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Perdi dinheiro em títulos públicos, e agora?

É possível perder dinheiro na renda fixa? Pode parecer estranho, mas não só é possível, como é muito mais comum do que se imagina.
Por  Felipe Medeiros -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

São incontáveis os casos neste ano de investidores de perfil mais conservador que se assustaram ao investir seu dinheiro em aplicações que apesar de serem consideradas “renda fixa” já acumulam perda de mais de 8% em alguns casos. Essas aplicações às quais me refiro são os famosos fundos de inflação e títulos públicos pré-fixados.

Diante desse cenário recebo muitas perguntas sobre o que o investidor deve fazer hoje, mesmo depois das perdas, e uma delas me chamou bastante a atenção. No caso desse investidor, ele havia comprado NTN-B (Notas do Tesouro Nacional – Série B) quando a taxa Selic ainda marcava juros de 7,25%a.a. e seus títulos pagavam IPCA + 3% a.a.. Com a alta da Selic ao longo do ano e a expectativa de que ainda deva subir mais, hoje é possível encontrar NTN-B que paguem até 5,84% + IPCA, dependendo de seu vencimento. Assim, a dúvida do investidor é simples: “Vale a pena vender meu título atual para comprar um novo título mais rentável?”

Para responder à essa pergunta, primeiro é necessário entender um pouco mais sobre o funcionamento dos títulos públicos.

Precificação e taxa de retorno dos títulos públicos

Apesar de os títulos públicos serem aplicações de renda fixa, essa definição só vale para aquele investidor que aplicar o seu dinheiro com objetivo de mantê-lo até o vencimento. Isto acontece, pois caso o investidor resolva “resgatar” o valor aplicado antes do vencimento, deverá vender o título público para outro investidor e como o preço do título sofre oscilações ao longo do tempo de acordo com a variação das taxas de juros (Selic) e o prazo do título, pode acabar vendendo por um preço menor do que foi pago por ele no momento da aplicação. Calma, esse efeito é muito mais simples do que parece. Vejamos um exemplo para uma LTN (Letra do Tesouro Nacional) que paga juros pré-fixados, de por exemplo 10% a.a..

No caso das LTN, o preço pago por esses títulos será sempre do valor de R$ 1.000,00 descontada a taxa de juros que remunera a aplicação (deságio), ou seja, seu preço será um valor ‘x’ que depois de receber a remuneração de uma taxa de juros ‘y’ por um período ‘z’, chegará ao valor final de R$ 1.000,00. Portanto, no nosso exemplo, uma LTN que tenha vencimento de 1 ano e remunere o investidor à uma taxa de juros de 10% a.a., custará exatamente R$ 909,09. Para conferir esse valor, basta aplicar uma taxa de 10% sobre o preço do título que o iguale a 1000: 1000 = 909,09 x (1 + 10%).

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Agora supondo que o governo resolva subir as taxas de juros para um valor tal que as LTN passem a remunerar 15% a.a.. Para que o valor final dos títulos continuem sendo de R$ 1.000,00, mas remunerem uma taxa maior, é necessário portanto que o investidor compre agora esses títulos por um preço menor, nesse caso por exatamente R$ 869,57. O mesmo vale para o avesso: se por outro lado o governo tivesse reduzido a taxa de juros e agora as LTN remunerassem apenas 5% a.a., então o preço do título seria de R$ 952,38.

Perceba que a relação entre o preço do título e a taxa de juros é inversamente proporcional, ou seja, quando um subir, necessariamente o outro deve cair. O tamanho do impacto dessa relação é chamado pelos economistas de duration e quanto maior for o seu valor, menor precisa ser a oscilação dos juros para haver forte oscilação nos preços dos títulos. Títulos pré-fixados como as LTN e as NTN-F tendem a possuir uma duration mais elevada, ao passo que títulos indexados à inflação como as NTN-B e NTN-C tendem a apresentar uma duration menor.

Outro fator importante dessa relação é o prazo, no qual quanto mais longo for o vencimento, maior deverá ser a duration e consequentemente o impacto da variação dos juros sobre o preço do título, uma vez que um prazo mais longo recebe maior influência dos juros compostos.

Para encerrar esse tópico, vale destacar que existe um título que é imune desse efeito. As Letras Financeiras do Tesouro (LFT) por serem títulos pós-fixados e remunerarem o investidor justamente de acordo com as oscilações da Selic possuem como característica a duration igual a zero, ou seja, oscilações na taxa de juros não influencia seu preço. Sem entrar na metodologia de cálculo do seu preço, isso acontece simplesmente porque se os juros subirem, ela remunerará mais o investidor automaticamente e o inverso também é verdadeiro.

O que esperar dos juros daqui em diante

Voltando agora para o caso do investidor, aqui é que mora o grande perigo. Apesar de previsões serem sempre algo incerto, nesse momento em específico as chances de que elas estejam ainda mais incorretas é maior ainda. Mudanças na presidência e nas políticas de incentivo econômico do Fed, elevada volatilidade cambial, copa do mundo e eleições em 2014 são apenas algumas das inúmeras incertezas que nos esperam pelo menos até o final do ano que vem.

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Com isso, o grande risco é o da mudança incorreta. E se vender os títulos com prejuízo e os juros voltarem a cair, mesmo que a previsão ainda seja de alta? Ou mesmo, e se comprar novos títulos com os juros atual acreditando na manutenção da taxa e os juros subirem ainda mais, causando uma nova perda?

Sim, essa incerteza sempre existiu e sempre existirá (embora nos dias de hoje esteja um pouco maior que o normal), mas a verdade é que o investidor mais conservador de renda fixa que não aceita o mínimo de perdas jamais poderia destinar seus recursos à fundos de inflação (altamente voláteis em períodos de instabilidade como o atual) ou mesmo em títulos públicos, caso seu objetivo não estivesse focado no vencimento da aplicação. Se assim o fez, ou foi por falta de informação, ou foi mal orientado.

Bem, então o que fazer?

Existem duas alternativas nesse caso, que podem ser seguidas de acordo com o perfil e objetivo de cada investidor. Vejamos cada uma delas:

1. Saia às compras!

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Se seu único problema é querer títulos que remunerem mais, não adiantará nada vender o título atual para comprar um novo título. Como vimos no primeiro tópico deste artigo, você trocará literalmente “seis por meia dúzia”, e sua remuneração permanecerá exatamente a mesma, uma vez que os títulos já precificaram a diferença. Entretanto, se você é um investidor que ainda faz aportes na sua carteira, a melhor alternativa sem dúvidas é fazer o famoso “preço médio”, ou nesse caso, taxa média.

Para alguns analistas, inclusive o mercado exagerou na alta dos juros e nesse exato momento existem títulos pré-fixados e indexados à inflação pagando mais do que deveriam devido à expectativa dos investidores e os juros futuros. Se esses analistas estiverem corretos, a Selic deverá manter-se constante por algum tempo na faixa dos 9,5% a 10%a.a. ao longo do ano que vem, fazendo com que os títulos que hoje remuneram quase 12%a.a. (como as LTN) venham à convergir com a Selic. Nesse contexto e mesmo na grande incerteza, se seu objetivo é comprar títulos pensando no vencimento, as taxas de juros atuais são invejáveis na maior parte do mundo e sem dúvidas são uma excelente alternativa no patamar atual.

2. Perca dinheiro, mas não perca tempo.

A segunda alternativa pode doer um pouco mais no começo, mas assim como o famoso Merthiolate, depois de passada a “ardida” inicial, o resultado será uma carteira mais saudável e imune de elementos indesejáveis (como a volatilidade na carteira de um investidor conservador).

Assim, se esse for o seu caso, o ideal é assumir o prejuízo atual e realocar seu capital de acordo com o seu perfil. Se ainda quiser investir em títulos públicos, que sejam títulos com o vencimento mais curto que vençam dentro do seu horizonte de planejamento, ou então que sejam títulos pós-fixados como LFTs. Assim como escrevi no meu último artigo aqui na Infomoney, é melhor aceitar o erro agora e se antecipar para corrigi-lo a aguardar insistentemente uma recuperação que pode levar anos para que ocorra e tirar a tranquilidade e o bom sono do investidor.

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