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Previdência, Fed, Commodities e Trump impactam o dólar no Brasil

Dólar subiu no Brasil, mas também ganha força no exterior contras as principais moedas de países exportadores de commodities.
Por  José Faria Júnior
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caro leitor,

Na semana passada indicava que o dólar/real iria ganhar uma direção e alertava para o risco de subir caso rompesse o nosso gatilho de reversão de R$3,17. A moeda americana subiu até R$3,22 e, desde então, perdeu força.

Vamos analisar nesta semana novamente o cenário interno (com foco no que ocorreu com a curva de juros futuros) e o cenário externo (Fed, commodities e Trump).

1-     Cenário interno: fundos locais reduzem fortemente as posições compradas em juros com a desidratação da reforma da Previdência.

Os fundos locais (investidores institucionais) reduziram em aproximadamente 75% a sua posição comprada em contratos futuros de juros. A posição líquida (contratos comprados menos contratos vendidos) era de aproximadamente 2 milhões de contratos comprados no final do mês de março e de “apenas” 520 mil contratos comprados no final do mês de abril. Assim, devido a desidratação da reforma da Previdência, os juros de longo prazo, especialmente a partir do vencimento de janeiro de 2020, subiram fortemente nos últimos dias. Ou seja, como a economia proporcionada pela reforma da Previdência caiu em torno de R$200 bilhões para os próximos 10 anos, a situação fiscal futura do governo piorou e, logo, com juros abaixo de 10% a.a. era melhor sair desta posição embolsando um bom lucro e aguardando um momento melhor para comprar renda fixa (como é mercado futuro, o termo correto é “Preço Unitário” – PU) a taxas mais altas.

Veja um gráfico mostrando a curva de juros futuro do final de março (pontilhado verde) e a curva futura de juros do final de abril (pontilhado laranja). Note que os juros de curto prazo caíram em meio à aposta que o BC cortará a taxa Selic para 8,50%, porém os juros com vencimento a partir de 2020 subiram.

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Fonte: Bloomberg.

Finalmente, os investidores estrangeiros estavam praticamente fora do mercado de juros no final do mês de março, porém voltaram a aplicar nos juros brasileiros na medida em que as taxas de longo prazo subiam, quando terminaram o mês comprados em 380 mil contratos.

2-      Cenário externo: Fed, commodities e Trump.

2.1- Fed deverá seguir “dovish”.

Hoje, dia 03 de maio, é dia de reunião do FOMC (Comitê de Política Monetária do Fed, o Federal Reserve Bank dos Estados Unidos). O mercado espera amplamente a manutenção da taxa de juros no patamar atual de até 1% a.a. Comentamos isto na semana passada, mas é importante atualizar os fatos:

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a)      PIB dos Estados Unidos – sem surpresa, a primeira prévia do PIB do 1º trimestre do ano veio abaixo de 1%, indicando perda de ritmo do crescimento da economia;

b)      Índice ISM da manufatura – caiu novamente no mês de abril em relação ao índice do mês anterior, sinalizando nova redução no ritmo do crescimento da economia;

c)      PCE (a métrica predileta de inflação do FOMC) – caiu de 2,1% na base de comparação anual do mês de fevereiro para apenas 1,8% na base de comparação anual do mês de março.

 

Assim, o mercado segue apostando que o FOMC suba os juros somente mais uma vez este ano. Porém, é importante incluir Trump na análise!

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2.2- Commodities fracas.

Vou repetir o comentário da semana anterior: neste momento, a tendência de alta de longo prazo de um índice que engloba mais de 2 dezenas de commodities (que inclui petróleo, ouro, cobre, alumínio, açúcar, café, milho, soja e outras) ameaça entrar em tendência de baixa de longo prazo, o que seria uma notícia com impacto negativo para o Brasil. Vamos monitorar, mas se confirmar a reversão desta tendência, o dólar tenderá a ficar mais forte.

Importante destacar que a moeda da Austrália, que historicamente é muito correlacionada com o real, abriu uma tendência de baixa contra o dólar no médio prazo. Além disto, devido o temor do Trump e questões de política monetária, a moeda do Canadá abriu uma tendência de baixa contra o dólar no longo prazo!

2.3- Trump ainda é dúvida.

Este item é quase indecifrável. Temos que ter muita atenção ao anúncio do pacote de cortes de impostos para as empresas no valor estimado de U$ 2 trilhões em 10 anos. Para cumprir a meta, Trump tenta: substituir o sistema de saúde atual (“Obamacare”) e pode instituir:

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a)      Substituir o sistema de saúde atual (“Obamacare”),

b)      Elevar impostos de importação – sobre este tema é importante comentar que a importação de madeira do Canadá foi taxada, fato que eleva os temores de imposto de fronteira (Tax Border), que poderia culminar em uma “guerra comercial”;

c)      Instituir imposto, cobrado uma única vez, sobre trilhões de dólares investidos no exterior.

Em resumo, as duas últimas propostas (Tax Border e imposto sobre o investimento no exterior) são favoráveis a um dólar mais forte. É preciso aguardar para entender melhor esta reforma. Mas, fique atento!

3-      Conclusão:

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O cenário interno é binário, dependente do êxito da aprovação da reforma da Previdência. Acredito em desidratação adicional para a sua aprovação. Em última hipótese, há a proposta do Solidariedade que poderá ser perfeitamente aprovada.

O cenário externo sugere Fed menos inclinado a subir os juros. Porém, pacote fiscal de Trump (com risco de incluir uma taxa de fronteira); e a eventual fraqueza nos preços das commodities deixam o dólar mais forte contra as moedas de países exportadores de commodities e emergentes.

Mudamos um pouco o range do dólar/real, que agora é entre R$3,10 e R$3,22. Se o Governo tiver sucesso na reforma e o quadro externo melhorar, poderemos ver o dólar finalmente caindo, testando de fato os 3,00. Mas, fique atento caso este cenário principal não se materialize ou caso as medidas de Trump promovam uma alta do dólar em meio à aprovação de um pacote fiscal nos Estados Unidos.

Até a próxima semana!

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