Decepcionados, economistas tucanos preparam saída do PSDB; Armínio Fraga pode ser o próximo

Conforme conta reportagem do jornal Folha de S. Paulo, três pilares mantém figuras históricas no partido: o apreço por FHC, o apoio ao projeto de refundação por Tasso Jereissati e a percepção de que a sigla ainda pode recuperar a identidade

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A desfiliação do economista Gustavo Franco pode não ter sido movimento isolado dentro de um PSDB imerso em profunda crise. Um dos grandes nomes do Plano Real, o ex-presidente do Banco Central, marchou em direção ao Partido Novo, em meio às desilusões com os rumos que a tradicional sigla tomou nos últimos anos. Conforme mostra reportagem do jornal Folha de S. Paulo, uma parcela relevante de economistas liberais que ajudaram a construir a identidade tucana pode estar de partida.

Segundo o jornal, três pilares mantém, não se sabe por quanto tempo, tais figuras no partido. Seriam eles: o apreço pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o apoio ao projeto de refundação do partido pelo senador Tasso Jereissati (CE) e a percepção de que o partido ainda pode recuperar a identidade e fazer a diferença nas eleições do ano que vem.

O plano de voo de cada um desses tucanos que estuda abandonar o partido pode ser definido na convenção nacional da sigla, marcada para 8 de dezembro. O encontro marcará o fim do mandato do senador Aécio Neves no comando do partido — embora afastado no momento — e a escolha do novo presidente. Em meio à emergência do nome do governador Marconi Perillo (GO), o grupo de economistas liberais tende a confiar mais na candidatura de Tasso.

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Segundo Elena Landau, se o senador perder, muita gente também sairá do PSDB. Fazem parte deste grupo figuras importantes do Plano Real, como Edmar Bacha e Pérsio Arida; o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan; o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Completam a lista os acadêmicos Samuel Pessôa, Armando Castelar e Luiz Roberto Azevedo Cunha. Conta a reportagem da Folha de S. Paulo que o próximo da fila dos desembarques poderá ser Armínio Fraga, decepcionado com Aécio Neves.

Do lado paulista, a estratégia tem sido menos barulho e a preferência pela permanência. Compõem esse grupo os economistas irmãos José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica da Fazenda, e Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

O DNA do pensamento liberal na política

Criado no início de 2011, o Partido Novo se propõe a trazer o melhor da administração das empresas privadas para a gestão pública. A agremiação política, lançada por um grupo de 181 pessoas, em sua maioria profissionais liberais, engenheiros, administradores, advogados e médicos, pode ser o destino da maioria dos tucanos insatisfeitos com os rumos que tomou o partido.

Na economia, o Novo tende a adotar uma visão mais liberal. Ou seja, defende uma sociedade em que o indivíduo seja mais responsável pela sua vida e não fique tão dependente do estado. Essa corrente de pensamento econômico se iniciou no século XVI com os estudos de Adam Smith e está fortemente enraizada na cultura econômica e política de países como os Estados Unidos e o Reino Unido.

A agremiação política acredita que, com um estado menor, atuando em menos áreas, é possível ter mais foco e ser mais eficiente. Outro ponto em comum entre o partido e o pensamento liberal é a visão de que a grande vantagem da iniciativa privada sobre a pública é a concorrência. A competição entre empresas pode fazer com que elas ofereçam serviços de maior qualidade a preços mais acessíveis do que quando há o monopólio do estado. Os liberais acreditam que a economia pode criar sozinha uma ordem espontânea que beneficia a sociedade como um todo.

Na filosofia do Partido Novo, é preciso reduzir o campo de atuação do Estado e consequentemente o poder dos políticos para que serviços públicos considerados essenciais sejam aprimorados com ganhos de eficiência e que a iniciativa privada tenha maior possibilidade de atuação com menos amarras em outros setores. “A busca pelo poder é para devolvê-lo às pessoas”, disse o presidente da legenda, João Dionísio Amoêdo em entrevista concedida ao InfoMoney em novembro de 2016. Tal narrativa soa como música aos ouvidos de muitos tucanos.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.