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Um Jumbo chamado Brasil

Antes do corte do grau de investimento do Brasil no último dia 09, a imagem passada pelo governo ao mercado, pode ser comparada era a de um Jumbo atravessando forte turbulência e sem uma pilota com capacidade de reagir e voar em segurança.
Por  Edgar de Sá
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Que a economia brasileira não anda bem, todos sabem. Que o governo brasileiro parece ter demorado a agir, também sabemos. No entanto, o que poucos sabem ou entendem é de que forma uma nota atribuída por uma agência internacional de classificação de riscos pode afetar e dificultar a situação do país ainda mais.

No dia 09/09/15 a agência classificadora Standard & Poors rebaixou o grau de investimento, a nota atribuída ao Brasil de “BBB-“ para “BB+”. Permita-me tornar a compreensão desta atribuição mais clara para você. O que a agência quis dizer, é que economia brasileira deixou de ser “pouco atraente”, mas de certa forma “confiável” para se realizar investimentos, para, na visão deles, se tornar um “lixo”. Isso mesmo, na visão deles nossa situação econômica e política é tão frágil, que o retorno de investir no Brasil já não vale mais o risco que se corre.

Podemos até questionar esta e todas as demais agências classificadoras de riscos, questionar seus métodos e avaliações. Afinal, foram muitos os casos de erros de avaliação cometidos por estas agências nos últimos anos. Mas prefiro analisar este corte sob o ponto de vista das causas e consequências.

As causas todos nós já conhecemos. É o resultado de um processo que começou com a revisão das metas fiscais, piorada depois com a queda das commodities, acelerada pela falta de uniformidade nas decisões do governo e potencializada pela instabilidade política vivida no país. O governo precisava ter agido de maneira mais clara, apresentando um plano de ajuste fiscal mais confiável. E entre aumento dos impostos e corte de gastos, o plano do governo deveria priorizar o corte de gastos. E não falo sobre cortar programas sociais ou direito dos trabalhadores, mas cortar gastos com ministérios, enxugar a máquina pública. Ou, de maneira mais radical e pensando no bem estar do povo, romper de vez com os mercados e alongar o pagamento dos juros de sua dívida. Seja como for, era preciso reagir rápido e de maneira clara. No entanto, a imagem passada pelo governo era a de que a presidente estava pilotando um Jumbo sem um dos motores (baixo crescimento econômico), sem copiloto (seu partido, seus aliados e seu pares já não parecem caminhar ao lado dela) e ainda por cima se recusava a usar os instrumentos (ajuste fiscal, reformas ministeriais, aceleração das reformas política e tributária). Para piorar ainda mais o cenário, a mensagem passada pelo governo era a de que a pilota do Jumbo chamado Brasil, está míope, ou seja, tem dificuldade ou incapacidade de enxergar adiante. Diante das causas acima, o investidor estrangeiro passou a olhar o país com desconfiança. O corte do grau de investimento do Brasil é consequência das atitudes desencontradas do governo, da crise política vivida por conta da corrupção, mas, principalmente, da incapacidade deste governo de apresentar um plano claro de como tirar o país da situação vivida. A proposta orçamentária com previsão de déficit primário consolidado no ano que vem, em meio a um cenário recessivo, pouco mais de um mês depois de o governo ter anunciado um drástico corte nas metas fiscais para este ano e os próximos dois, passou a imagem de um governo perdido, sem convicção, e abriu margem para percepções como a passada pelo S&P com o corte da nota brasileira.

Como consequência do anúncio do S&P, conviveremos com a perda investimentos estrangeiros — principalmente fundos de pensão, que têm exigência de duas notas em grau de investimento para fazer aportes de recursos no Brasil. Além disso, o capital já investido aqui pode migrar para outros mercados, provocando uma fuga de capital. Esta saída de recursos estrangeiros provoca escassez de dólares, o que naturalmente elevaria a taxa da moeda americana. A lógica é simples, obedecendo à lei de oferta e demanda: com menos dólares no Brasil, a moeda se torna mais cara por aqui. Além disso, num país onde o baixo crescimento dos últimos anos, para piorar, esteve baseado no crédito, outro possível risco é a elevação das taxas de juros pagas por companhias brasileiras que quiserem captar recursos no Exterior, o que acarretaria em maior custo de financiamento e produção e, consequentemente na piora do resultado das empresas brasileiras. E resultados ruins, invariavelmente culminam em demissões, endividamento, falência…

A dúvida agora é saber se a pilota vai conseguir retomar o comando do Jumbo e concluir seu voo até o fim e em segurança, se veremos um pouso emergencial no meio do caminho ou, na pior das hipóteses, se o grande Jumbo chamado Brasil comandado pela nossa pilota será abatido em pleno voo forças inimigas e até mesmo “amigas”. Enquanto o desfecho não acontece, aperte os cintos e mantenha-se em posição de segurança, pois a turbulência deve demorar a passar.

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