Em Paris, Gilmar Mendes ironiza dois “legados inesquecíveis” do lulopetismo

Para magistrado, indicações de Dilma Rousseff para a presidência da República e Rodrigo Janot para a PGR são "inesquecíveis"

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Gilmar Mendes, voltou a criticar, nesta quarta-feira, os termos do acordo de colaboração premiada firmado pela Procuradoria-Geral da República e executivos da JBS e a atuação do ex-procurador Marcelo Miller no processo. Em visita oficial a Paris, o magistrado disse que “todos sabiam” da atuação do antigo braço-direito de Rodrigo Janot, que depois passou a atuar como advogado dos delatores. As informações foram dadas pelo site do jornal O Globo.

“Era um segredo de carochinha em Brasília. Todos sabiam do envolvimento do Marcelo Miller nesse episódio. Só o Dr. Janot que escamoteava e escondia”, disse Mendes. O ex-procurador aparece nas mais recentes gravações entregues à PGR, em que os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud referem-se a ele como ajudante dos interesses da companhia na formulação da proposta ao acordo que seria firmado.

Na avaliação do magistrado, uma das únicas revelações do novo material é a má atuação da PGR no caso, com “envolvimento direto”. “Essa revelação foi uma boa coincidência, que mostra exatamente que não se pode brincar com as instituições”, afirmou.

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O ministro do STF também aproveitou para provocar o procurador-geral e os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva. “Tenho a impressão de que, se formos fazer um juízo do legado do lulopetismo, podemos pensar em duas marcas. Há muitas, mas duas marcas importantes: a indicação de Dilma Rousseff a presidente da República e a indicação de Rodrigo Janot [à PGR]. Elas são inesquecíveis”, cutucou.

Quando à última denúncia apresentada contra o PT, sob acusação de formação de organização criminosa, Gilmar Mendes disse que não tinha conhecimento dos autos, mas que, do ponto de vista político, trata-se de uma espécie de “grand finale” planejado por Janot ao seu mandato, que termina no dia 17 de setembro. “Imagino que o procurador-geral pensou em fazer uma grand finale. Fazer várias denúncias, inclusive uma contra o presidente da República”, observou.

“Mas acho que ele conseguiu coroar dignamente o encerramento de sua gestão com esse episódio do Joesley. Fez jus a tudo o que plantou durante esses anos. Isso vai ser a marca que vamos guardar dele. O procurador-geral da ‘Delação Joesley’, desse contrato com criminosos, dessa fita”, ironizou novamente o magistrado. Para ele, as menções do procurador-geral às referências feitas pelos delatores ao STF marcam uma tentativa “lamentável” de “envolver” a instituição.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.