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Você pode mais, Guedes

Entendo que o ministro busque de alguma forma fazer jus à natureza do cargo que ocupa. Mesmo assim, levando em conta o seu notório temperamento arisco, seria melhor para o Brasil que seguisse o seu instinto e dissesse as coisas como elas de fato são
Por  Mario Vitor Rodrigues
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Problemas de comunicação. Foi assim que Paulo Guedes descreveu os sequenciais momentos de descompasso gerados pelo governo até aqui — na prática desde a posse — para um grupo de prefeitos em Brasília. E não foi só. Ainda garantiu que em “três ou quatro meses” a reforma da Previdência estará resolvida. Convenhamos, talvez fosse interessante o ministro parar de dar opinião sobre assuntos que não domina.

Não se trata de fenômeno recente. Na verdade, desde a campanha, Guedes se habituou a vender um cenário incompatível com a realidade. Facilidades que qualquer um minimamente conhecedor da máquina pública e alheio ao frisson eleitoral, hoje em dia ao fanatismo ideológico, jamais defenderia.

Foi assim quando bravateou sobre o tema privatizações, antecipando que estas seriam feitas em larga escala, renderiam uma fortuna em tempo recorde e, além do mais, incluiriam joias da coroa como a Petrobras e o Banco do Brasil. Tudo isso sob a batuta de um presidente que durante a sua carreira política atuou como um verdadeiro sindicalista.

Há coisa de poucos dias, Guedes cedeu novamente a esse cacoete, antecipando que o governo já contava com boa parte dos votos para aprovar a reforma. Contudo, nada foi pior para a imagem do ministro da Economia do que a recente defesa da dita reestruturação da carreira dos militares — esta que, não bastasse o timing, reduziu o impacto da reforma da Previdência da categoria em parcos R$ 10 bi.

Em português claro, foi uma cena patética. Tão horripilante que, na falta da imagem, fosse apenas um áudio, qualquer um juraria estar ouvindo um militar defendendo a própria causa.

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O governo Jair Bolsonaro ainda conta com certa dose de paciência por parte do mercado e da sociedade. Vá lá, embora o argumento “eles-acabaram-de-assumir” esteja perdendo a razão de ser após tantas patinadas. Pois é justamente por essa razão, acho eu, que Guedes deveria se posicionar de maneira mais firme.

Digo, pode até ser que ele se canse e em algum momento peça o boné, seja na hipótese de a reforma perder musculatura em demasia depois das negociações, seja por outro motivo qualquer. Todavia, é precisamente agora o momento em que pode botar banca, quando continua sendo fundamental e a administração precisa da sua figura.

Não cabe se prestar ao papel esquizofrênico de alguém que defende agendas contrárias aos seus interesses e, por conseguinte, aos do país. Tampouco faz sentido adular alguém como Olavo de Carvalho, sujeito cujo discurso se mostra avesso ao liberalismo, não só econômico, mas também no sentido mais amplo do termo.

Entendo que o ministro busque de alguma forma fazer jus à natureza do cargo que ocupa. Mesmo assim, levando em conta o seu notório temperamento arisco, seria melhor para o Brasil que seguisse o seu instinto e dissesse as coisas como elas de fato são.

Especialmente porque ninguém no governo de fato se interessa mais pela aprovação de uma reforma verdadeiramente transformadora do que ele.

Aliás, muito pelo contrário.

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Mario Vitor Rodrigues

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Embora a capacidade de Paulo Guedes e sua equipe seja indiscutível, o governo ainda precisará capinar um bocado no campo político. E aí só mesmo estando absolutamente engolfado pelo fanatismo ou pendurado em interesses alheios aos do país para negar a já comprovada incapacidade da nova administração em assumir tal papel