Eleições na América Latina e sucessão no Fed mexem com os mercados

No Chile, as eleições presidenciais previstas para novembro devem definir os rumos da economia.

Osni Alves

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As eleições que se aproximam em países-chave da América Latina e a incerteza sobre a sucessão no Federal Reserve (Fed) estão no radar de investidores globais. Em debate durante a International Week XP, o economista-chefe da XP, Caio Megale, e o estrategista macro sênior para a América Latina, Marco Oviedo, destacaram como a política pode ditar o rumo dos mercados nos próximos meses.

No Chile, as eleições presidenciais previstas para novembro devem definir os rumos da economia. Segundo Oviedo, embora a esquerda lidere as pesquisas com a candidata Jeannette Jara, a segunda rodada tende a favorecer nomes de direita ou centro-direita.

“O panorama parece otimista para os mercados, mas a dificuldade histórica de cooperação entre partidos de centro e direita pode travar reformas estruturais”

— Marco Oviedo, estrategista macro sênior.

No Brasil, o foco está nas eleições de 2026, ainda distantes, mas já cercadas de expectativas sobre avanços fiscais. “O debate está muito centrado nas reformas que precisam acontecer após o pleito”, afirmou Megale. O ciclo eleitoral na região também passa por Colômbia e México, mas é a Argentina, com eleições marcadas para outubro, que chama mais atenção dos analistas.

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Argentina em alerta

Megale contou ter estado recentemente em Buenos Aires para avaliar os impactos da política econômica do governo de Javier Milei. “Houve um ataque especulativo clássico, com fuga de dólares e pressão sobre a taxa de câmbio”, relatou. Segundo ele, o apoio dos Estados Unidos e do FMI ajudou a conter a crise, mas o resultado das urnas em outubro será determinante.

A derrota do governo em Buenos Aires ampliou o risco de novas perdas regionais. “As autoridades locais parecem confiantes em manter o ajuste fiscal, mas existe a fadiga do ajuste. Quando ele se prolonga demais, cria animosidade contra o governo”, observou Megale.

Bolsas e juros destoam nos EUA

O cenário global também influencia a América Latina. As bolsas americanas seguem renovando recordes, mesmo diante de juros elevados. Para Megale, a quebra da correlação histórica entre alta de juros e queda das ações tem explicação.

“Há uma desconfiança no mercado de títulos nos Estados Unidos, por causa da situação fiscal, mas isso não impediu as bolsas de subirem”

— Caio Megale, economista-chefe.

Ele citou ainda o conceito de “risco geoeconômico”, mencionado em artigo recente de Mohamed El-Erian, que ressalta como fatores políticos e geopolíticos estão pesando mais sobre as economias do que fundamentos técnicos.

Sucessão no Fed preocupa investidores

A sucessão de Jerome Powell no comando do Fed, em 2026, é outro ponto de atenção. “O Trump já deixou claro que não está confortável com o trabalho de Powell e pode indicar um nome mais alinhado a suas visões”, destacou Megale. Entre os cotados, nomes como Kevin Walsh e Christopher Waller são vistos como técnicos, enquanto Kevin Hassett representa um perfil mais político.

Para o economista, o risco está em transformar o banco central americano em uma instituição suscetível a pressões políticas.

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“Sempre vimos o Fed como provedor de estabilidade. Seria muito negativo caminhar na direção de um Fed mais político”

— Caio Megale, economista-chefe.

Moedas emergentes na linha de frente

Segundo Megale, a eventual fragilidade do Fed pode mexer com o dólar, mas o efeito sobre moedas emergentes, como o real, dependerá da percepção de risco. “Se houver maior aversão, moedas brasileiras podem sofrer”, disse.

Os especialistas concluíram que eleições na América Latina, ajustes fiscais prolongados e a disputa pela liderança do Fed são os principais fatores que devem guiar os mercados no curto prazo. “Esses elementos vão ser fundamentais para a dinâmica de preços e para decisões de investimento”, afirmou Megale.