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O hype da Tesla vai acabar junto com a farra do dinheiro barato

A Tesla subiu 16% no pregão de ontem. Isso porque Musk se desculpou com dois analistas que havia maltratado na conferência trimestral anterior. Esse é o ponto onde chegamos...
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Muita gente tem me perguntado sobre os resultados da Tesla e a expressiva alta de suas ações no pregão de ontem (16%).

Analistas estão dizendo que as ações da empresa agora só dependem do humor de Musk. Um relatório do RBC mencionou que as ações da Tesla se tornaram um medidor do sentimento “Elon”. Assim, ontem, após a divulgação dos resultados (que foram, como esperado por mim, péssimos), Musk se desculpou com os dois analistas que ele havia maltratado no trimestre anterior e isso foi o suficiente para fazer as ações da empresa dispararem.

Pois é, difícil de acreditar, não é mesmo? Há pouco tempo, o fundado e CEO da companhia, além de distratar os analistas, se envolveu em uma discussão pelo Twitter com um dos heróis do salvamento das crianças na Tailândia, chamando-o de pedófilo. Como se não bastasse, também se propôs a resolver a crise de falta de água em Flint – ele deve ter bastante tempo disponível, claro.

Apesar disso, o Conselho da empresa (não vou dar minha opinião aqui para evitar polêmica), aprovou aquele que pode ser o maior pacote de compensação para um executivo da história, superando a de todos os outros CEOs de empresas do S&P500 juntos!

Mas eu divago, vamos voltar ao relatório trimestral da Tesla. Como mencionei acima, os números da empresa foram péssimos – piores até do que a expectativa dos analistas. Mais um prejuízo multimilionário no trimestre – US$743 milhões, levando o total desse ano a mais de US$1,5 bilhão. Pense nesse número por um instante. É o equivalente a uma Cyrela e a uma Anima em apenas 6 meses! Destruído!!!

Isso, apesar da produção do Model 3, que, em algum momento no trimestre, apesar de todos os defeitos (portas desalinhadas, travamento automático do carro, pintura com defeito, etc), atingiu os 5.000 veículos por semana, segundo a empresa. Vale lembrar que essa era a marca que a Tesla disse que teria que atingir para se tornar lucrativa. Começou bem, com um prejuízo multimilionário.

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Contas a pagar já é maior que o somatório de contas a receber e caixa. E isso, porque o caixa está inflado com mais dívida e pré-vendas de carros. Isso é uma situação de insolvência. E todas as contas, sem exceção, pioraram. Caixa diminuiu, dívida subiu, juros subiram, compensação em ações disparou, OPEX subiu, etc.

Eu já disse várias vezes esse ano que a empresa vai precisar levantar mais capital somente para sobreviver. Mas agora isso tem que acontecer muito em breve. E quem investiria numa empresa que fabrica em uma semana, na melhor das hipóteses, o que a GM fabrica em algumas horas, e ainda por cima gera prejuízo, ao contrário da gigante de Detroit? Bom, é para isso serve o hype – e Musk é, sem dúvida, um dos melhores do mundo nesse quesito.

Não há dúvidas de que irão inventar alguma outra coisa para conseguir levantar mais capital, seja uma nova fábrica, novo carro, caminhão ou disco voador! Mas alguma coisa vai aparecer para eles poderem manter o negócio andando.

E, enquanto o mercado está procurando algo para investir nessa época de juros baixos (e, em alguns casos, negativos), momentum e tech são duas das poucas estratégias que estão funcionando. E a Tesla está nos dois, fazendo com que vários ETFs comprem suas ações.

Até onde vai a insanidade dos mercados apoiando os planos megalomaníacos de um part-time CEO (Musk também é CEO da SpaceX, Neuralinks, The Boring Co, etc) é algo que ainda vamos descobrir. Mas a minha suspeita é a de que a empresa acaba juntamente com a farra do dinheiro barato.

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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