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SÃO PAULO – As privatizações anunciadas na semana passada animaram e muito o mercado, sendo um dos fatores para a forte alta de 3,4% do Ibovespa no período. O grande destaque ficou para a notícia sobre a venda da participação na Eletrobras (ELET3;ELET6), mas outros 57 projetos de concessões e privatizações foram anunciados, com perspectiva de investimento de R$ 44 bilhões.
Conforme destaca a XP Investimentos, além de reforçar o caixa, contribuindo para o ajuste fiscal, o programa deve trazer mais investimentos em infraestrutura e, para conseguirem as concessões, as empresas precisam se comprometer com uma série de investimentos. “Isso não só aprimora a infraestrutura do País, mas também gera empregos e no final aumenta o consumo”, apontam os analistas. Assim, os analistas veem que as privatizações terão um benefício duplo ao Brasil, com queda na percepção de risco e expansão da atividade econômica através de novos investimentos.
Sobre as privatizações para a promoção do ajuste fiscal, em entrevista ao jornal O Globo, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles afirmou ainda que algumas das receitas obtidas com essas operações podem ser antecipadas para ajudar a fechar as contas de 2017. “Podemos trabalhar com maior celeridade com a “descotização” das hidrelétricas da Eletrobras (retirada de usinas do sistema de cotas de energia, passo necessário para a privatização). Há um leque de alternativas”, apontou.
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Contudo, é justamente a privatização acelerada para cobrir o rombo que foi alvo de críticas do economista Eduardo Giannetti, em entrevista coletiva no fim de semana após participar do Congresso Internacional de Mercados Financeiros e de Capitais, organizado pela B3. De acordo com ele, os princípios da privatização são apoiados em argumentos sólidos, visto que a gestão privada poderá alcançar resultados superiores aos da gestão pública, mas esse processo não deve ser feito de forma a cobrir, temporariamente, as contas fiscais do governo.
“O pacote de privatizações foi anunciado sem discussão ou debate, com a visão de fazer caixa para cobrir déficits fiscais de gastos correntes”, disse. Ainda sobre os anúncios, incluindo o da Eletrobras, Giannetti avalia que os mesmos foram feitos para desviar a atenção e gerar ânimo artificial no mercado financeiro. “Anunciaram sem nem ter a condição de executar, sendo altamente improvável que se chegue a um meio-termo neste mandato-tampão”, destaca.
No mesmo evento, o ex-presidente do Banco Central (BC) e estrategista-chefe da gestora Rio Bravo, Gustavo Franco, destacou que a privatização da Eletrobras foi muito bem recebida pelo mercado. Ele ainda brincou que essa decisão deve ser atribuída a ex-presidente Dilma Rousseff, que implementou uma Medida Provisória na tentativa de reduzir o custo da conta de luz, mas que gerou crise no setor elétrico.
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Por outro lado, ele questionou o extenso pacote de privatizações. “(O lote de privatizações) Me dá a sensação de que não haverá tempo de fazer e que é só algo de cunho de intenção do que a realidade em si. Porque o governo não fez antes se acreditava nisso?”, perguntou Franco. “Mas sabemos como acontece no setor público, quando há oportunidade e circunstância não se pode perder”, disse.
Outro fator: a resistência
De qualquer forma, conforme ressalta a Rosenberg Consultores Associados, esse processo é visto como importante não apenas para a arrecadação de recursos no curto prazo como também pela promoção de maior eficiência na gestão destes ativos e redução da ingerência política. E é exatamente por isso que as privatizações enfrentarão um adversário de peso: “a ala política tende a ser o maior empecilho ao programa”, apontam os economistas da consultoria. Uma demonstração recente dessa resistência está sendo vista no processo de leilão das quatro usinas hidrelétricas que pertenciam à Cemig (CMIG4) – São Simão, Jaguara, Miranda e Volta Grande – , em que a pressão política da bancada de Minas Gerais fez com que o governo autorizasse a negociação com a Cemig para renovar os contratos utilizando recursos do BNDES. Outro exemplo de privatização anunciada, mas ainda sem sair do papel, foi a Caixa Seguridade e BR Distribuidora, cujos processos se arrastam há pelo menos um ano e parecem ter caído no esquecimento, ressalta. “A disposição e coragem do governo em anunciar um amplo pacote de privatizações é louvável e deixou os mercados em êxtase, porém o processo tende a ser tortuoso e demorado caso não haja realmente disposição política”, afirmam os economistas da Rosenberg. Assim, se de um lado, o mercado mostrou grande euforia com as privatizações, grandes economistas e casas de análise fazem algumas alertas sobre as medidas. (Com Agência Estado)