Há grandes oportunidades em “cada Brasil” para a Ambev, afirma CFO

Em entrevista para o InfoMoney,  Fernando Tennenbaum aponta que a consistência foi determinante para o resultado da Ambev no 2º trimestre e minimizou preocupação com as margens da companhia

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A temporada de resultados mal começou, mas já se sabe que a Ambev (ABEV3) é um dos destaques do segundo trimestre. A companhia viu a ação disparar 8,5% na sessão da última quinta-feira (25),  ganhando R$ 24 bilhões em valor de mercado em apenas um dia. 

A gigante brasileira fabricante de bebidas registrou aumento do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), alta no volume de vendas de cerveja no Brasil (de 2,9%), além de um grande crescimento também na América Central e Caribe, o que animou (e muito) os investidores após o resultado, ainda mais após trimestres desafiadores. 

Para Fernando Tennenbaum, diretor financeiro e de relações com investidores da Ambev, uma palavra define o resultado positivo do período: “consistência”. Em entrevista ao InfoMoney, o CFO destacou que não houve mudança de estratégia. Houve continuidade dos investimentos no portfólio e nas marcas como nos últimos quatro anos. Mas, agora, a empresa passou a colher os frutos do que vem fazendo – e, mais do que isso, há oportunidades nas diversas regiões brasileiras. 

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“O nosso guia é o foco no consumidor, então temos que atender as necessidades dele sabendo que elas são diferentes dependendo da ocasião”, aponta o diretor da companhia, trazendo diversos exemplos do quão importante foi o lançamento de produtos e marcas para o crescimento da empresa em um ambiente ainda desafiador na economia.

As marcas vão desde a Corona para um ambiente praiano, a premium Stella Artois em jantares fora de casa ou uma Budweiser em um show de rock, exemplifica o executivo.

As necessidades a serem atendidas não são somente são referentes às marcas, mas também de adequação de quantidade e formato das embalagens para cada ocasião, como latas menores para levar à praia ou uma garrafa de 600 ml para dividir a cerveja em um bar com os amigos. 

Outro pilar importante, avalia o CFO, é a melhora do serviço ao clientes. Todas as vendas eram feitas pelo vendedor de forma direta e, hoje, quase um terço das vendas são feitas em outras plataformas, como internet , o que torna o vendedor também um gerente de relacionamentos e aumenta a satisfação do cliente com as marcas. 

Uma outra surpresa positiva ficou com o volume de bebidas não alcoólicas (refrigerantes, sucos, água, Gatorade) no Brasil, que aumentou 5,6% em relação ao ano anterior, e com os preços médios subindo ainda mais, em 8,1%. O foco, neste caso, fica ainda mais evidente para a questão da saudabilidade, sendo um grande exemplo disso a expansão do Suco do Bem, sem adição de açúcar. 

Margens e concorrência

Apesar dos números terem agradado, uma preocupação recorrente entre os analistas de mercado foi com relação à queda das margens.

A margem em cerveja para o Brasil comprimiu em 6,2 pontos percentuais na comparação anual, enquanto a receita por hectolitro subiu 3,7%, em meio a alta dos custos da companhia. 

Porém, como boa parte dos custos veio do efeito câmbio e aumento das commodities, especialmente alumínio e cevada, Tennenbaum não vê estes números com tanta preocupação. 

“É algo cíclico, então tem anos que ajuda, mas em outros atrapalha. Porém, se a receita está robusta, há fundamentos sólidos e a execução está funcionando, essa questão preocupa menos. Na média os números se normalizam e as margens retomam o crescimento”, afirma o CFO.

Por outro lado, também impactando as margens, houve o aumento nas vendas no Norte e no Nordeste, em que os preços são mais baixos que no Centro Sul, por exemplo. Contudo, aponta o executivo, o fato de haver crescimento nas duas regiões foi bastante positivo e há produtos na região que trazem uma margem atrativa. 

Grande espaço para crescimento

Mesmo sem fazer projeções para a economia, Tennenbaum reforça otimismo para o crescimento das operações no Brasil, apontando um indicador relevante para isso. 

“A maior oportunidade aqui no Brasil é que metade da população que hoje poderia consumir cerveja hoje não faz isso e muito por conta das restrições de renda. É difícil fazer qualquer previsão, mas qualquer melhora [na economia] que vier é uma oportunidade enorme para a gente”, avalia. 

O executivo ainda aponta que a população de mais 18 anos está crescendo em média 1% ao ano, de modo que, olhando para métricas, “não dá para não estar animado com o País” dado o grande potencial de atingir novos públicos. 

Ao falar sobre as novas tendências de consumo, Tennenbaum ressalta que “há vários Brasis dentro do Brasil”. Ou seja, cada região apresenta uma dinâmica diferente e que, por isso mesmo, a diversificação de produtos é importante. 

“Para ‘cada Brasil’ há iniciativas e oportunidades, afirma. No Sul e no Sudeste a oportunidade no segmento premium é maior no momento, mas mais para frente pode ser uma oportunidade no Nordeste. No fim das contas, o mais importante é ter um portfólio em que possa usar cada marca onde faça mais sentido”, reforça o executivo.   

E conclui: “entendo que tenha pressão de custos, mas acredito que ela é cíclica. Se conseguirmos seguir entregando essa consistência há muito valor a ser criado. Tivemos um bom primeiro semestre e continuamos animados com o que vem pela frente”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.