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Netflix e os fatos

No dia 2 de abril, publiquei um texto nesse blog sobre a Netflix (link), em que dizia que os riscos para a empresa estavam aumentando e os retornos já estavam precificados. Meu comentário no dia foi "hora de abandonar o barco". Bom, 3 meses depois, temos algo desagradável à frente de uma excelente história: os fatos! Isso acontece repetidamente nos bull markets, quando os analistas projetam para o futuro o mesmo crescimento que estão vendo no momento, e isso leva à superavaliações de várias empresas
Por  Marcelo López
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

No dia 2 de abril, publiquei um texto nesse blog sobre a Netflix (link), em que dizia que os riscos para a empresa estavam aumentando e os retornos já estavam precificados. Meu comentário no dia foi “hora de abandonar o barco”.

Bom, 3 meses depois, temos algo desagradável à frente de uma excelente história: os fatos! A Netflix reportou ontem um crescimento aquém do esperado, com adição de “apenas” 5,2 milhões de usuários, 1 milhão a menos do que o esperado pelos analistas, o que fez com que suas ações despencassem 14% em apenas alguns minutos.

Para ser claro, a empresa reportou lucros até acima do esperado (US$0,85 por ação, contra uma expectativa de US$0,79), mas houve decepção na receita e número de assinantes.

Isso acontece repetidamente nos bull markets, quando os analistas projetam para o futuro o mesmo crescimento que estão vendo no momento, e isso leva à superavaliações de várias empresas, especialmente as de grande crescimento (e, em vários casos, baixos lucros).

Claro, também se esquecem dos competidores. No caso da Netflix, estou falando gigantes como a Google, Facebook, Amazon e Disney (que está comprando a 21st Century Fox). Seria bem difícil a empresa continuar entregando resultados fenomenais com tamanha concorrência.

A Netflix queimou cerca de US$559 milhões no segundo trimestre desse ano e o fluxo de caixa livre da empresa deve ser negativo entre US$3-4 bilhões em 2018. A empresa consegue financiar isso através de emissão de dívida, considerada junk pela agência de risco Moodys (B1). No segundo trimestre de 2018, a Netflix conseguiu levantar mais US$1,9 bilhão e mais emissões são esperadas. Já os competidores, listados acima, possuem e geram caixa.

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A dívida da Netflix no balanço já passou dos US$6,5 bilhões e deve aumentar esse ano (as obrigações são muito maiores). A empresa consegue manter-se solvente enquanto o mercado estiver receptivo a novas emissões. É bom lembrar, como eu sempre gosto, que o mercado “fecha” de tempos em tempos. É nessas horas que os investidores param de pensar somente no retorno e começam a olhar pro risco também.

Como eu já mencionei algumas vezes, a Netflix é uma empresa de conteúdo, não de tecnologia. Basta olhar para onde os gastos são direcionados e vemos isso com clareza. A expectativa de gastos com conteúdo em 2018 e além passa dos US$12 bilhões.

Lembrando que a Netflix está sendo negociada a um “modesto” índice de Preço/lucro bem superior 200. Já vimos isso antes na época da bolha da internet, quando ações de empresas que hoje nem existem mais estavam sendo negociadas a múltiplos extremamente esticados (elas não davam lucro, então tinham outros critérios, como visualizações – eyeballs -, vendas em 3 anos, etc).

As Bolsas americanas estão subindo com um breadth (medida do número de companhias subindo em relação às que estão caindo) cada vez mais concentrado e as FAANGs (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google) são responsáveis por grande parte dessa alta. Netflix talvez deixe de integrar esse grupo de ações que puxam os retornos da bolsa americana, o que deixará o breadth cada vez menor. Como os americanos gostam de falar, “trade carefully”.

Marcelo López Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.

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