Ibovespa perde forças no final e cai pressionado por consumo e exterior; dólar desaba

Mercado termina dia de forma surpreendente em meio a virada das bolsas internacionais e fraqueza da economia

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Após abrir em alta e passar a maior parte da sessão com fortes ganhos, o Ibovespa terminou o dia em leve queda, tendo perdido 300 pontos entre as 16h30 (horário de Brasília) e as 17h15, quando a Bovespa fechou. A alta de Petrobras e bancos, ações do “kit impeachment”, que são beneficiadas pelo aumento das chances de que a presidente Dilma Rousseff sofra um impedimento, acabaram ofuscadas pela queda de papéis pesados do setor de consumo como Ambev. 

Nesta sessão, o benchmark da bolsa brasileira caiu 0,25%, a 50.165 pontos. O volume financeiro negociado na Bovespa foi de R$ 6,813 bilhões. Lá fora, as bolsas norte-americanas fizeram movimento parecido com o do Ibovespa e caíram após passarem boa parte do dia em alta. No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2017 cai 3 pontos-base a 13,76%, ao passo que o DI para janeiro de 2021 registra perdas de 14 pontos-base a 13,56%. 

Já o dólar comercial fechou em baixa de 2,83% a R$ 3,4929 na compra e a R$ 3,4946 na venda, enquanto o dólar futuro para maio cai 2,57% a R$ 3,522. O câmbio estendeu perdas depois dos leilões de swap reverso do Banco Central acabarem sem nenhum comprador para os contratos de outubro e 7.700 contratos vendidos para julho de um total de 20 mil ofertados. Um novo leilão não programado foi convocado pelo Banco Central para as 11h30, o que fez com que a moeda norte-americana reduzisse as perdas, mas este leilão terminou com apenas 5.000 contratos vendidos de 12.300 ofertados, o que novamente pressionou o câmbio. No terceiro leilão, realizado às 16h20, o Banco Central finalmente vendeu todos os contratos, mas nem isso impediu a moeda de cravar mínima no ano. 

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O economista da Leme Investimentos, João Pedro Brugger, diz que o cenário atual chama a atenção porque o mercado, mesmo com o impeachment, percebe que a economia real não sentirá um impacto imediato pela mudança de governo e, consequentemente, de política econômica. “Talvez o mercado comece a fazer essa análise de que há muitos problemas estruturais na nossa economia ainda”. Outra hipótese, de acordo com ele, é que os investidores estão migrando para ativos de maior risco, o que explicaria a queda de ações defensivas como Ambev. 

Já de acordo com Pablo Spyer, diretor da mesa de trade da Mirae Asset Wealth Management, dentro do cenário atual, a Bolsa sobe menos do que o dólar porque o índice já subiu muito em março e seu índice de volatilidade implícita é bem mais baixo do que o do câmbio. “A volatilidade implícita do dólar subiu muito e a do Ibovespa não subiu tanto. Essa é a grande razão. Não houve nenhum grande fluxo de dólar”, afirma.

Lula preso?
O site O Antagonista noticiou, citando duas fontes no STF (Supremo Tribunal Federal), que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será preso. Quando a informação foi divulgada, o dólar acelerou as perdas e caiu de R$ 3,54 para R$ 3,51. 

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PP desembarcando
O PP começa a desembarcar do governo com mais força. Ao contrário do anunciado na semana passada pelo presidente do partido, Ciro Nogueira (PI), de orientar deputados a votarem contra o impeachment, os diretórios no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Distrito Federal, Goiás, Espírito Santo e Acre decidiram apoiar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. 

Governo espera ser derrotado
Segundo analistas, o governo tem consciência de que já vai perder a votação de hoje – e está interessado em em não ter uma derrota acachapante, para evitar que isso contamine os votos no plenário. A votação servirá também para Dilma e Lula sentirem qual o seu real poder de “persuasão” e “sedução”, com as armas das promessas, ameaças, liberação de verbas, nomeações e demissões. A maior parte dos deputados que vai votar hoje passou já pelo “confessionário” do ex-presidente instalado num hotel de luxo em Brasília. 

O último placar disponível para a votação era de 291 votos a favor do impeachment e 115 contra, segundo os números do Estado de S. Paulo. Faltam 51 votos para o mínimo de 342 necessários para o pedido ser aprovado. 

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Lula cogita aceitar eleições gerais
Mesmo que a presidente Dilma Rousseff (PT) consiga uma vitória contra o impeachment, a situação pode não melhorar muito para ela. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o ex-presidente Lula já cogita aceitar a ideia de novas eleições gerais caso ele não tenha autonomia para tocar o governo em uma eventual sobrevivência da petista. Lula teria apoio de lideranças do PMDB, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que inclusive tem estado bem próximo do petista desde que ele voltou a atuar nas negociações entre governo e Congresso.

Pesquisa Datafolha
Segundo pesquisa Datafolha deste fim de semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a líder da Rede Sustentabilidade, Marina Silva, lideram a corrida presidencial para 2018. Lula tem 21% das intenções de voto em um cenário em que o candidato do PSDB é o mineiro Aécio Neves. Já Marina teria 19% das intenções de voto. Em um cenário em que o candidato tucano é o paulista Geraldo Alckmin, Lula tem 22% das intenções de voto e Marina 23%. Aécio e Alckmin têm, respectivamente, 17% e 9% das intenções de voto.  

Ações em destaque
As ações da Petrobras (PETR3, R$ 10,42, -0,67%; PETR4, R$ 8,39, +1,57%), subiram, seguindo os preços do petróleo. O barril do WTI (West Texas Intermediate) sobe 1,64% a US$ 40,37, ao mesmo tempo em que o barril do Brent tinha ganhos de 2,07% a US$ 42,81. No radar da estatal, o período de exclusividade para negociações de venda da Petrobras Argentina foi prorrogado por mais 30 dias.

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A companhia informou que as negociações com a Pampa Energia prosseguem e reitera que a transação ainda está sujeita à aprovação de seus termos e condições finais pela diretoria executiva e pelo conselho de administração da Petrobras, além dos órgãos reguladores. A estatal ainda informou que a produção total de óleo e gás em fevereiro soma 2,48 milhões barris por dia, contra 2,47 milhões registrados em janeiro.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 LAME4 LOJAS AMERICPN EB 15,16 -5,55 -5,94
 EMBR3 EMBRAER ON 21,06 -5,09 -30,12
 JBSS3 JBS ON 9,16 -4,78 -25,83
 KLBN11 KLABIN S/A UNT N2 15,80 -4,24 -32,62
 WEGE3 WEG ON 13,31 -4,11 -10,13

Dentro do setor mais pesado no Ibovespa, o financeiro, bancos grandes avançaram, beneficiados pelo cenário político, que aumenta a probabilidade de uma troca de governo que significasse uma mudança na condução da política econômica rumo à ortodoxia. Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 31,86, +0,50%), Bradesco (BBDC3, R$ 31,14, +1,43%; BBDC4, R$ 27,99, +2,12%) e Banco do Brasil (BBAS3, R$ 21,54, +3,06%) subiram. Juntas, as quatro ações respondem por pouco mais de 20% da participação na carteira teórica do nosso benchmark.

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Já a Vale (VALE3, R$ 16,97, +4,50%; VALE5, R$ 12,80, +5,00%) fechou em alta beneficiada pela alta do minério de ferro. A commodity spot com 62% de pureza e entrega no porto de Qingdao teve alta de 4,79% a US$ 56,62 a tonelada seca. Os preços foram impulsionados por uma alta de quase 6% nas cotações do aço na bolsa de Xangai, que atingiram uma máxima de 10 meses em meio a uma queda da oferta e à recuperação sazonal da demanda no país asiático.

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 CSNA3 SID NACIONALON 8,97 +8,73 +124,25
 BRAP4 BRADESPAR PN 6,90 +6,98 +38,28
 USIM5 USIMINAS PNA 1,79 +6,55 +15,48
 CMIG4 CEMIG PN 7,50 +5,63 +25,61
 GGBR4 GERDAU PN 7,17 +5,29 +54,19

As ações da Ambev caíram (ABEV3, R$ 18,20, -1,99%), na mesma toada dos demais ativos do setor de consumo. Segundo analistas, por ser um papel defensivo, o capital migrou da Ambev para ações que são mais expostas ao cenário político. 

Entre as quedas estavam as exportadoras de papel e celulose. Fibria (FIBR3, R$ 28,05, -0,71%) e Suzano (SUZB5, R$ 10,94, -0,45%) operam em fortes quedas por conta do desempenho negativo do dólar. Por possuírem suas receitas na moeda norte-americana, essas empresas têm as suas rentabilidades reduzidas quando há desvalorização da divisa dos EUA ante o real.

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN ED 31,86 +0,50 548,84M
 PETR4 PETROBRAS PN 8,39 +1,57 516,67M
 VALE5 VALE PNA 12,80 +5,00 371,99M
 BBAS3 BRASIL ON 21,54 +3,06 340,82M
 BBDC4 BRADESCO PN EJ 27,99 +2,12 325,60M
 ABEV3 AMBEV S/A ON 18,20 -1,99 264,58M
 PETR3 PETROBRAS ON 10,42 -0,67 217,85M
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 15,70 -1,26 216,86M
 VALE3 VALE ON 16,97 +4,50 168,33M
 PCAR4 P.ACUCAR-CBDPN 47,40 +0,06 139,83M

* – Lote de mil ações 
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
 

Relatório Focus
Também tinha algum peso por aqui o Relatório Focus, com a mediana das projeções de diversos economistas, casas de análise e instituições financeiras para os principais indicadores macroeconômicos. A previsão para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2016 caiu de uma retração de 3,73%, para uma de 3,77%. Já no caso do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que é o medidor oficial de inflação utilizado pelo governo, as projeções são de que haja um avanço de 7,14% este ano, contra 7,28% projetados anteriormente.

Dados da China
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) da China subiu 2,3% em março ante igual mês do ano passado, repetindo a variação de fevereiro, segundo dados publicados pelo Escritório Nacional de Estatísticas do país. O resultado veio abaixo da expectativa de 14 economistas consultados pelo Wall Street Journal, que previam alta anual de 2,5% em março.

Pequim tem meta de inflação de cerca de 3% para este ano. Desde que o CPI permaneça bem abaixo desse nível, o banco central chinês (PBoC) deverá ter espaço para continuar relaxando sua política monetár ia, sem se preocupar excessivamente com as consequências inflacionárias.

Na comparação mensal, o CPI chinês recuou 0,4% em março. Em fevereiro, o índice havia subido 1,6% ante janeiro. No primeiro trimestre, o CPI da China acumulou alta de 2,1% no confronto anual.

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