BC à deriva? Cenários com a possível saída de Meirelles com eleição em 2010

Atual presidente do Banco Central pode deixar cargo, mas analistas avaliam mudanças na política monetária como improváveis

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SÃO PAULO – Com a corrida para as eleições de 2010 esquentando, não faltam especulações sobre cargos e quadros partidários. Após filiar-se ao PMDB, o presidente mais longevo da história do Banco Central, Henrique Meirelles torna-se uma importante opção governista, mas também levanta dúvidas sobre o futuro da autoridade monetária.

Provavelmente, o período entre 2003 e 2010 passará a ser chamado de “Era Lula”. Não fosse o enorme destaque do presidente Luis Inácio Lula da Silva, e muitos a chamariam de “Era Meirelles”, tal foi sua proeminência na condução da política monetária.

Certamente, sua presença na comitiva que defendeu a candidatura do Rio de Janeiro aos Jogos Olímpicos de 2016, ao lado do presidente da República, não foi à toa. “Sua biografia como presidente do BC ficará muito bem”, acredita o economista Alberto Furuguem. Mas Meirelles parece sonhar com voos políticos mais altos.

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Histórico
Opção para 2010
BC à deriva?




Histórico

Alçado ao cargo com a missão de trazer a confiança do mercado, receoso do passado hostil de Lula e do Partido dos Trabalhadores, Meirelles abandonou o oposicionista PSDB – pelo qual se elegera deputado federal – e foi para Brasília, levando na mala o passado querido por Wall Street na direção do Bank Boston.

Aos poucos, o atual presidente do Banco Central adotou os órfãos de Armínio Fraga, que lamentavam a saída do antecessor, consolidando-se como um pilar austero, frente aos temores constantes de descontrole fiscal. A despeito das críticas de dentro do Governo, fato é que a inflação foi mantida sob controle.

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Meirelles viu sua imagem ser lapidada perante a opinião publica ao longo da crise global, quando o Banco Central interveio para irrigar o sistema financeiro brasileiro. “O acúmulo de reservas cambiais constituiu-se em estratégia eficiente e mostrou-se fundamental para atravessar a crise financeira internacional”, avalia Furuguem.

Contribuindo para a melhora dos indicadores macroeconômicos do País, Meirelles conduziu a acumulação de reservas que atualmente ultrapassam os US$ 200 bilhões, elevando o País à condição de credor externo líquido.

Muitos, no entanto, acreditam que o Banco Central poderia ter ido além neste ponto, evitando a apreciação do real frente ao dólar, o que ajuda no controle dos preços – por facilitar importações -, mas reduz a competitividade dos produtos brasileiros no exterior.

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Opção para 2010

Especula-se que o grande sonho de Meirelles é a Presidência da República. Embora não seja dotado do mesmo carisma de Lula – e que político é? -, o primeiro passo poderia ser dado em 2010, com a candidatura para o governo de Goiás. Outros apontam seu nome como forte para o Senado.

Embora tivesse a simpatia de alguns partidos de oposição no plano federal, o atual chefe do BC optou pela filiação ao PMDB, o arredio aliado do Planalto. Esta escolha deu novo tom à sua participação em 2010, tornando-o uma alternativa para a vaga de vice-presidente na chapa encabeçada por Dilma Rousseff (PT).

Seja no plano regional ou no nacional, ainda espera-se que Meirelles mostre sua viabilidade eleitoral, o que implica dedicação maior à carreira política e pode precipitar sua saída do Banco Central, exigida por lei para o final de março de 2010 caso dispute, de fato, as eleições.

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BC à deriva?

Desde que a possibilidade de Meirelles disputar a eleição em 2010 surgiu, muitos passaram a temer pela estabilidade da política monetária. Especialmente por conta de alguns dos nomes que são especulados como alternativa ao atual presidente, identificados com correntes econômicas mais heterodoxas.

“Não vejo como problema”, afirma o economista Alberto Furuguem. Ele relembra que o presidente do BC é escolhido pelo Presidente da República e entende que Lula não estaria disposto a aceitar o descontrole da inflação.

“Acredito que Lula saberá avaliar a situação e nomear alguém que não represente ameaça à estabilidade”, completa Furuguem. Para muitos, a alternativa a Meirelles pode vir de dentro da própria instituição, especialmente pelo curto período que decorreria até a próxima eleição.

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Em relatório, os analistas do BofA Merrill Lynch também avaliaram como improvável que a eleição do próximo ano cause o descarrilamento da política macroeconômica brasileira. Nomes fortes seriam os dos diretores de política econômica, Mario Mesquita, e de normas e organização do sistema financeiro, Alexandre Tombini.