Crash silencioso
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Governo estável. Poucas (se alguma) empresas estatais. Moeda representando reserva de valor. Estabilidade monetária e financeira. Crescimento sustentável. Previsibilidade. Incentivo aos empresários, que criam empregos e correm riscos. Regras claras e que não mudam para favorecer um grupo específico. Essas são algumas das características de países desenvolvidos e que estão faltando agora no Brasil.
Para os investidores que já possuem conta no exterior, esse movimento acentuado de alta do dólar não representa muito. Mas para a grande maioria, que sofreu o que eu chamo de “crash silencioso” (quando a moeda perde poder de compra), as perdas são enormes.
O movimento de alta do dólar, queda na Bovespa e abertura na curva de taxas de juros são temas já amplamente comentados, mas acho que vale a pena revisitar o caso. Em dezembro já alertei para os possíveis problemas, dizendo que as expectativas do consenso não eram realistas e venho postando comentários no Twitter (marcelo) semanalmente sobre isso.
Muita gente estava achando que, só porque as taxas de juros estavam caindo, tinham que correr para a bolsa, a fim de manter a rentabilidade da carteira em alta. Na época eu ainda escrevi que só porque queremos uma rentabilidade maior, não quer dizer que o mercado vai entregar. A bolsa estava em alta e as taxas de juros nas mínimas históricas.
Além do mais, a bolha de tudo (como eu entendo o mundo hoje) estava no seu ápice, quando havia obras de arte sendo vendidas a preços estratosféricos, bitcoin acima de US$18mil, Tesla ainda em operação e Argentina, um país quebrado, que declarou default 8 vezes nos seus 200 anos de história, 5 no último século, sendo a última há apenas 4 anos, captando recursos por meio de bônus de 100 anos em dólar.
Isso tudo em um cenário em que as taxas de juros americanas, que ficaram zeradas por mais de 6 anos, fomentando uma especulação irracional pelo mundo, estavam começando a desenhar uma trajetória de alta.
Ainda por cima, aqui na Austrália, de onde escrevo, não há recessão há mais de 20 anos. Nos EUA não há recessão há 10 anos. E os ciclos econômicos nesse país duram cerca de 6 anos e meio, ou seja, a cada 6,5 anos, há uma crise. Esse é o segundo período de maior crescimento sem crise nos EUA – certamente ele pode ser estendido por mais tempo, mas será que vale a pena arriscar a essa altura do campeonato?
Estava na cara que isso não acabaria bem. Para ainda dizer que tudo não aconteceu de repente, houve vários sinais internacionais de que a coisa não ia de vento em popa. O primeiro foi a Turquia e logo depois a Argentina, que ontem recebeu uma ajuda do FMI de US$50 bilhões.
Mas os grandes fundos mútuos e pensão não podem ficar muito tempo investidos em DI, já que têm metas a bater. Daí a grande corrida para o risco. E quando estão todos do mesmo lado do barco, esse tende a virar.
A grande verdade é que, no Brasil, existem poucas oportunidades de investimento. Renda fixa, meia dúzia de ações com liquidez e alguma exposição a dólar e a mercado imobiliário, ao passo que, fora do país, onde é facílimo abrir uma conta, existem milhares de ações de empresas em diversos setores, ETFs que dão exposição a commodities, moedas, setores, países, regiões; renda fixa de praticamente todos os países do mundo e uma legislação que não muda ao sabor da corrente.
O investimento no exterior não é somente para segurança e proteção, mas ele pode trazer também rentabilidade e uma real diversificação. Já mencionei o ouro físico algumas vezes nesse blog e no Twitter (marcelo), e gostaria de voltar a sugeri-lo como proteção. Ele já subiu mais de 20% esse ano e tem se mostrado um excelente hedge contra o volátil mercado brasileiro.