Um dos melhores investidores do Brasil ganha até 319% do CDI e capta R$ 2,8 bi em 3 meses

Para Marcio Appel, da Adam Capital, os juros devem cair mais que o esperado, o real vai se valorizar contra o dólar e ainda não é hora de ficar vendido na Bovespa

João Sandrini

Márcio Appel, sócio fundador da Adam Capital

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(SÃO PAULO) – Considerado um dos melhores gestores de fundos do Brasil, Marcio Appel criou neste ano sua própria empresa, a Adam Capital. Em seguida, lançou dois fundos e, em pouquíssimo tempo, obteve resultados espetaculares tanto em termos de performance quanto em captação de recursos. Appel foi CEO das gestoras de fundos dos bancos Santander e Safra. De 2008 a 2015, comandou a gestão do Safra Galileo, um dos maiores e mais bem-sucedidos fundos multimercados do Brasil. Neste ano, lançou dois fundos na empresa que criou, o Adam Macro, com menor volatilidade, e o Adam Advanced, mais arriscado. Como os fundos ainda não têm seis meses de existência, a gestora não é obrigada a divulgar diariamente seus resultados nem apresentar um balanço mensal de performance. Mas no site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), é possível consultar os resultados dos fundos. De 29 de abril, data em que começou a funcionar, até 31 de julho, o Adam Macro rendeu 6,55% (ou 189% do CDI no período). Já o Adam Advanced garantiu um retorno de 11,08% (ou 319% do CDI).

Na indústria de fundos, o primeiro objetivo de qualquer gestor é bater o CDI. Afinal, se for para remunerar o dinheiro abaixo disso, nenhum investidor vai se interessar pelo produto. Mais recentemente, entretanto, os CDB de bancos médios se popularizaram e ficou fácil de achar nas plataformas das maiores corretoras aplicações com retorno um pouco superior a 115% do CDI e garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito). Fundos que rendem menos que 115% do CDI, portanto, passaram a ser considerados pouco atrativos para os investidores – ainda mais se apresentaram alta volatilidade.

Mas os fundos de Appel estão muito acima disso. O gestor costuma dizer que seu objetivo é entregar CDI + 7% ao ano para seus clientes. Trata-se de um resultado absolutamente acima da média, mas foi isso que ele conseguiu no período em que geriu o Safra Galileo. Appel sabe que o sucesso de sua área comercial está totalmente atrelado aos resultados que ele entregar. Seus dois fundos captaram R$ 2,8 bilhões em pouco mais de três meses, com uma velocidade de novas aplicações muito difícil de ser vista na indústria independente de fundos. Quando perguntado se espera chegar em breve a R$ 5 bilhões ou R$ 10 bilhões, ele apenas diz: “Não sei quanto vamos gerir no futuro, mas, se os resultados aparecerem, certamente o dinheiro virá.” O fundo Adam Macro é distribuído hoje nos maiores bancos de investimentos, pelos maiores gestores de fortunas e para o varejo na XP Investimentos (nesse último caso com aplicação mínima de R$ 50.000). Já o fundo Advanced está prestes a fechar para captação, segundo ele.

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Posições do fundo

Em relação às posições atuais, Appel diz que está comprado em Bolsa americana e em outras Bolsas internacionais, não tem posições acionárias na Bovespa, aposta na queda do dólar frente a diversas moedas inclusive o real e acha que os juros continuam caindo. Na época em que começou o fundo, a principal posição era em contratos futuros de S&P 500 em reais. A aposta na Bolsa americana chegava a 40% do patrimônio. Após o S&P 500 bater vários recordes consecutivos nas últimas semanas, Appel diz que diversificou um pouco e que possui também posições em outras Bolsas internacionais – ainda que a posição em S&P seja a maior no mercado acionário.

Appel também chegou a dizer em abril que poderia ficar vendido em Ibovespa se a Bolsa brasileira subisse muito. Pois bem, o Ibovespa andou bastante, chegou a superar os 57.000 pontos, mas por ora Appel decidiu engavetar essa ideia. “Estou receoso porque ainda tem muito investidor grande fora da Bolsa brasileira. Podemos ver um aumento da alocação. Então eu prefiro esperar que suba ainda mais para ficar vendido. Até quando vou esperar? Não dá para saber agora. Há três meses eu achava que quando a Bolsa chegasse a 60.000 pontos eu ficaria vendido. Hoje acho que seria melhor esperar os 65.000. Pode ser que a Bolsa chegue aos 65.000 lá na frente e eu ainda não sinta confiança. Tudo que sei é que quanto mais a Bolsa sobe, mais se aproxima a hora de ficar vendido.”

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Em relação às taxas de juros, Appel continua achando que o movimento de queda iniciado neste ano ainda está longe se se encerrar. Só que agora ele também diversificou. Em abril, o fundo tinha 25% do capital alocado em NTN-B (ou Tesouro IPCA+) com o prazo de vencimento mais longo possível, em 2055. Esses são justamente os títulos públicos que costumam apresentar a maior volatilidade. Mas neste momento ele diz que o fundo continua a ter papéis que pagam IPCA mais uma taxa de juros, mas também comprou prefixados. O gestor ainda acha que há uma chance razoável de queda representativa dos juros e acredita que a taxa das NTN-B poderia recuar para IPCA mais 4%. Só que após os juros reais desses papéis terem caído de mais de 7% para 5,8%, ele acredita que também os prefixados podem ser uma boa opção, dado que a inflação está caindo e as expectativas de reajustes futuros de preços estão melhorando. O gestor diz que essa projeção de queda de juros não depende da aprovação de reformas ambiciosas pelo governo Temer – é muito mais reflexo de um movimento global de queda nas taxas para se adequar a um crescimento econômico fraco.

Por último, Appel aumentou recentemente suas apostas no mercado de câmbio – que eram muito pequenas na época da abertura do fundo. Agora 25% do risco do fundo está em moedas. A principal aposta é que o dólar vai se desvalorizar. Ele diz que tem comprado moedas de países que estão experimentando melhora em conta corrente. A maior posição é comprada em euro contra dólar. Mas ele também diz que está posicionado para lucrar com a valorização do real ante o dólar. O gestor acha muito difícil que uma aposta em dólar neste momento consiga gerar a um investidor ganhos acima da taxa de juros brasileira.