Após se afastar de EUA e aliados Europeus, Rússia busca “negócio da China”

A delegação russa quer assinar um contrato de 30 anos para fornecer 20% de suas vendas para a Europa e construir seu primeiro gasoduto até a China

Bloomberg

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Prestes a receber Vladimir Putin em Xangai, a China, que dependia de ajuda soviética na época de Joseph Stalin e Mao Tsé-Tung, inverteu os papéis com sua vizinha.

O líder russo começa hoje uma visita de dois dias à China buscando fechar um acordo de fornecimento de gás natural para a segunda maior economia do mundo. A negociação está em andamento há mais de uma década por um desentendimento a respeito do preço. O contrato está “quase finalizado”, disse Putin à imprensa chinesa em entrevista publicada ontem.

Putin busca estreitar laços com a China no momento em que o conflito na Ucrânia o afasta dos EUA e seus aliados europeus.

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A China se tornou a maior parceira de negócios da Rússia depois que o volume de recursos na corrente de comércio se multiplicou por sete na última década e atingiu US$ 94 bilhões no ano passado. A relação entre os dois países está se tornando ainda mais importante porque um número crescente de sanções ameaça colocar a economia russa em recessão.

“À medida que as relações da Rússia com o Ocidente pioram, seus laços com a China precisarão se tornar mais fortes”, disse Dmitri Trenin, diretor da Carnegie Moscow Center, por e-mail. “Pequim, e não Moscou, será a grande força”.

Essa inversão de papéis é ressaltada pela disparidade do desenvolvimento econômico de ambos os países ao longo dos últimos 35 anos. Em 1979, quando Deng Xiaoping iniciou uma reformulação econômica, a produção da China equivalia a 40% do total da produção da República Soviética Russa – a Federação Russa dos dias atuais, segundo um estudo publicado neste ano pelo Centro para Reforma Europeia. Em 2010, a economia da China havia se tornado quatro vezes maior que a da Rússia, disse a instituição.

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Rússia e China, duas das cinco potências nucleares com poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, já cooperam entre si no cenário mundial, muitas vezes unindo forças para conter o que veem como uma dominância dos EUA.

Os países “precisam um do outro mais que o normal”, já que a China também está envolvida em debates internacionais, incluindo o conflito a respeito de águas em disputa no Mar da China Meridional, disse Li Lifan, vice-diretor do Centro de Estudos sobre a Rússia e a Ásia Central da Academia de Ciências Sociais de Xangai.

Foco no gás
A delegação russa, que inclui diretores da OAO Gazprom e da OAO Rosneft, as empresas estatais de gás e petróleo, quer assinar um contrato de 30 anos para fornecer 38 bilhões de metros cúbicos de gás por ano, ou 20% de suas vendas para a Europa, e pavimentar o caminho para construir seu primeiro gasoduto até a China.

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A Rússia abriu um oleoduto até a China em 2011 e Moscou quer fechar um acordo para fornecer também 100 milhões de toneladas de petróleo bruto em 10 anos. O primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, avaliou o potencial fornecimento em US$ 85 bilhões. A Gazprom pode fechar um acordo para enviar 1,14 trilhão de metros cúbicos de gás para a China em 30 anos por US$ 350 cada 1.000 metros cúbicos, reportou ontem o jornal Izvestia, citando pessoas não identificadas.

A Rússia, cuja região do extremo oriente, rica em petróleo e de população escassa, limita com o país de 1,3 bilhão de habitantes, não tem outra escolha: precisa se aproximar da China, disse Vladimir Portyakov, vice-diretor do Instituto de Estudos do Extremo Oriente da Academia Russa de Ciências.

“Até pouco tempo atrás, a Rússia mostrava que não estava pronta para se aproximar da China: havia uma forte elite pró-Ocidente fazendo lobby contra isso”, disse Portyakov. “Mas agora eles deram a mão à palmatória”.