Repaginada? O que esperar dos próximos 4 anos de Dilma na presidência

A presidente Dilma Rousseff assegurou um novo mandato de 4 anos para gerenciar e superar velhos problemas, destaca o Goldman Sachs; desafios são enormes

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A presidente Dilma Rousseff (PT) foi reeleita para um segundo mandato de quatro anos com 51,6% dos votos válidos e, com isso, muitos passaram a se questionar sobre como será a sua atuação na política econômica. 

“A presidente Dilma Rousseff assegurou um novo mandato de 4 anos para gerenciar e superar velhos problemas”, afirma o economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, destacando que a economia acumula nos últimos anos uma série de distorções de preços relativos e grandes desequilíbrios macroeconômicos. 

“O ajuste macroeconômico é inevitável por conta dos excessos políticos anteriores e deve continuar ao longo de 2015. Neste sentido, o governo enfrentará escolhas políticas, monetárias e fiscais imediatamente difíceis dado o cenário de baixo crescimento, alta da inflação (acima da meta), as expectativas de inflação não ancoradas, custos unitários do trabalho não competitivos, uma recessão no setor industrial, recuo do investimento, fundamentos fiscais e de conta corrente visivelmente enfraquecidos, credibilidade da política corroída e sentimento deprimido dos consumidores e das empresas”. 

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O foco estreito nos últimos anos no estímulo ao consumo, por meio de uma combinação de políticas intervencionistas e instrumentos pouco ortodoxos, tem prejudicado os fundamentos do lado da oferta da economia, afirma Ramos. Ou seja, o PIB potencial diminuiu na margem devido, entre outras coisas, ao declínio do investimento e à queda da produtividade do trabalho. Isso explica, em parte, a rigidez da inflação, apesar de relativamente baixas taxas de crescimento real do PIB. 

Ao mesmo tempo, a presidente também vai enfrentar o desafio adicional daconstrução de um governo eficaz de coalizão em um Congresso agora ainda mais fragmentado (28 partidos agora têm representação na Câmara e 17 no Senado) e um pano de fundo político que pode ser impactado em 2015 pela ampliação das investigações em curso envolvendo denúncias de corrupção na Petrobras. Além disso, espera-se que a oposição venha mais forte e mais engajada do que durante o primeiro mandato. 

Em última análise, o governo enfrenta o desafio de, através de políticas disciplinadas e reformas estruturais, buscar o reequilíbrio da economia, impulsionar os deprimidos “espíritos animais” e, finalmente, liberar o potencial da economia. 

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O que esperar?
Para Alberto Ramos, a expectativa é de que presidente Dilma Rousseff hesite em sua abordagem para lidar com os atuais desequilíbrios macroeconômicos, ressaltando que a eleição tem de alguma forma onerado e constrangido a elaboração de políticas nos últimos meses.

“Desde o segundo semestre de 2013, a estratégia global do governo parece ter sido orientada principalmente para proteger o crescimento e o emprego e inclinado para o uso pesado de instrumentos não-ortodoxos para lidar com a inflação. Agora que a eleição passou, esperamos que a presidente Dilma Rousseff ajuste um pouco a abordagem política e também mude alguns membros importantes da equipe econômica”, afirma Ramos.

Assim, com uma nova equipe no lugar e sem tantas preocupações eleitorais, o Goldman espera que as autoridades sejam suscetíveis a promover um ajuste fiscal muito leve e para conter parcialmente a concessão excessiva de empréstimos dos bancos públicos. Além disso, as autoridades provavelmente vão ajustar gradualmente uma série de preços administrados (gasolina, energia elétrica, tarifas de ônibus urbanos, entre outros), a fim de evitar distorções macro e microeconômicas.

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De acordo com o economista, as intervenções são cada vez mais caras do ponto de vista macroeconômico já que atinge a competitividade do País e exacerba descompassos externos. Além disso, o estoque de swap cambial já está em nível
bastante elevado. Por fim, a inflação continua pressionada e a Selic precisará subir 100 ou 150 pontos para que haja uma convergência da inflação para a meta. 

Segundo a consultoria econômica LCA, os rumos das principais variáveis econômicas passam, necessariamente pelas sinalizações de política econômica que serão dadas no final deste ano e no começo de 2015. E são justamente essas sinalizações, em conjunto com a reação dos mercados a elas, que constituem a disjuntiva entre os cenários macroeconômicos para o Brasil. No cenário base, supomos um processo mais lento e irregular de diluição de incertezas e de melhora da confiança. 

Enquanto isso, tanto para a Rosenberg Consultores Associados quanto para a Nomura, o novo nome para o ministério da Fazenda será o divisor de águas para a presidente. A consultoria avalia que, se um dos burocratas distributivistas da gestão atual for encarregado de comandar a área econômica (e a manutenção de Guido Mantega seria a radicalização desta postura), as indicações do mercado serão negativas. Entretanto, se o Ministro, mesmo que não seja um seu porta-voz, for alguém que desfrute da credibilidade do setor privado, estaria aberto o caminho para a racionalidade. 

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“Esperamos que Dilma emita alguma sinalização de mudança na política econômica; seu discurso de ontem deixou a porta entreaberta, ao alertar que eleições com pequena margem às vezes produzem mudanças mais rápidas e profundas do que vitórias por amplas margens. Provavelmente, as mudanças que dela virão não serão tão grandes como as que os mercados esperavam de um governo Aécio, porém algum alento na direção correta”, afirma. 

Segundo a Rosenberg, no plano microeconômico, pode-se abrir um saco de “bondades”: unificação do PIS/Cofins, com desonerações de cerca de R$ 10 bilhões (ainda que, no campo fiscal, o espaço para qualquer manobra deste tipo seja pequeno, pode prover algum alento para a atividade); leilões de concessão em massa, aproveitando-se as experiências bem sucedidas de 2013 e 2014; liberação de mais recursos para o BNDES (o que, do ponto vista fiscal, também é condenável, mas pode ajudar a destravar o crédito para investimentos, especialmente em vista das concessões a serem feitas).

Já no plano macroeconômico, alguns ajustes a serem feitos incluem uma dose razoável de recomposição dos preços de derivados de petróleo, com a possível volta da CIDE (até como medida compensatória para a perda de receitas com as demais desonerações); a adoção das bandeiras tarifárias e uma recomposição maior das tarifas de energia elétrica.

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Figura pouco agregadora
Conforme aponta o analista para mercados emergentes da Nomura, Tony Volpon, o Brasil tem visto na presidente uma figura divisiva que travou uma dura campanha enfatizando as diferenças regionais e de classe.

“Isso polarizou o país de uma forma não vista desde o retorno à democracia em 1985. Embora a oposição, muitas vezes com razão, culpe a política de Dilma para o mau desempenho econômico, estas políticas- mesmo inadequadas, foram tentativas genuínas para responder a um ambiente externo mais negativo”.

Segundo Volpon, infelizmente, é pouco provável que os fatores externos serão melhores nos próximos quatro anos; parece que os anos em que todos os brasileiros possam melhorar a sua sorte não virão tão cedo. “As escolhas terão de ser feitas e prioridades terão que ser definidas”. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.