Na sombra da crise russa, Deutsche vê queda da China e das ações emergentes em 2014

"Se estou errado a respeito da China, eu estou errado sobre tudo", disse estrategista global de ações de mercados emergentes do banco, que prevê queda de 10% das ações dos mercados emergentes em 2014

Paula Barra

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SÃO PAULO – Passada a avalanche otimista de semanas atrás, quando bancos como Goldman Sachs, Morgan Stanley, Credit Suisse e Jefferies Group indicavam para um corrida altista maciça e de vários anos por ações chinesas, o Deutsche Bank, que também aparecia na lista, vem agora com uma abordagem um pouco mais “nebulosa” para o gigante asiático. 

John-Paul Smith, estrategista global de ações de mercados emergentes do Deutsche com sede em Frankfurt, alerta sobre alguns dos mesmos sinais de crise financeira que levaram a prever, em 1998, com meses de antecedência, a quebra do mercado de ações da Rússia. A visão mais cautelosa veio depois que o economista-chefe do banco para a Ásia, Taigur Baig, comentou, em programa da rede norte-americana CNBC, que aposta numa expansão chinesa de 8,6% no ano que vem, muito acima do consenso de mercado de 7,5%. Uma expectativa que fez com que a âncora do programa brincasse sobre “o que [os analistas do Deutsche Bank] estariam fumando para uma previsão estar tão acima do consenso”.

Agora, Smith aparece mostrando um pessimismo crescente com o país. “Há potencial para uma armadilha de dívida em empresas industriais que pode desencadear uma crise financeira em toda a economia já no ano que vem”, disse em entrevista à Bloomberg poucos dias antes de emitir um relatório prevendo que a desaceleração da China levará a uma queda de 10% das ações dos mercados emergentes em 2014. “Se estou errado a respeito da China, eu estou errado sobre tudo”.

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Segundo ele, o crescimento da China está sendo impulsionado pelo crescente endividamento das empresas, um modelo de alto risco que precisa ser substituído pelos tipos de medidas de livre mercado e cortes de orçamento que alimentaram o crescimento da Rússia após a moratória do país e na subsequente queda mensal de 44% do índice Micex.

A posição de 2013 de Smith em relação a uma queda de pelo menos 10% nas ações de países em desenvolvimento se mostrou premonitória. O índice MSCI Emerging-Markets escorregou 6,3%, ficando atrás da recuperação de 22% do indicador MSCI de mercados desenvolvidos. O índice Shanghai Composite, o medidor de referência para ações da segunda maior economia do mundo, perdeu 7,9% e caminha para sua terceira queda anual em quatro anos.

Para Smith, a prova de qual caminho a China trilhará nos próximos anos está na maneira que o país implementar medidas como incentivo ao investimento privado em indústrias estatais, aceleração da conversibilidade da moeda e a liberalização das taxas de juros. “Será interessante ver se eles realmente pretendem trilhar o mesmo caminho de uma ‘dura economia liberal estatal’ pelo qual a Rússia passou de 1999 até o outono de 2003. Até aqui, não há indicação de que eles estejam preparados”, disse. E complementou: “a China não é o paraíso seguro no qual a maioria dos comentaristas de mercado parece acreditar”.