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Finanças são para crianças?

Dinheiro, salário, impostos, gastos, investimentos e poupança são palavras que podem ser aprendidas na idade escolar e serem extremamente úteis para a formação de um adulto mais consciente.
Por  Eli Borochovicius
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Muito se discute sobre a educação financeira voltada para crianças. Alguns profissionais da psicologia entendem que se trata de um processo de adultização, alegando que ensinar administração do dinheiro é tão coisa de adultos quanto aulas de direção, sexo ou participação política.

Respeito a opinião desses profissionais, mas não compactuo da mesma orientação pedagógica e entendo serem equivocadas as comparações.

Veículo é uma máquina que demanda coordenação motora adequada, força e por desenvolver velocidade, exige capacidade de reação rápida. O veículo é um meio de locomoção automotor e qualquer negligência, imprudência ou imperícia pode causar graves acidentes. Por outro lado, carros de controle remoto bem como veículos de jogos de videogame não são tão assustadores e parecem apropriados para as crianças.

Aulas de sexo parecem eficientes no processo de conscientização do corpo do adolescente e um grande aliado das prevenções de doenças sexualmente transmissíveis. Talvez não concorde com a educação sexual para crianças de 10 anos, mas para as de 15 não vejo com maus olhos. Educação sexual busca esclarecer questões como gravidez, anticoncepcionais, preservativos e doenças. Não é ensinado como fazer sexo.

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Participação política foi ensinada no passado, nas aulas de Educação Moral e Cívica, em que as crianças aprendiam que, fazer política, era servir a sociedade. Nas aulas, aprendíamos cidadania, tão ausente em nossas crianças. Será mesmo que falar de consciência social seja voltado apenas para adultos?

Educação financeira vai muito além de falar de dinheiro. As aulas de educação financeira incentivam os trabalhos colaborativos e cooperativos, estimulam a capacidade de organização, exercitam a concentração e os resultados têm se mostrado positivos. Alunos com aulas de Educação Financeira apresentam notas melhores nas demais disciplinas, especialmente por desenvolverem essas características.

É comum pais e professores apresentarem certo pré-conceito com aula de Educação Financeira, como se fosse uma fábrica de monstros mercenários. E.G.C. de apenas 12 anos foi feliz em sua colocação: “aprendi que não podemos economizar demais e nem gastar demais, temos que achar um meio termo”. As aulas buscam mostrar a importância do equilíbrio financeiro, especialmente nas decisões de investimento e financiamento, aliando razão com emoção. Para M.N.B.C., “além de juntar dinheiro, devemos gastar com diversão ou comprar alguma coisa que queira”.

Crianças com educação financeira criam também consciência ambiental e social e compreendem a necessidade de evitar o desperdício. M.S.L.N. de 13 anos disse que após as aulas de educação financeira, passou a observar mais os preços dos produtos e parou de pedir coisas que não precisava. C.Y.Y.K. de 12 anos assumiu que antes comprava tudo o que queria, sem saber o preço, mas agora, pensa bem se precisa e analisa os preços. A educação financeira auxilia na prevenção do consumismo exacerbado e irresponsável. A aluna B.P.F. de 12 anos declarou que mudou seu comportamento depois das aulas de Educação Financeira, tomando “banhos mais rápidos para não gastar tanto dinheiro”.

O depoimento de T.M.A.C. de 12 anos ratifica a consciência financeira em âmbito familiar, demonstrando preocupação com a economia doméstica: “estou começando a economizar meu dinheiro e não gastando o do meu pai com bobagens”. Para M.F.L.A., garoto de 12 anos, a aula de educação financeira fez com que percebesse “como as coisas são caras/baratas”, fazendo com que ele compreenda como economizar e ajudar a família.

Enfrentamos uma crise econômica e temos visto aumentar consideravelmente as taxas de endividamento e as de inadimplência. Aprender a organizar as finanças e poupar para períodos emergenciais faz parte do processo. N.F.V.S. de 12 anos disse que começou a “guardar 70% e gastar 30%” do que ganha. Na inocência infantil, M.F.C.F.A., também de 12 anos, salientou que sabendo poupar é possível “comprar investimentos”, fazendo alusão a uma das inúmeras dinâmicas aplicadas nas aulas de Educação Financeira.

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São lições que aparentemente deveriam ser dadas a alguns adultos. De acordo com uma das crianças, “alguns adultos ainda não sabem como gastar o dinheiro … crianças e adolescentes têm mais consciência”.

L.O.M. de 12 anos simplifica o aprendizado: “Aprendi que dinheiro não é um objeto, mas sim uma responsabilidade”.

A educação financeira não é modismo, muito pelo contrário, é uma disciplina que tem sido incorporada nos currículos das escolas. Tem se mostrado fundamental para o desenvolvimento do adulto capaz de compreender e transformar a realidade, atuando na superação das desigualdades e do respeito ao ser humano.

Eli Borochovicius Eli Borochovicius é docente de finanças na PUC-Campinas. Doutor e Mestre em Educação pela PUC-Campinas, com estágio doutoral na Macquarie University (Austrália). Possui MBA em gestão pela FGV/Babson College (Estados Unidos), Pós-Graduação na USP em Política e Estratégia, graduado em Administração com linha de formação em Comércio Exterior e diplomado pela ADESG. Acumulou mais de 20 anos de experiência na área financeira, tendo ocupado o cargo de CFO no exterior. Possui artigos científicos em Qualis Capes A1 e A2 e é colunista do quadro Descomplicando a Economia da Rádio Brasil Campinas

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