (IUF)”, que se diz integrar 215 deputados – veja aqui.

As primeiras ideias divulgadas sobre esse novo imposto federal são tão ousadas, quanto irreais: na essência, recriar a extinta CPMF, que teve como última alíquota 0,38% sobre as movimentações financeiras, sendo que o Imposto Federal novo teria a alíquota de 2,29%. Esse imposto, por outro lado, substituiria todos os tributos federais “arrecadatórios”, tendo sido citados o IRPF, IRPJ, CSLL, IPI, Cofins, contribuições previdenciárias patronais, IOF, ITR “e outros”.

O Governo Federal, nos bastidores, defende a ideia da simplificação tributária, mas apresenta uma proposta mais realista: unificação do PIS e da COFINS. A OCDE recomenda a unificação da tributação do consumo em dois passos: unificar os tributos federais sobre o consumo e depois integrar o ICMS nesse novo tributo sobre o valor agregado, ideia mais ousada, mas que tem inegavelmente o seu mérito – veja aqui.

Vamos ver se hoje algum exercício numérico a respeito da proposta do novo imposto vem a ser apresentado pela Frente Parlamentar. É o primeiro passo para se discutir a viabilidade da criação de um novo tributo.

Unificar todos os tributos federais, ou mesmo parte expressiva deles, tem um risco forte: se o Supremo Tribunal Federal declarar sua cobrança inconstitucional, ou o Superior Tribunal de Justiça e os tribunais locais reduzirem seu impacto com base em imperfeições da legislação nova, a arrecadação federal ficaria seriamente comprometida.

Outra questão é que, com uma alíquota tão pesada, naturalmente os contribuintes ficarão estimulados a fugir desse imposto. Nos tempos da CPMF havia planejamentos tributários para fugir da cobrança do tributo com uma alíquota muito menor – com uma alíquota mais alta, a tentação será, obviamente, muito maior.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Mais um problema grave dessa ideia: um tributo sobre movimentação financeira nos moldes da antiga CPMF provoca a incidência em cascata (tributo sobre tributo), o que favorece a concentração de empresas e a criação de grandes conglomerados por uma razão que não é empresarial. Para a economia como um todo, a busca por essa “eficiência fiscal” é ruim, porque causa “ineficiência empresarial” – dizendo de outro modo, empresários tomarão decisões que não tomariam se não existisse o tributo, perdendo foco nas suas especialidades.

É, por outro lado, irreal uma mudança dessa envergadura no sistema tributário nacional ainda no Governo Temer. Isso não vai acontecer. Três cenários são mais prováveis:

1) os rumos dessa Frente Parlamentar podem vir a ser alterados para a recriação da CPMF sem extinção de tributo nenhum – o que é uma possibilidade, mas que a bem da verdade é bem remota, porque o Presidente da Câmara dos Deputados já deu diversas declarações contra a tramitação de projetos de lei de criação de novos tributos.

2) a Frente Parlamentar reduz suas ambições para aquilo que o Governo Federal está disposto a fazer – unificar PIS e COFINS.

3) o Governo Federal dá alguns passos nos debates parlamentares para a simplificação do sistema tributário brasileiro, mas deixa as mudanças tributárias para o próximo Presidente da República – é o que tem mais chance de ocorrer, pelo fato de estarmos em ano eleitoral e pelo noticiário tumultuado que vem desorganizando a base parlamentar do Governo.

Vamos ver do que se trata concretamente a proposta, e voltaremos depois com comentários a respeito.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

 

Alexandre Pacheco é Advogado, Professor de Direito Empresarial e Tributário da Fundação Getúlio Vargas, da FIA, do Mackenzie e da Saint Paul e Doutorando/Mestre em Direito pela PUC.

 

Siga Alexandre Pacheco no Linkedin, no Facebook e no Twitter

Alexandre Pacheco Professor de Direito Empresarial e Tributário da FGV/SP, da FIA e do Mackenzie, Doutor em Direito pela PUC/SP e Consultor Empresarial em São Paulo.

Compartilhe

Mais de Jogo das regras

Jogo das regras

Reforma Tributária: o peso das obrigações legais no Brasil e a chamada “simplificação”

Seria mais prudente manter a essência do sistema tributário como existe hoje, reduzindo obrigações legais e complexidades na apuração de tributos. Eventualmente, criando um tributo temporário, para rápida redução do déficit fiscal e do endividamento, uma vez que o corte de gastos não pode ser feito na velocidade que é necessária para alcançar o rápido equilíbrio das contas públicas.
Jogo das regras

O que impede a redução da carga tributária brasileira

Não é possível reduzir, neste momento, a carga tributária do país, infelizmente. O Brasil gasta muito mais do que arrecada e está no cheque especial. Se reduzir seus tributos, o déficit público poderá aumentar em uma velocidade maior do que os ganhos de produtividade que a redução da carga tributária seria capaz de trazer.
Jogo das regras

O que, de fato, há de errado com os tributos no Brasil?

Obviamente a carga tributária elevada do Brasil é um freio brutal para o desenvolvimento do país, massacrando a população em geral. É um redutor significativo do investimento nacional e estrangeiro, razão de fuga de capitais brasileiros para o exterior e causa de agravamento da pobreza não somente de empresários, mas também da população mais carente, que também paga pesados tributos, e que ainda sofre com o desemprego causado por esse cenário econômico ruim, agravado pela tributação.
Jogo das regras

Reforma Tributária: Guerra de vaidades em 5 fronts

Estamos assistindo a um desejo dos envolvidos na Reforma Tributária de mudar por mudar o sistema tributário, com a disputa pela autoria de ideias supostamente geniais, para que os nomes dos autores que vencerem essa disputa perigosa sejam colocados em uma placa, em manchetes de jornais ou em posts das redes sociais.
Jogo das regras

Os caminhoneiros querem uma dentadura na forma de óleo diesel

Não deixa de ser engraçado ver os críticos dessa situação atacando o Bolsonaro como se ele não tivesse sido eleito por eleitores chantagistas. E como se ele, ainda, não tivesse concorrido com outros candidatos que também prometeram suas dentaduras, em um país que se move por esse racional desde que se começou a praticar eleições por aqui.
Jogo das regras

A Reforma Tributária da Câmara dos Deputados virou pauta bomba

Não se faz Reforma Tributária apenas com ideias e com "articulação política": faz-se com a experiência do corpo técnico do Governo e com números oficiais. E esse ato de prudência é necessário porque uma mudança legislativa dessa envergadura vai afetar milhões de pessoas e milhares de empresas, além de sujeitar os cofres públicos a riscos de perdas arrecadatórias que, em um cenário de déficit fiscal, podem piorar as condições já ruins das contas públicas.
Jogo das regras

Presidente Bolsonaro caminha para a desastrosa tributação dos dividendos

Na eleição passada, quase todos os candidatos a Presidente defenderam publicamente a tributação dos dividendos. Podemos dizer, ainda, que tal solução conta com a simpatia da "classe falante", dos chamados "formadores de opinião". O que surpreende é que a tributação dos dividendos, sendo uma pauta do espectro político da esquerda, tenha sido adotada pelo Presidente Bolsonaro - por isso eu acredito que ele não percebeu as variantes dessa discussão, sendo que ainda há tempo para ele se informar a respeito e arquivar essa ideia ruim.