CPI abaixo das previsões fortalece tese de redução do ritmo de alta dos juros em dezembro, dizem analistas

Especialistas, no entanto, citam inflação de serviços ainda forte e evitam antecipar final do ciclo de alta de juros nos EUA

Roberto de Lira

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O fato de a inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de 0,4% no mês ter vindo abaixo da expectativa do mercado corrobora as leituras de que o Federal Reserve deve reduzir o ritmo de alta dos juros em sua reunião de dezembro, mas os analistas alertam que o índice ainda está alto e longe da meta de 2% anuais perseguida pelo Banco Central dos EUA. Portanto, é precipitado prever que o atual ciclo de contração será interrompido nos próximo encontros do comitê de política monetária (Fomc).

Angelo Polydoro, economista da ASA Investments, destaca que várias categorias de bens vieram trouxeram alívio nas métricas trimestrais anualizadas pela primeira vez em muito tempo, como itens de vestuário, artigos domésticos como móveis, preços de lazer até de fotografia. “É o primeiro número que a gente consegue ver uma luz no fim do túnel, mas tem que atravessar o túnel ainda”, alerta.

O otimismo moderado se justifica porque os preços dos serviços, na mesma comparação trimestral, ainda estão altos. Polydoro afirma que o CPI no atual patamar já é suficiente para que o Fed desacelere a alta dos juros para 50 pontos base na próxima, mas não para interromper o ciclo, porque o “outro lado da história”, a inflação de serviços, ainda está ruim.

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Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais, lembra que a alta de 0,4% no mês, embora abaixo das projeções, é idêntica à verificada em setembro, o que mostra a resiliência da inflação nos EUA.

A XP destaca, em sua análise Macro, que a queda da inflação global anual, de 8,2% em setembro para 7,7% em outubro, foi a quarta consecutiva. E que o núcleo recuou, de 6,6% para 6,3%.

Mas alerta que os índices de serviços de abrigo e transporte aumentaram 0,8% no mês. “Também de altíssima relevância, o índice de aluguel equivalente dos proprietários (OER), que pesa 23,5% no índice CPI, aumentou 0,62% no mês em outubro, e a inflação anual passou de 6,7% para 7,0%”, pondera a XP.

De olho nos dados

Por conta disso, a XP continua a acreditar que o Fed desacelerará o ritmo de alta para 50 pontos base em dezembro, “dado que já houve um progresso significativo no aperto da política monetária”. Para a frente, acredita que os dados divulgados hoje suportam o cenário base de que o Fed fará uma pausa após a decisão de dezembro.

Disso, claro, vão depender os dados macroeconômicos ainda a serem divulgados. “A necessidade de novos aumentos de taxas dependerá muito da inflação futura e dos dados do mercado de trabalho do quarto trimestre. O CPI de outubro marcou o segundo de seis lançamentos de dados que são fundamentais para o futuro da política monetária nos EUA”, comenta.

Carlos Vaz, CEO e fundador da CONTI Capital, analisa que o CPI de outubro pode significar uma notícia positiva quanto ao combate à inflação e pode até indicar a possibilidade de diminuição de ritmo de aumento na taxa de juros.

“Diante dos últimos indicadores que estamos acompanhando, por hora, ainda acredito numa elevação de 50 pontos base para dezembro. Mas, é importante ponderar que, os efeitos de todos os acontecimentos econômicos até a próxima reunião do Fed influenciarão a decisão sobre fechar 2022 com um aumento um pouco mais brando, ou seguir numa postura mais dura”, afirma

Fabio Fares, especialista em macroeconomia da Quantzed, também acredita que os números fortalecem o discurso do Fed de diminuir o ímpeto das altas, mas que isso não significa que juros vão parar de subir.

Para a CM Capital, é preciso cuidado ao interpretar que o CPI de hoje aliado ao payroll da última sexta-feira (com criação de 261 mil vagas de trabalho nos EUA) que Fed possa adotar um comportamento mais “dovish” em seus comunicados ao mercado. “Esta hipótese não encontra tanto respaldo na realidade dos dados. Apesar da geração de empregos ter desacelerado entre setembro e outubro, assim como o desemprego ter apresentado leve alta, o mercado de trabalho do país ainda se encontra demasiadamente aquecido”, diz relatório divulgado nesta manhã.

A explicação é que o índice de 3,7% de desemprego apresentado no último relatório está dentro do intervalo registrado ao longo de 2022 (entre 3,5% e 3,7%), sendo insuficiente para confirmar o início de um processo de reversão da geração de novos postos de trabalho.

“Em termos de inflação, é importante destacar que o resultado deste mês foi beneficiado por um avanço mais ameno do núcleo, em especial do segmento de serviços de transporte, que avançou a uma taxa atípica em setembro e aparentemente restabeleceu a normalidade no último mês. Por outro lado, a perspectiva para os próximos períodos é negativa, especialmente por conta do possível desenvolvimento negativo do grupo de energia, que deve ser prejudicado por um eventual aumento do preço do barril de petróleo no mercado internacional”, avalia a CM Capital.

Assim a expectativa é menos otimista quanto à reversão do atual ciclo de aperto pelo Fed. “Podendo inclusive realizar novos reajustes para cima em sua taxa de juros no primeiro trimestre de 2023”, afirma.

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