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Desconfie cegamente do “maridão” polêmico

Até pela urgência de uma retomada econômica, o acompanhamento da postura de Jair Bolsonaro deve ser feito de maneira atenta e desconfiada
Por  Felipe Berenguer
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Na coluna da semana passada, trouxe para você, leitor, dados parciais do novo Congresso Nacional que denotam a reorganização de forças políticas e como ela influencia em uma eventual votação da Reforma da Previdência.

Digo parciais porque ainda temos muitas mudanças pela frente, a começar pela vigência da cláusula de desempenho, que afetará diretamente 9 partidos. Eles deixarão de receber dinheiro do Fundo Partidário em 2019 e terão grandes dificuldades para se sustentar. Naturalmente, os 32 deputados eleitos por estas siglas deverão mudar de legenda.

Também, como ressaltei no sábado passado, a reforma previdenciária depende da capacidade de negociação do novo governo executivo liderado por Jair Bolsonaro. O novo presidente tem papel central nessa missão: deve esquecer o lado mais ideológico de sua campanha e substituí-lo pelo dom da articulação, tão bem incorporado por presidentes como Lula e FHC e tão ausente em Collor e Dilma.

Após alguns dias da definição do segundo turno, já me deixa desconfortável a retórica do candidato eleito. Em seus discursos e entrevistas, Bolsonaro escorrega em declarações carentes de republicanismo – valor tão prezado ao chefe de um Estado. Episódios como as declarações contra o jornal “Folha de S. Paulo”, contra professores da Fundação João Pinheiro de Minas e contra seus oponentes políticos, ainda que, segundo ele, sejam “exageradas” e “no calor do momento”, não cabem mais no Bolsonaro presidente.

Se as pérolas de Dilma minavam sua reputação, se Ciro Gomes teve de lidar com o temperamento explosivo e Alckmin com sua apatia, por que – em nome das reformas e do crescimento econômico – não deveríamos nos preocupar com a obsessão do novo eleito com declarações polêmicas?

Aqui, tenho a humildade de admitir que ninguém liga para como eu me sinto com relação ao militar. O que interessa é a confiança dos investidores. Nesse sentido, estou aqui sendo uma espécie de cupido político. Apesar de levemente preocupado, adoraria ver a lua de mel do mercado com Jair Bolsonaro dar certo. Os investidores estão prontos para curtir, mas devem estar atentos à qualquer traição ao pacto firmado entre as partes – o pacto econômico.

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Em outras palavras, o mercado escolheu confiar no novo Jair Messias e agora deve acompanhar bem de perto os seus movimentos e declarações. Sem querer ser pessimista, mas confiar cegamente no “maridão” é receita para o desastre.

Lançando mão de um tom moderado, o presidente poderá mostrar que amadureceu frente à responsabilidade de comandar o Brasil e, inclusive, dar uma contundente resposta ao investidor estrangeiro – responsável por 50% do capital negociado no mercado brasileiro de ações. Dois coelhos numa cajadada só. Dá confiança dos investidores e um recado para a imprensa estrangeira, que focou no seu passado polêmico e com lapsos autoritários.

Tão ou mais importante é uniformizar o discurso entre a sua equipe, para que os membros evitem ficar “batendo cabeça”, como ocorreu mais que o desejado durante a campanha presidencial. O presidente também não é nenhum pai para ficar desautorizando ou repreendendo suas crianças. Ou chega-se a um consenso para governar ou os incomodados que se retirem, porque senão não há diálogo com quem precisa ser convencido e, consequentemente, não há avanço.

Vale ressaltar, também, que qualquer lapso autoritário do presidente é motivo de “separação” imediata. Estamos longe de qualquer tipo de governo fascista – não há espaço institucional para isso –, mas os pesos e contrapesos democráticos precisam funcionar.

Até sua posse, o candidato eleito terá pouca cobrança da sociedade para construir esses dois pilares imprescindíveis para um governo oxigenado. O pilar da moderação, da articulação pragmática e o do projeto sólido de governo, da divisão de responsabilidades e atribuições.

Contudo, não cobrar não significa ser irrestritamente leniente. Até pela urgência de uma retomada econômica, o acompanhamento da postura de Jair Bolsonaro deve ser feito de maneira atenta e desconfiada. Sem obstruções desnecessárias, mas criticando construtivamente quando necessário.

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