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SÃO PAULO – O governo oficializou, no começo da noite desta sexta-feira (18), uma troca das cadeiras nos principais ministérios da economia. Nelson Barbosa, que comandava a pasta do Planejamento, foi anunciado como novo ministro da Fazenda – ocupando o posto que sempre sonhou enquanto o titular era Joaquim Levy -, ao passo que Valdir Simão foi deslocado da Controladoria-Geral da União para o espaço vago de Barbosa no Planejamento. O primeiro é, de certo modo, mais conhecido pela sociedade devido às mais frequentes exposições na imprensa. De todo modo, convém fazer uma breve apresentação sobre a trajetória de cada um.
Com fama de “desenvolvimentista” e tendo um olhar atento a políticas sociais, Nelson Barbosa troca o Ministério do Planejamento pela Fazenda com o desafio de manter o esforço pela reorganização das contas públicas agora de um modo mais equilibrado com a forte ênfase no resgate da confiança de empresários e famílias no crescimento da economia. Não será tarefa fácil, diante do quadro de profunda recessão, inflação de volta à casa dos dois dígitos e com o país perdendo o selo de bom pagador por duas agências de classificação de risco. Além disso, Barbosa terá de lidar com a turbulenta relação com o Congresso Nacional em meio à batalha do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Com perfil informal e constante interesse em aprender, Barbosa tem um forte currículo acadêmico, com doutorado em economia nos Estados Unidos, e é considerado um “líder nato” por pessoas que já trabalharam com ele. Nascido em 1969, o carioca e vascaíno já foi o titular de três secretarias do Ministério da Fazenda: de Acompanhamento Econômico (2007-2008), de Política Econômica (2008-2010) e Executiva (2011-2013), quando o ministro era Guido Mantega.
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Pouco antes de sua saída da Secretaria-Executiva, Barbosa passou a bater de frente com o secretário do Tesouro, Arno Augustin. Criticou fortemente nos bastidores a condução da política fiscal recheada de manobras e a falta de transparência na comunicação, chegando até mesmo a arranhar sua relação com Dilma. Nada que o impedisse, após a reeleição, de assumir um posto no primeiro escalão no segundo mandato de Dilma, como ministro do Planejamento e um dos principais condutores da política econômica.
Neste ano, bateu de frente com Levy, que sempre teve uma postura mais ortodoxa quando o assunto era ajuste fiscal, levando a melhor em várias ocasiões. Já em maio, num sinal da sua crescente influência, Barbosa convenceu Dilma a optar por um corte orçamentário mais moderado do que o proposto por Levy. Este, irritado, não compareceu ao anúncio do contingenciamento, o que segundo autoridades do governo foi em protesto à decisão. Mais tarde Levy afirmou que uma gripe forte o impediu de comparecer à coletiva de imprensa.
Levy também mostrou contrariedade com a mudança na meta de superávit primário para 2016, enquanto Barbosa mostrava-se mais flexível. No fim, o Congresso Nacional chancelou uma meta menor para 2016, equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), como queria o governo, ainda que sem a possibilidade de mais abatimentos. A proposta anterior era de meta do setor público consolidado de 0,7% do PIB.
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Foram exatamente críticas ao lado fiscal que Barbosa fez quando deixou a Secretaria Executiva do Ministério da Fazenda, em 2013, por não concordar com o rumo que estava sendo dado à política econômica. Barbosa tem forte interesse pelas políticas sociais, como destacou seu orientador no doutorado na New School for Social Research, em Nova York, Lance Taylor. Segundo ele, Barbosa estudava a dinâmica de distribuição de renda e a situação da pobreza.
Quanto à competência de Barbosa como economista, seu antigo professor afirmou que ele é, “pelo menos”, tão competente quanto Edmar Bacha – um dos criadores do Plano Real – e melhor que outros economistas renomados. O novo ministro da Fazenda também passou pelo Banco Central entre 1994 e 1997, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entre 2005 e 2006, e já havia passado pelo Ministério do Planejamento em 2003.
No mesmo ano em que foi aprovado em concurso para o BC, Barbosa passou ainda nos concursos para a Comissão de Valores Mobiliários e para a Petrobras (PETR3; PETR4). Escolheu o BC. Até ser convidado por Dilma para assumir o Planejamento, Barbosa atuava como professor titular da Escola de Economia de São Paulo (FGV/EESP), além de ser professor-adjunto do Instituto de Economia da UFRJ, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV) e membro dos conselhos de administração da Cetip e do Banco Regional de Brasília.
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O ingresso de Barbosa na Fazenda pode trazer maior capacidade de articulação para o governo na matéria econômica com o Congresso, mas carrega os temores do mercado de que o governo Dilma volte a dar preferência a outra política econômica, de maior heterodoxia. O ceticismo dos investidores é que haja uma flexibilização do ajuste fiscal e que o agravamento da crise econômica não seja evitado.
Valdir Simão: da CGU ao Planejamento
O novo ministro que assume a vaga de Barbosa no Planejamento era chefe da Controladoria-Geral da União desde o início de 2015. Valdir Moysés Simão é auditor de carreira da Receita Federal, com passagem em ministérios e secretarias – pontos que lhe cacifam para o novo desafio.
De perfil técnico, Simão é servidor de carreira da Receita Federal há 27 anos. Em sua carreira esteve à frente do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), foi secretário-adjunto da Receita, secretário da Fazenda do Distrito Federal e secretário-executivo do Ministério do Turismo e da Casa Civil.
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Chegou à Casa Civil em 2014, subordinado ao então chefe da pasta, Aloizio Mercadante, como escolha pessoal da presidente Dilma Rousseff. Meses depois, com o início do segundo mandato da petista, substituiu Jorge Hage no comando da CGU. Advogado de 55 anos, Simão tem especializações em Gestão de Arrecadação da Seguridade Social, Direito Empresarial e em Direção e Gestão de Sistemas de Seguridade Social.
Casado e pai de duas filhas, Simão também ocupou o cargo de assessor especial do gabinete pessoal de Dilma e agora chega à equipe econômica, substituindo Nelson Barbosa, que deixa a pasta do Planejamento para assumir o Ministério da Fazenda, em meio a uma forte retração econômica e desajuste fiscal.
(com Reuters)