Ações de Petrobras e Gerdau vivem dia de “disputa de classes”; Fibria dispara 3,5% e Vale cai

Confira os principais destaques de ações da Bovespa na sessão desta quarta-feira

Paula Barra

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SÃO PAULO – O Ibovespa registrou forte queda nesta quarta-feira (8), com duas surpresa nos EUA: os dados de estoques de petróleo, que subiram pela nona semana seguida, e indicador de emprego americano – o ADP Employment -, que ficou acima das projeções dos economistas, mostrando que o Federal Reserve pode subir os juros por lá com mais intensidade. No índice, apenas 9 das 59 ações registraram alta.

Entre as maiores quedas, destaque para as ações das siderúrgicas Gerdau e Metalúrgica Gerdau, que desabaram até 8% com a notícia de que a holding e o BTG Pactual fecharam acordo para troca de ações da Gerdau. Embora as ações PNs da Gerdau tenham ficado entre as maiores quedas do índice hoje, os papéis ONs da siderúrgica atingiram alta de 27% na máxima do dia, dado que a operação vai levar a uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) das ações GGBR3 (leia mais).

Além delas, outras “disputa” entre ações ON e PN também é destaque, neste caso com a Petrobras, cujos papéis ordinários recuram mais forte que os preferenciais após a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) determinar que a estatal refaça e reapresente seus balanços anuais completos de 2013, 2014 e 2015, para contemplar estornos de efeitos decorrentes da prática de contabilidade de hedge.

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Confira abaixo os principais destaques de ações da Bovespa nesta sessão:

Gerdau (GGBR4, R$ 12,14, -6,76%)
As ações da Gerdau viveram dois extremos hoje: enquanto as ações ONs (GGBR3, R$ 11,30, +17,71%) – pouco faladas pelo mercado por conta da liquidez reduzida – dispararam até 26,67% na Bolsa, os papéis PNs afundaram mais de 6%. O motivo? A notícia de que a Metalúrgica Gerdau e BTG  Pactual fecharam acordo para troca de ação da Gerdau. Vale menção que a ação da Metalúrgica Gerdau (GOAU4, R$ 6,01, -7,54%) também caiu forte hoje. 

O contrato de troca de ações de emissão da Gerdau regula a permuta das 34,2 milhões de ações ordinárias detidas pelo BTG Pactual por 33,4 milhões ações PN detidas pela Metalúrgica Gerdau, segundo comunicado enviado à CVM.  

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Com a troca, Metalúrgica Gerdau passa a ser titular de 483,9 milhões de ações ordinárias e 169,4 milhões de ações preferenciais. Em razão do aumento da participação da Metalúrgica Gerdau no capital ordinário da companhia, Metalúrgica Gerdau submeterá à CVM, em até 30 dias, pedido de registro de oferta pública de aquisição de ações por aumento de participação, na qual será ofertado à totalidade dos titulares de ações ordinárias o direito de permutarem tais ações por ações preferenciais.

Petrobras (PETR3, R$ 14,90, -6,17%; PETR4, R$ 14,55, -4,15%)
As ações da Petrobras afundaram após surpresa negativa com os estoques de petróleo nos Estados Unidos. Os dados derrubaram os preços da commodity: lá fora, o WTI recuou 5,40%, a US$ 50,27 o barril, enquanto o Brent caiu 4,88%, a US$ 53,19 o barril.

Segundo dados do Departamento de Energia dos EUA, os estoques de petróleo subiram em 8 milhões de barris na última semana, superando em mais de 4 vezes as estimativas dos analistas, que giravam em torno de uma alta de 2 milhões de barris. 

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Além disso, contribuiu para uma queda mais acentuada das ações ONs do que as PNs a  notícia de que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) determinou que a estatal refaça e reapresente seus balanços anuais completos de 2013, 2014 e 2015, para contemplar estornos de efeitos decorrentes da prática de contabilidade de hedge.

Segundo o Itaú BBA, se a decisão da CVM prevalecer e não for mais permitido que a Petrobras use o “hedge accounting”, isso vai aparecer no lucro de 2016, levando a um pagamento de dividendos que deve favorecer o spread entre as ações PNs/ONs. “Em outras palavras, a ação PN parece negociar com um prêmio em relação à ON”, comentaram os analistas Diego Mendes e André Hachem, do banco. Segundo eles, se não adotar o “hedge accounting” para o exercício de 2016, a Petrobras deverá entregar um lucro líquido de R$ 18,5 bilhões, levando a um pagamento de dividendos de R$ 4,6 bilhões (25% do lucro líquido). 

Vale lembrar que a companhia esclarece que pode recorrer da decisão e que tomará as medidas necessárias para defesa de seus interesses. A Petrobras ainda reitera que “as demonstrações financeiras da companhia relativas aos anos de 2013, 2014 e 2015 estão de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil, assim como com as normas internacionais de contabilidade (IFRS) e foram auditadas por auditor independente”.

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Em maio de 2013, a Petrobras passou a aplicar às exportações um mecanismo conhecido como contabilidade de hedge, a fim de minimizar o impacto de oscilações cambiais em seu resultado financeiro. A CVM abriu investigação para analisar o uso da contabilidade de hedge pela estatal em abril do ano passado.

Vale (VALE3, R$ 30,12, -2,59%; VALE5, R$ 28,65, -2,72%)
As ações da Vale desabaram em dia de “sell off” no mercado doméstico e queda dos preços do minério de ferro. Acompanharam o momento as ações da Bradespar (BRAP4, R$ 22,35, -1,89%) – holding que detém participação na Vale. Hoje, o minério de ferro cotado no Porto de Qingdao, na China, fechou em queda de 2,90%, a US$ 87,19 a tonelada. 

Papel e celulose

As ações do setor de papel e celulose destoaram do movimento do mercado doméstico e tiveram dia positivo hoje, entre alta do dólar e da celulose. São elas: Fibria (FIBR3, R$ 26,00, +3,54%), Suzano (SUZB5, R$ 12,48, +2,55%) e Klabin (KLBN11, R$ 15,27, +1,46%). A ação da Fibria foi uma das três novidades da Carteira InfoMoney do mês de março (confira aqui). 

Segundo dados da consultoria Foex divulgados hoje, os preços da celulose na Europa e China subiram na última semana. A commodity na Europa subiu 1,6% no período, indo para o patamar de US$ 701,10 a tonelada, enquanto na China subiu 1,1%, a US$ 590,50 a tonelada. 

Do lado do câmbio, o dólar comercial registrava alta de 1,21% neste momento, a R$ 3,1579 na venda. Vale menção que a alta da moeda contribui é benéfico para essas empresas dado que suas receitas são em dólar. Embraer (EMBR3, R$ 18,79, +2,45%), que também aparece entre as poucas altas do Ibovespa hoje, ganha com isso. 

MRV (MRVE3, R$ 14,20, -0,07%)
A MRV Engenharia – a imobiliária preferida dos analistas – viu seu lucro líquido ter leve alta de 1,2% em um ano, fechando o quarto trimestre em R$ 142 milhões – ante R$ 140 milhões um ano antes. No acumulado do ano, o desempenho também teve leve melhora, subindo 1,7%, para R$ 557 milhões em 2016.

Após o balanço, a ação da companhia teve a recomendação elevada de neutra para outperform (desempenho acima da média do mercado) pelo Credit Suisse, com preço-alvo de R$ 16,00 por papel. Em relatório, o BTG Pactual destacou que o balanço do quarto trimestre foi em linha com o esperado, enquanto o lucro líquido ficou 8% abaixo das estimativas em meio a despesas não-recorrentes mais altas do que o esperado em meio a provisões maiores do que esperada. Os analistas mantêm recomendação de compra para as ações destacando que seguem otimistas com o papel.

Em entrevista para a Bloomberg, o co-presidente da companhia, Eduardo Fischer afirmou que está muito confiante de que há espaço para crescimento. “Nossa ação estava num patamar irreal. Muito, muito baixa. Eu diria que continua baixa. Tem que subir mais”, afirmou.

Demais imobiliárias

Enquanto a MRV foi elevada pelo Credit Suisse, o banco suíço cortou a recomendação de outras companhias do setor: a Cyrela (CYRE3, R$ 12,94, -3,00%) foi cortada de outperform para neutra, assim como a Eztec (EZTC3, R$ 19,45, -3,71%). Já a Tecnisa (TCSA3, R$ 3,10, -2,82%) foi cortada de neutra para underperform.

Bancos

Ainda no radar de recomendações, o Santander soltou relatório sobre as ações de bancos apontando Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 38,98, -1,14%) e Banco do Brasil (BBAS3, R$ 33,91, -2,36%) como as ações preferidas do Santander no setor. 

O Santander ainda vê algum potencial de alta de bancos brasileiros, indicando que os investidores devem escolher nomes de melhor qualidade. O Itaú é a nova top pick; recomendação de compra reiterada, preço-alvo elevado de R$ 44 para R$ 49. 
“Deve ser o primeiro a apresentar “tendência de recuperação sólida” na rentabilidade nos próximos anos. Pode desbloquear forte potencial de valorização se usar excedente de capital de R$ 67,2 bilhões em outra rodada de aumento de proventos, recompras de ações adicionais ou para fusões e aquisições”, afirmam os analistas. 

O Banco do Brasil tem recomendação de compra reiterada, preço-alvo elevado de R$ 37 para R$ 40. “Os pontos positivos incluem ciclo de crédito, espaço para melhorar a eficiência operacional e mudanças de governança corporativa feitas em 2016”, afirma. Já o Bradesco foi rebaixado de compra para manutenção, preço-alvo cortado de R$ 40 para R$ 37: “o banco enfrenta desafios em meio à crescente deterioração da qualidade dos ativos, redução dos spreads e falta de potencial de valorização”.

Arezzo (ARZZ3, R$ 31,10, -0,10%) 
A Arezzo reportou um lucro líquido de R$ 35,8 milhões no quarto trimestre de 2016, alta de 6,87% na comparação com os R$ 33,5 milhões registrados no mesmo período do ano passado, mas abaixo da estimativa de R$ 38,7 milhões de analistas, segundo compilação da Bloomberg.

A receita líquida, por sua vez, foi de R$ 338,9 milhões, ante estimativa de R$ 321,2 milhões e 19,42% superior aos R$ 283,8 milhões na base de comparação anual. O Ebitda foi de R$ 51,7 milhões, alta de 15,66% na mesma base de comparação. A margem Ebitda ficou praticamente estável, passando de 15,8% para 15,9%.

O número de pares vendidos teve alta de 7,2% na comparação anual, enquanto número de bolsas vendidas foi 45,9% superior. No quarto trimestre, foram realizadas 21 aberturas líquidas de lojas e duas ampliações, “que somadas as demais expansões de 2016 representam crescimento de 3,7% da área de vendas nos últimos 12 meses”.  

Oi (OIBR3, R$ 5,10, -1,54%; OIBR4, R$ 4,22, +2,68%)
A operadora de telecomunicações Oi informou na terça-feira que o presidente do conselho de administração da companhia recebeu carta de renúncia do conselheiro Rafael Mora, que será substituído por João do Passo Vicente Ribeiro, anteriormente suplente.

Mora era o representante no conselho da Oi da Pharol SGPS, acionista controlador da operadora brasileira que está em processo de recuperação judicial. A Pharol afirmou em comunicado nesta terça-feira que Rafael Mora renunciou ao cargo de diretor-executivo e como membro do conselho. A nota não explicou a razão da renúncia.

A Oi apresentou o maior pedido de recuperação judicial da história do Brasil em junho passado para reestruturar cerca de 65 bilhões de reais de dívidas bancárias, títulos e passivos regulatórios.

Ainda sobre a Oi, o jornal O Estado de S. Paulo informa que o empresário Nelson Tanure, um dos maiores acionistas da companhia, por meio de fundo Société Mondiale e outros veículos de investimento, estaria se movimentando para ganhar maior poder na operadora, segundo fontes a par do assunto. Nesta terça-feira, 7, a renúncia de Rafael Mora abriu o caminho para o empresário brasileiro na companhia, que está em recuperação judicial desde junho do ano passado, segundo pessoas a par do assunto.