Pressão na Petrobras, alta na inflação: dólar incomoda e BC pode intervir

Embora a valorização da moeda ajude a deixar a indústria brasileira mais competitiva, o Banco Central já deixou claro que pode intervir caso a moeda suba demais

Rodrigo Tolotti

Dólar (Shutterstock)

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SÃO PAULO – A recente alta do dólar tem dividido opiniões e gerado muitas dúvidas sobre qual é a intenção atual do governo e do mercado em relação ao câmbio. Enquanto o mercado parece testar novos patamares, com o dólar chegando a R$ 2,10 nesta semana, alguns analistas entendem que o Banco Central deve intervir caso a moeda continue a subir.

Em relatório, a equipe de consultores da LCA afirma que a atual depreciação do real tem o intuito de aumentar a competitividade da indústria nacional, como a própria presidente Dilma Rousseff já declarou. Além disso, o governo já tomou outras ações protecionistas, como a desoneração da folha de pagamentos e a redução da tarifa de energia elétrica. A combinação de todos esses fatores pode ajudar o aumento de investimento na produção industrial.

Contudo, uma das grandes preocupações com este atual movimento do câmbio é o impacto que isso pode ter na inflação. A LCA lembra que no relatório trimestral de inflação, divulgado pelo BC em setembro, uma alta permanente de 10% na taxa de câmbio deve resultar em uma aceleração de 0,2 ponto percentual no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) total dos 3º e 4º trimestres subsequentes, além de um impacto de 0,4 p.p. em 12 meses.

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Apesar disso, nesta quinta-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentou o IPCA-15, que apresentou variação positiva de 0,54%, ficando abaixo do valor relatado no mês anterior, quando marcou 0,65% de inflação. Com isso, o Itaú BBA reduziu sua projeção para o IPCA de novembro, de 0,58% para 0,50%.

De todo modo, este cenário de alta nos preços tem empurrado as taxas de juros mais longas para cima, o que pode forçar o BC a tomar alguma atitude. Como alternativa, a LCA coloca a adoção de uma política fiscal mais apertada, porém o espaço para se aumentar o superávit primário ao longo dos próximos meses segue limitado.

Alta do dólar prejudica a Petrobras
Entre as grandes empresas que perdem com o avanço das cotações do dólar, está a Petrobras (PETR3; PETR4). Atualmente o governo está segurando os valores de combustíveis, fazendo com que ela acabe vendendo o produto importado abaixo do preço de custo. A cada aumento da moeda norte-americana, a diferença cresce.

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Na quarta-feira, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma notícia afirmando que executivos da Patrobras admitem a necessidade de aumento para a gasolina e o diesel no próximo ano, sendo que alta pode ocorrer de uma só vez, subindo cerca de 12% a 15%, ou ser dividida em dois acréscimos, de 5% a 6%, em fevereiro e agosto.

Porém, durante a tarde, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo aumentará o preço dos combustíveis “no momento certo”. Segundo ele, não há demanda da estatal por um reajuste de até 15% para 2013. “A Petrobras tem o maior caixa de todas as empresas brasileiras”, frisou o ministro.

Com esse cenário, o financiamento dos investimentos necessários para a exploração do pré-sal está ameaçado, o que força a companhia a tentar um ajuste em curto prazo, com cortes em investimentos de menor prioridade, além da venda de ativos.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.