“Guerra” de Trump e futuro da Selic: os 3 eventos que definiram o rumo do mercado na semana

Enquanto exterior foi agitado com anúncio de Trump e fala de novo presidente do Fed, no Brasil os indicadores levaram a uma reavaliação de cenário

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A semana que termina parecia que seria de grande otimismo, com o Ibovespa renovando sua máxima histórica mais uma vez na segunda-feira. Porém, os dias que se seguiram mostraram um mercado mais cauteloso, com quatro dias seguidos sem ganhos, mas mesmo assim, o clima desta sexta-feira (2) já começa a mostrar uma volta da calmaria, com o principal índice da bolsa fechando em alta após chegar a cair 1,7% na mínima do dia.

Com uma agenda política mais tranquila, de olho apenas nas movimentações dos pré-candidatos à presidência, os indicadores econômicos foram os protagonistas da semana. No Brasil, o PIB (Produto Interno Bruto) ficou abaixo do esperado, apesar de encerrar um período de dois anos de recessão. Aliado a isso, a deflação mostrada pelo IPC-Fipe, levou o mercado a aumentar as apostas de que o Copom deve cortar a Selic novamente este mês.

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No exterior, a semana ficou marcada pela confusa recepção dos investidores às falas do novo presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que reforçou a ideia de altas graduais dos juros nos EUA, mas o que não foi suficiente para deixar o mercado confiante sobre o futuro das taxas. Enquanto isso, na quinta-feira o presidente Donald Trump soltou uma “bomba” no mercado ao anunciar uma alta na taxação do aço e alumínio importados.

Confira os principais eventos da semana:

PIB fraco + queda na inflação = novo corte na Selic?
No Brasil, os resultados dos indicadores levaram a uma reavaliação do cenário econômico. Na quinta-feira, o PIB (Produto Interno Bruto) nacional mostrou um crescimento de 0,1% na passagem do 3º para 4º trimestre, resultado considerado fraco dada a expectativa de avanço de 0,3%. Apesar do resultado abaixo do esperado, no acumulado do ano passado o PIB cresceu 1%, a primeira alta após 2 anos seguidos de recessão em que a economia contraiu 7%.

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Enquanto isso, nesta sexta, após o IPC-Fipe de fevereiro revelar deflação de 0,46%, a maior registrada desde 1998, o mercado elevou as apostas de um corte de juros para 60%. Entre as instituições, o UBS já revisou sua projeção de Selic de 6,75% para 6,5% em março. Essa combinação de inflação baixa e PIB fraco deve passar por seu último “teste” na próxima semana, com a divulgação do IPCA, que se também vier abaixo do esperado pode praticamente cravar um novo corte da Selic.

Jerome Powell “confunde” o mercado
O novo presidente do Federal Reserve, fez dois discursos no Senado americano, ambos amplamente aguardados pelo mercado. Porém, o primeiro parece não ter realmente convencido os investidores sobre os próximos passos da autoridade monetária. Na terça, Jerome Powell minimizou as recentes preocupações por conta da volatilidade no mercado, afirmando que as mudanças dramáticas não pesam sobre suas perspectivas para a economia, mantendo sua expectativa de novos aumentos graduais nas taxas de juros.

Ele enfatizou que o mercado de trabalho permanece robusto, o gasto dos consumidores está sólido e o crescimento dos salários está acelerando. Powell também destacou os ganhos nas exportações dos EUA e a política fiscal estimulante como novos “ventos” para a economia.

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Já na quinta, ele afirmou que não vê sinais de que a economia dos EUA está superaquecendo e reiterou que o BC norte-americano continuará aumentando as taxas gradualmente para manter o equilíbrio na taxa de desemprego e na inflação: “ao continuar aumentando gradualmente as taxas de juros ao longo do tempo, estamos tentando equilibrar essas duas coisas e conseguir que a inflação chegue no alvo, mas também garantir que a economia não superaqueça”, disse ele no Senado.

Para os investidores, falar em altas “graduais” nos juros tende a indicar que o Fed manterá a projeção de três elevações este ano. Porém, ao não cravar o número, Powell deixa aberta a possibilidade para que o cenário mude ou mesmo para dizer que quatro altas também significa um ritmo gradual.

A guerra comercial de Trump
Durante a tarde de quinta, enquanto todos olhavam para o discurso de Powell, o presidente Donald Trump anunciou um aumento nas taxas de importação de aço e alumínio em 25% e 10%, respectivamente. Isso foi suficiente para azedar completamente o humor dos investidores, com o índice Dow Jones afundando mais de 1% pelo terceiro dia seguido, em sua pior sequência em dois anos.

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A decisão foi vista pelos investidores como uma sinalização de maior protecionismo pelo presidente dos EUA, que poderia comprometer o crescimento e inclusive impactar na inflação, tendo em vista o repasse deste aumento para os preços de uma matéria prima muito utilizada pela indústria em geral, o que acaba elevando as apostas de que o Fed elevará os juros por 4 oportunidades este ano, mais do que o esperado.

Muito além disso, a decisão de Trump pode desencadear uma guerra comercial, tanto que a União Europeia já promete medidas retaliatórias na OMC (Organização Mundial do Comércio). Apesar disso, o presidente dos EUA não parece estar muito preocupado. No seu Twitter, Trump afirmou que guerras comerciais são boas e fáceis de ganhar, desafiando as críticas: “quando um país está perdendo bilhões de dólares no comércio com virtualmente todos os países com os quais faz negócios, guerras comerciais são boas, e fáceis de ganhar”, escreveu.

Noticiário corporativo

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Vale (VALE3)
A Vale registrou lucro líquido de US$ 771 milhões no quarto trimestre deste ano, um aumento de 47% em relação ao mesmo período do ano passado, quando marcou US$ 525 milhões. Em relação ao acumulado de 2016, o lucro do ano passado saltou de US$ 3,98 bilhões para US$ 5,51 bilhões, ou seja, um crescimento de 40% na passagem anual. Após a divulgação, os papéis da companhia caíram forte, mas analistas apontaram que os números foram bastante animadores, que ainda destacaram o pagamento de mais dividendos (confira a análise clicando aqui).

Gerdau (GGBR4)
Enquanto o Ibovespa e Wall Street desabaram com o anúncio do presidente Donald Trump sobre a taxação mais alta para a importação de aço e alumínio na quinta-feira, uma ação do Ibovespa subiu forte. Trata-se da Gerdau que fechou aquele pregão como a maior alta do índice com uma análise de que, por ter operações nos EUA, a companhia não seria impactada pela notícia (veja a análise completa clicando aqui).

BRF (BRFS3)
Presidente do Conselho de Administração da BRF, o empresário Abilio Diniz atendeu à solicitação dos fundos de pensão Petros e Previ e convocou para o próximo dia 5 de março reunião do Conselho em que debaterá a sua destituição. Os fundos, que possuem fatia de cerca de 22% na empresa, haviam solicitado a dissolução de todo o conselho de administração após a divulgação do pior resultado da sua história, com prejuízo superando R$ 1 bilhão em 2017 (veja mais clicando aqui).

Fibria (FIBR3)
Fibria e Suzano têm ocupado o noticiário por conta de rumores sobre uma fusão entre elas, que teria a Suzano como controladora ao fim do processo. No entanto, o jornal O Estado de S. Paulo ventilou que outras quatro gigantes estrangeiras estariam interessadas na Fibria: as asiáticas April Asia e Paper Excelence (que recentemente adquiriu a brasileira Eldorado), a chilena CMPC e a finlandesa UPM. Para o UBS, o melhor cenário seria uma união com os estrangeiros do que uma fusão tupiniquim, e aponta três motivos para isso (clique aqui e confira).

Noticiário Político
A semana foi mais tranquila no cenário político, sem grandes movimentações em Brasília. Diante disso, um dos temas que ficou em evidência foi a sucessão de Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda diante da possibilidade do lançamento de sua candidatura à presidência. Pela legislação eleitoral, para estar apto a participar do pleito como candidato, o economista precisa deixar o cargo que hoje ocupa até o começo de abril.

Com isso, dois nomes ganharam força nos balcões de apostas: de um lado, aparece o secretário-executivo da Fazenda, Eduardo Guardia, atual número dois na pasta; do outro, o ministro do Orçamento, Planejamento e Gestão, Dyogo Oliveira. E mesmo que a reforma da Previdência tenha sido deixada para depois, outras importantes pautas precisarão ser discutidas, e o governo precisará mostrar (confira a análise completa clicando aqui).

Especiais InfoMoney

Carteira InfoMoney – carteira ganhou 2,65% em fevereiro, conta alta de apenas 0,52% do Ibovespa, sendo que 5 ações recomendadas pelo InfoMoney saltaram mais de 7% (confira o portfólio e o desempnho completo clicando aqui).

“Bê-a-Bá da Bolsa” – Thiago Salomão, analista responsável pela Carteira InfoMoney, mostra como é possível começar a investir na Bolsa com um portfólio de menos R$ 200 mensais (veja a análise aqui).

Novo rali do Bitcoin – especialista aponta que, apesar dos preços do Bitcoin estarem estáveis nas últimas semanas, motivos não faltam para ocorra um novo rali. Confira a matéria aqui.

Programa “Mundo Bitcoin” – “Todo mundo deveria ter pelo menos 1% aplicado em criptomoedas”, diz professor de Finanças. Confira o programa completo clicando aqui.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.