Ambev: Nem uma das “queridinhas” da Bolsa escapa da mão pesada do governo

Com tributação a bebidas anunciada nesta data, as ações da companhia caem mais de 5% e se juntam a outras que também sofrem com intervenção governamental

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As ações da Ambev (ABEV3), tidas como as queridinhas dos investidores em meio à sua “quase estabilidade” em meio às fortes oscilações da Bolsa brasileira, devido ao caixa estável e a sua alta rentabilidade, tiveram um forte baque na sessão desta quarta-feira (30). Às 15h51 (horário de Brasília), a ação registrava queda de 5,36%, a R$ 16,24. 

Isso devido às medidas do governo, que fará novo aumento na tributação da cerveja e refrigerante. A elevação valerá a partir de 1º de junho e poderá ter impacto de 1,3% sobre o preço final das bebidas frias, resultando num aumento de arrecadação de R$ 1,5 bilhão.

Vale ressaltar que, no dia 1 de abril, a Receita já havia mudado o multiplicador que incide sobre os preços da tabela usada como base para o cálculo dos tributos. Na ocasião, o impacto foi nas cervejas, isotônicos e energéticos. Refrigerantes ficaram de fora. Na época, a medida implicou numa elevação média de 0,4% no preço dos produtos. 

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Os motivos para que o governo tenha aumentado os tributos sobre o setor também são questionados. O secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Barreto, negou que a nova medida está sendo adotada para ajudar o governo a bancar a ajuda adicional de R$ 4 bilhões que o Tesouro Nacional dará ao setor energético neste ano.

Vale ressaltar que as elétricas, agora sendo ajudadas pelo governo, também foram alvos da intervenção governamental em setembro de 2012, em meio à Medida Provisória 579, que foi criada de modo a reduzir os preços de energia. Além do setor de energia, 2012 foi marcado por um ano de fortes intervenções governamentais no campo corporativo, com a atuação no setor de bancos, entre outros. Fora o caso mais notório de intervenção governamental, com o controle de preços de combustíveis para tentar diminuir o impacto sobre a inflação e que afetam negativamente a Petrobras (PETR3;PETR4) e é alvo de críticas por diversos analistas. 

Apesar do governo negar, conforme ressaltou o jornal O Globo, os técnicos da equipe econômica admitiram nos bastidores que a medida de aumento dos impostos para bebidas não estava no radar no momento. Contudo, em meio às dificuldades de caixa da União, além do fato das vendas de bebida deverem subir durante a Copa do Mundo, a medida acabou virando realidade. 

“A interferência governamental é nociva as empresas brasileiras. É impressionante o que o governo tem conseguido fazer no setor corporativo”, destaca a equipe de análise da XP Investimentos.

Conforme ressaltam os analistas da Planner, após uma forte recuperação de vendas no primeiro trimestre, está é uma má notícia para a Ambev, que detém 67,9% do mercado nacional de cervejas e 18,4% de refrigerantes. “Os aumentos nos preços provocados por estas elevações de tributos são pequenos, mas sempre impactam as vendas em um mercado que já não está pujante”, avalia a corretora. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.